segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Jesus cura a mulher ao sábado (Lc 13,10-17)

Era um dia normal de sábado e Jesus encontra-se na sinagoga, como todo o bom judeu. Aparece por lá uma mulher curvada por um espírito do mal havia dezoito anos. Jesus vê-a e enche-se de compaixão e sem que a mulher lhe faça qualquer pedido decide libertá-la do mal que a oprime. Ela não pede, ela não exige, ela nem sequer tem qualquer sinal de atenção para com ele, que é apenas mais um no meio do grupo daqueles que se reuniu para guardar o sábado.
E nesta indiferença, nesta distância que os separa, Jesus cura-a, primeiro através da palavra da libertação, “mulher estás livre da tua enfermidade” e depois pelo gesto da imposição das mãos. A palavra criadora e salvadora precede o gesto redentor. Jesus vê a mulher reduzida na sua liberdade de filha de Deus e na sua dignidade de membro do povo de Deus e não pode passar ao lado, não pode fechar os olhos àquela injustiça.
E esta atenção de Jesus é ainda mais premente, na medida do próprio dia em que se encontram, desse sábado guardado através do descanso obrigatório como memória da obra da criação e da libertação. Para o povo de Israel o sábado faz a memória semanal da libertação da escravidão do Egipto. Que melhor momento poderia haver para curar aquela mulher, para a libertar do seu mal?
No entanto os outros, os cumpridores do sábado, esquecidos já da razão da observância a que se votam, condenam a atitude de Jesus, o gesto de libertação. “Há seis dias para trabalhar, portanto vinde curar-vos nesses dias e não no dia de sábado”. Como estão equivocados, como estão vazios do sentido verdadeiro daquilo que vivem e cumprem escrupulosamente.
Jesus coloca-os face à incoerência das suas vidas e dos seus comportamentos e mostra-lhes como o sábado é um momento de libertação, existe para a libertação do homem. O sábado é o sinal, o dia memorável, do desejo de Deus de que todos os homens sejam livres, livres de qualquer opressão e escravidão, mas sobretudo de qualquer pecado.
Regressados de um fim-de-semana, ao iniciarmos uma semana de trabalho, devemos interrogar-nos sobre a libertação que experimentámos no dia de descanso, como vivemos o dia do Senhor e fizemos memória da libertação de que fomos objecto, para que estes dias de trabalho possam ser também operação libertadora enquanto momentos e oportunidades para construirmos um mundo melhor, o Reino de Deus entre nós.

2 comentários:

  1. Boa noite Frei José Carlos,
    "...como vivemos o dia do Senhor e fizemos memória da libertação de que fomos objecto, para que estes dias de trabalho possam ser também operação libertadora enquanto momentos e oportunidades para construirmos um mundo melhor, o Reino de Deus entre nós."
    Acompanha-me esta reflexão a propósito do Evangelho de hoje pelo acordar da minha consciência, pelo relembrar dos meus deveres de cristã, enfim pelo gratificante alimento espiritual da palavra.
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    A leitura do texto que hoje partilha connosco a propósito do Evangelho de Lc 13, 10-17 que li e reli levou-me a cruzar as mãos no final das duas leituras que fiz e ficar a reflectir durante alguns minutos, interrogando-me sobre o que fiz e faço de tantos dias de guarda pelas mais diversas razões, mas frequentemente, pelo peso das responsabilidades, em que não dei, não dou o espaço necessário à vida espiritual, à família, aos amigos, etc. Em que inicio a semana, já vencida, para os desafios que me esperam.
    A questão que nos coloca é intemporal, mas assume maior importância no quadro de vida que levamos nas últimas décadas ...” Regressados de um fim-de-semana, ao iniciarmos uma semana de trabalho, devemos interrogar-nos sobre a libertação que experimentámos no dia de descanso, como vivemos o dia do Senhor e fizemos memória da libertação de que fomos objecto, para que estes dias de trabalho possam ser também operação libertadora enquanto momentos e oportunidades para construirmos um mundo melhor, o Reino de Deus entre nós.”
    Obrigada por nos colocar estes alertas (sem cor!), importantes, que nos interrogam e que nos ajudam de muitas formas a melhorar a participação na construção do “Reino de Deus entre nós”.
    Bem haja Frei José Carlos. Um abraço fraterno
    MJS
    P.S. Nas actividades em que participei este fim de semana (“Rezar os Salmos”, curso dado pelo monge e biblista Luciano Manicardi, do Convento de Bose, promovido pela Fundação Betânia), tive oportunidade de aferir o muito que tenho aprendido convosco, particularmente, nas Meditações, nas Homílias, na Espiritualidade em geral. Que bom ter podido fazer essa experiência e, posteriormente, poder falar com alguns amigos e amigas da mesma e, ao mesmo tempo, falar de vós, Dominicanos. Estou certa que muitos cristãos vos dão testemunho presencial ou cibernético desta aprendizagem, desta elevação espiritual. MJS

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