Nunca o silêncio nos custou tanto como hoje e no entanto nunca as palavras foram tão vazias de sentido e de verdade como hoje. Parece que a ausência de silêncio esvaziou a palavra de conteúdo, de força e vida.
Tanta palavra proferida, tanta palavra a ser seguida, a manietar-nos na nossa presumida liberdade de expressão, são os senhores da palavra, os média e as notícias de última hora, o mural do Facebook e as mensagens a custo zero. E de tudo, ou quase tudo, um vazio, uma poeira que o vento das palavras seguintes já fez desaparecer.
Contudo, foi pela Palavra que tudo foi criado, foi pela incarnação da Palavra que tivemos acesso à filiação divina, à possibilidade da divinização. Sempre pela Palavra.
Portanto, das palavras prestaremos contas, das palavras ditas e não ditas, das palavras que ferem e matam e daquelas que curam e salvam. Toda a palavra tem um peso e Deus contabiliza esse peso, pelo que não estranha que nos diga que as nossas palavras nos justificarão ou nos condenarão.
Assim sendo, e neste sentido, não é de estranhar que Santo Éfrem peça a Deus que o livre das palavras vãs, dessa utilização supérflua das palavras e do seu poder, porque a palavra pode dar vida mas também pode dar a morte. E quantas mortes provocadas pela palavra inoportuna.
A Quaresma é assim também a oportunidade para recolhermos a nossa palavra, para a pesarmos no seu valor de verdade e justiça, vivente e vivificante, e para a confrontarmos com a Palavra primordial e derradeira que julgará todas as nossas palavras. O silêncio que fizermos certamente nos ajudará em tal tarefa.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por nos recordar que ...” foi pela Palavra que tudo foi criado, foi pela incarnação da Palavra que tivemos acesso à filiação divina, à possibilidade da divinização. Sempre pela Palavra.”
E hoje , …” tanta palavra proferida … E de tudo, ou quase tudo, um vazio, uma poeira que o vento das palavras seguintes já fez desaparecer,” como tão bem nos afirma no texto que connosco partilha.
Que nos períodos de silêncio que fizermos na Quaresma possamos meditar nas Palavras de Jesus, nas palavras que proferimos, algumas vezes, pouco reflectidas, ou como armas de arremesso, que ferem psicologicamente, para as dignificarmos.
Obrigada pela partilha. Bem haja.
Um abraço fraterno
Maria José Silva