quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Jesus passou a noite em oração ((Lc 6,12)

Jesus subiu ao monte e passou a noite em oração. Ao amanhecer chamou os discípulos e escolheu os doze.
Podemos imaginar o que foi esta noite de oração para Jesus, como foi difícil, certamente angustiante como a do jardim do Getsémani, ainda que abissalmente diferente. Podemos imaginar, porque na sua intimidade com o Pai e conhecendo o coração de cada um daqueles que andava com ele, sabia o risco que ia correr, sabia como lançava tudo nas mãos de um conjunto de homens que pouco sabiam e tinham expectativas completamente opostas às suas. Ele sabia o seu caminho, o fim que o esperava, e os esperava também a eles, mas eles sonhavam ainda com poder e glória, com um reino de magnificência.
Poderia entregar tudo nas mãos deles, poderia confiar nas suas fraquezas, saberiam eles compreender tudo o que estava em jogo? Quanta incerteza, mas também quanta confiança, quanto amor e quanto assumir da encarnação da vontade do Pai, quanto deixar liberdade para que pudessem fazer as coisas com amor, livremente mas conformes à convicção.
Depois da oração Jesus chamou-os e escolheu-os, sabia o que cada um tinha de potencial para o bem e para o mal, para a fidelidade e a traição. Sabia que o acompanhariam, que até retirariam a espada para o defender, mas também que perante o desabar das expectativas o deixariam abandonado.
Não poderia ser esse abandono um momento de conversão, um momento de confronto com a falsidade das expectativas acalentadas? Não seria afinal esse momento de fraqueza o ponto de encontro com a força de Deus, o ponto de viragem sobre as suas vontades para a vontade do Pai?
A oração de Jesus, e de modo particular a desta noite, deve levar a confrontar-nos com a nossa própria oração, com a nossa oração opaca, procurando descortinar o quanto ela é feita de aceitação da vontade do Pai, o quanto ela é ou deve ser mais forte e intensa quando rezamos pelas causas sem sentido e sem razão, por aquilo que nos desconcerta e até nos faz vacilar na nossa fé.
A oração de Jesus deve levar-nos à entrega, a essa aceitação de que na fraqueza e na impotência Deus se nos revela e transforma. Deus vem quando lhe abrimos as mãos e os braços e dizemos “tudo está nas tuas mãos aceita o meu espírito inquieto”.

2 comentários:

  1. Boa noite Frei José Carlos,
    Avaliadas as fraquezas do dia que fenece, que belo apelo à conversão, quanta paz inspiram as palavras de encontro com Deus, "tudo está nas tuas mãos aceita o meu espírito inquieto".
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    As partilhas do Frei José Carlos nunca nos deixam indiferentes, não importa os”porquês”, o que ficou por dizer, e que à nossa maneira tentamos interpretar, dar seguimento às palavras que escreveu.
    Sinto-me espelhada no penúltimo parágrafo que escreveu, quando ao longo do calendário do tempo cujas páginas vou virando, e face aos acontecimentos que mais dificuldade tenho em compreender, aceitar, sinto-me vacilar na fé, perguntando a Deus como foi possível, tentando aceitar que a lógica de Deus é diferente da lógica humana.
    O desafio que nos deixa, deve servir-nos como um referencial diariamente ...” A oração de Jesus, e de modo particular a desta noite, deve levar a confrontar-nos com a nossa própria oração, com a nossa oração opaca, procurando descortinar o quanto ela é feita de aceitação da vontade do Pai, o quanto ela é ou deve ser mais forte e intensa quando rezamos pelas causas sem sentido e sem razão, por aquilo que nos desconcerta e até nos faz vacilar na nossa fé.”
    Permita-me que faça minhas as palavras com que encerra esta bela Meditação …”Deus vem quando lhe abrimos as mãos e os braços e dizemos “tudo está nas tuas mãos aceita o meu espírito inquieto”.”
    Muito obrigada pela partilha, Frei José Carlos. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    MJS

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