quarta-feira, 6 de outubro de 2010

São Bruno, Fundador dos Cartuxos

Olhando para trás e fazendo a comparação com os nossos dias, os nossos ritmos e ruídos, não deixa de surgir esta questão: Que mundo, que ruídos, que ritmos levaram aqueles homens medievais a procurarem o silêncio, o refugio em lugares desertos, ritmos de vida tão sincronizados que hoje mesmo nos assustam, ainda que, mais do que nunca, sejamos escravos de um tempo totalmente contabilizado.
São Bruno, natural de Colónia, onde nasceu por volta de 1035, educado em Paris e com uma carreira promissora de eclesiástico, abandona tudo e todos para se refugiar num lugar isolado, onde o silêncio não se nota e o tempo parece que desapareceu, tão domesticados estão pela austeridade e disciplina de vida.
Não foi um refúgio prolongado porque muito prontamente Roma e o Papa Urbano II o convocam para ajudar na resolução dos problemas difíceis que a Igreja enfrenta. Parece que, e como diz São Bruno numa carta aos seus cartuxos, “são muitos os que desejam ir para lá, para esse lugar tranquilo e seguro, são muitos os que se empenham com algum esforço em atingi-lo, mas não o conseguem, são muitos também aqueles que depois de o terem alcançado são excluídos porque a nenhum deles o céu concede tal graça. Pelo que, quem tenha gozado de tal bem e o tenha perdido por qualquer circunstância há-de lamentar-se até ao fim, se de facto sentir alguma preocupação e interesse pela salvação da sua alma”.
São Bruno lamentava-se do que tinha perdido, ou lhe tinha sido inviabilizado pelas necessidades dos homens e da Igreja, mas alegrava-se e dava graças pelo conjunto dos irmãos que observavam a disciplina com inflexível rigor, com zelo infatigável e um ideal de santidade e perfeição incomparável.
Neste dia em que a Igreja celebra a sua memória recordamos o quanto nos falta de silêncio, e de disciplina e zelo para o alcançarmos.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto que hoje partilha connosco no dia em que a Igreja celebra a memória de São Bruno, Fundador dos Cartuxos, ciente do respeito que tenho pela diversidade de escolhas, faz-me regressar a algumas das minhas reflexões/interrogações não só sobre as razões subjacentes a certas escolhas na vida religiosa em que o “silêncio” (escolhido??), o “isolamento” impera e outra forma de busca, de ser discípulo de Jesus, de dar testemunho, no meio e ao serviço da humanidade em que a fidelidade a Deus, a possibilidade de ter “silêncio, disciplina e zelo” para atingir um “ideal de perfeição” é muito mais difícil. Continuarei sempre a interrogar-me sem ter para mim própria uma resposta sem hesitações. É interessante notar que São Bruno foi chamado ...” para ajudar na resolução dos problemas difíceis que a Igreja enfrenta.”…
    A questão que coloca é importante, sem resposta: ...” Que mundo, que ruídos, que ritmos levaram aqueles homens medievais a procurarem o silêncio, o refúgio em lugares desertos, ritmos de vida tão sincronizados que hoje mesmo nos assustam, ainda que, mais do que nunca, sejamos escravos de um tempo totalmente contabilizado.”…
    Que diferença Frei José Carlos, entre o silêncio escolhido, aceite e que é uma benção do céu para os que o souberam abraçar e o silêncio forçado e “não aceite” vivido cada vez mais por muitos dos nossos semelhantes, pelo nosso egoísmo, pela nossa indiferença, pelo ritmo da vida em que vivemos.
    Que Jesus nos ilumine nas escolhas que fazemos ao longo do percurso da “Caminhada”.
    Obrigada pela partilha e pela forma como a expôs. Levou-me a reflectir sobre algumas das questões sem resposta que venho colocando ao longo da minha “Caminhada”.
    Bem haja, Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno, MJS

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