segunda-feira, 14 de março de 2011

Carta do Mestre da Ordem Balthassar de Quiñones ao Provincial frei José da Rocha

Roma, 9 de Julho de 1778
M.R.P.M. Provincial Saúde:
Tendo em consideração a apreciável e gostosa carta que V. P. M. R. me dirigiu o dia 9 de Junho por intermédio do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Núncio de sua Santidade em que depois de me referir algumas das muitas ocorrências passadas, justamente alvoroçado me participa que essa devota e incomparável Soberana se serviu de alçar a mão, e de conceder licença para que se recorra a mim de aqui em diante segundo se recorria antes de agora aos Gerais meus antecessores, recebo a V. P com os braços abertos, e abraçando-o carinhosamente como a um bom filho que depois de tanto tempo volta ao seio de seu amoroso pai, e tão carinhosamente que quase não posso conter as lágrimas de ternura, e lhe asseguro que me deixa cheio de edificação e de consolo, e louvando as misericórdias de Deus ao considerar que ao cabo dos rogos do nosso Grande Patriarca Santo Domingo de Guzman e a impulsos do piedoso coração da Rainha Fidelíssima há visto a Ordem em meus dias reintegrada sua unidade, e reunida à sua cabeça una Província que sempre lhe tem acarretado tanto esplendor, e tanta glória, e que apesar das ocorrências passadas havia de todavia ter semelhante Mãe, e logo que se lhe permite põe o pescoço sob o suave jugo da dependência de seu Geral. Assim que nos alegremos mutuamente e procuremos corresponder a este altíssimo benefício, fazendo ver ao mundo a nossa justa alegria, nossa devida gratidão, e nossa inviolável lealdade.
No tocante a V. P., viva inteiramente seguro de que tem em mim um Pai que o conta entre os seus melhores filhos, e que não perderá ocasião de manifestar que lhe ama, e ainda que o distingue, como o creditará a experiência.
Abençoe V. P. em meu nome a todos esses Religiosos, e diga-lhes que ainda que por outra parte não mereço ocupar o alto lugar que ocupo estejam certos de que pelo menos sou homem de recta intenção, e um superior que jamais se vale da força até haver apurado todos os meios de brandura, e feito conhecer que quer mais ser amado, que temido, e que só em casos de extrema necessidade desembainha a espada da autoridade de seu Oficio; mas que ainda então se recorda da imensa diferença que há entre os filhos e entre os escravos, e de que quem há-de ganhar as vontades não lhe convém que as aperte demasiado.
Faça-me V. P. o gosto de levar essa carta ao Ilustríssimo Senhor Bispo Confessor na qual dou muitas graças a sua Senhoria Ilustríssima pela parte que tomou a nosso favor, e lhe incluo outra para Sua Majestade respeitosamente escrita por este mesmo efeito, rogando-lhe que se sirva de entregá-la. Acerca dos livros que V. P. me pede, ainda que andamos escassos à causa de que estes anos tem ido devagar o Vigário em os imprimir vendo que se havia reduzido por todas as partes o número de frades e de monjas, procurarei prover a V. P. de alguns; mas queria que me avisasse por qual via se lhe hão-de enviar, e se ficaram aí alguns das remessas anteriores, e quais são os que fazem mais falta.
Respondo também à boa da Madre Priora do nosso Mosteiro do Sacramento, que me há escrito, e a quem deve V. P. agradecimentos, que certamente me confirmam mais e mais no vantajoso conceito que eu formei da honradez de Vossa Paternidade.
Desejo, etc…
Frei Balthassar de Quiñones, M.O.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse o texto que publicou sobre a História da Província, ocorrida no último quartel do século XVIII.
    Após leitura atenta, apreciei as palavras que o Mestre da Ordem, Frei Balthassar de Quiñones dirige ao Provincial Frei José da Rocha. São palavras amistosas, de afecto, de satisfação por poder desempenhar o papel que outros antecessores tiveram, por poder viver a unidade da Ordem dos Dominicanos (está correcta a minha interpretação, Frei José Carlos?). Obrigada pela partilha, por dar-nos a conhecer um pouco mais da história dos frades dominicanos. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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