segunda-feira, 21 de março de 2011

Perdoai e sereis perdoados (Lc 6,37)

Todos os dias chocamos com estas palavras de Jesus e com a dificuldade em lhes ser fiéis. Todos os dias nos damos conta que deixamos muita coisa por perdoar e ainda assim esperamos o perdão, dos outros e de Deus. Todos os dias nos confrontamos com a nossa miséria e a nossa infidelidade e a incapacidade de dar um passo em frente, de perdoar para podermos receber o perdão.
E Jesus é muito claro naquilo que nos diz, não só no equilibro mútuo do perdão dado e do perdão recebido, mas sobretudo e ainda mais nos frutos, para não dizer na recompensa ou compensação, resultante desse perdão dado gratuita e generosamente. De facto, Jesus não deixa de alguma forma de nos aliciar a este perdão, de nos motivar, quando nos diz que a medida que usarmos será a medida que será usada connosco, uma medida bem medida, calcada, transbordante, afinal uma medida que ultrapassa a que tivermos utilizado porque transborda o cálculo enquanto que a nossa é sempre limitada e calculada.
E isto acontece porque no perdão, ou na nossa incapacidade para o perdão, fazemos de facto cálculos, avaliamos a gravidade da ofensa, o desprestígio que sofremos e a nossa vaidade ofendida. Avaliamos o mal sofrido ou infligido segundo os nossos critérios humanos, tantas vezes egocêntricos e avassaladores do outro e das coisas que nos rodeiam.
A proposta de Jesus ultrapassa esta avaliação, não tem sequer em conta a relação face à atitude do outro e muito menos se rege por uma escala do ideal, do perfeito; é a partir de Deus e da medida de Deus que o perdão deve funcionar, que o perdão se deve exercitar. E assim encontramo-nos com esse pedido de sermos misericordiosos como Deus é misericordioso, de nos deixarmos conduzir pela misericórdia de Deus na avaliação que possamos fazer das faltas do outro e do perdão que podemos oferecer ou receber.
Não é fácil, nunca o foi e jamais o será, porque o nosso amor-próprio nos cega mais vezes do que nos ilumina nas nossas misérias e infidelidades, na nossa necessidade de sermos também perdoados. Pelo que necessitamos que a Luz do Senhor venha até nós, nos ilumine nas nossas trevas e nos conceda a graça de reconhecermos as nossas culpas e as nossas faltas e o perdão que nos faz falta. Iluminai-nos Senhor na vossa misericórdia.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada pela corajosa e profunda Meditação que partilha connosco. É um espelho de muitos de nós, leva-nos a um exame de consciência, reflecte bem as nossas dificuldades, a nossa incapacidade em perdoar “muita coisa”, quando esperamos o “perdão dos outros e de Deus”.
    E passo a transcrever alguns excertos que escreveu e que me tocam particularmente. ... “Jesus não deixa de alguma forma de nos aliciar a este perdão, de nos motivar, quando nos diz que a medida que usarmos será a medida que será usada connosco, uma medida bem medida, calcada, transbordante, afinal uma medida que ultrapassa a que tivermos utilizado porque transborda o cálculo enquanto que a nossa é sempre limitada e calculada.
    E isto acontece porque no perdão, ou na nossa incapacidade para o perdão, fazemos de facto cálculos, avaliamos a gravidade da ofensa, o desprestígio que sofremos e a nossa vaidade ofendida. Avaliamos o mal sofrido ou infligido segundo os nossos critérios humanos, tantas vezes egocêntricos e avassaladores do outro e das coisas que nos rodeiam.”
    Saber perdoar não significa ignorar o mal que nos é infligido mas não nos deve levar a um julgamento de condenação.
    E como o Frei José Carlos nos diz, não é fácil perdoar, ..., e “é a partir de Deus e da medida de Deus que o perdão deve funcionar, que o perdão se deve exercitar.”
    Olhar o mundo de hoje, começando por este pequeno rectângulo aonde habitamos, aonde todos os ingredientes se misturam ( o ódio, a violência, a sede de vingança, a falta de respeito à vida e à dignidade do homem, etc), conduz-nos a implorar a graça da misericórdia de Deus para que a paz volte aos espíritos, para que haja justiça.
    Peçamos ao Senhor que nos ilumine e no nosso processo de transformação nos dê um coração generoso e sincero para sermos misericordiosos com os outros como Deus é misericordioso com todos.
    Estou grata por esta partilha que ilustrou de forma tão expressiva, com um gesto, um passo, por vezes, tão belo e tão difícil de dar. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Muito grata por esta maravilhosa partilha,tão bem ilustrada,que nos ajuda a reflectir mais profundamente,neste tempo de preparação quaresmal.Pois como nos diz o texto é a partir de Deus e da medida de Deus que o perdão deve funcionar.Verdade.Portanto necessitamos que a Luz do Senhor venha até nós,nos ilumine para reconhecermos as nossas culpas e as nossas misérias e infidelidades.
    Frei José Carlos,obrigada por todos os textos que nos tem proposto para meditação diária.Pelas belas ilustrações,que nos ajudam muito no nosso dia a dia.Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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