A história que Jesus conta aos fariseus do rico e do pobre Lázaro, que enquanto vivos partilharam realidades diferentes, opostas pelo abismo da falta de fraternidade, e depois de mortos partilham também eles diferentes realidades eternas, seria um óptimo ponto de partida para pensar os chamados “Novíssimos do Homem”, a morte, o juízo, o inferno e o paraíso.
Contudo, a parábola que Jesus conta aos fariseus tem algo mais significativo, algo que nos implica agora nesta vida, e que terá as suas consequências em termos de eternidade, e portanto em termos de novíssimos do homem. Mas como é aqui, e agora que quase tudo se joga é importante que não percamos a oportunidade que Deus nos oferece.
Assim, quando o homem rico, sem nome e sem pátria, portanto podendo ser cada um de nós, pede a Abraão que seja permitido a Lazaro avisar os irmãos do que os espera se não mudarem de vida, a resposta dada é que esses irmãos têm a palavra dos Profetas e de Moisés, e que não será um ressuscitado que os fará mudar de vida.
É uma resposta que parece ter já em conta a incredulidade dos judeus face à ressurreição de Jesus, e que parece desvalorizar a ressurreição, mas mais importante que esse pormenor, digamos, histórico, ou a desvalorização subjacente, o que nos deve chamar a atenção é a natureza e a importância dada à palavra.
De facto, é pela palavra que nos chega a revelação, é também pela palavra que nos é transmitida a boa nova da ressurreição de Jesus, é o Verbo do Pai que se fez um de nós no homem Jesus, e portanto, se não dermos crédito à palavra tudo o mais não nos pode modificar na nossa relação com Deus.
Muitas vezes pensamos que seríamos diferentes, seríamos mais fiéis, seríamos melhores cristãos, mais convictos e mais empenhados, se Jesus se nos revelasse, se nos aparecesse como apareceu aos discípulos depois da ressurreição. É um pensamento ilusório e até uma certa tentação demoníaca porque concebemos Deus e a sua acção como algo de mágico, instantâneo, em que prescindimos da nossa responsabilidade e liberdade e deixamos a Deus todo o poder de intervenção e alteração.
E contudo, Deus não prescinde de nós, nem da nossa liberdade e responsabilidade, e vem ao nosso encontro em cada momento em que nos dispomos a escutá-lo, a abrir-nos à sua palavra. E se por alguma circunstância se revela de uma forma mais intensa, particular, é porque estamos mais atentos e porque a nossa vida se aproxima e conforma cada vez mais com os seus ensinamentos, e porque habita em nós um desejo mais intenso dele mesmo e do seu amor.
Cabe-nos assim a tarefa de estar atentos, de procurar escutar a sua palavra, e mais que pedir revelações especiais procurar o dom da fidelidade e da conformidade à sua palavra de vida e vivificante.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada pela partilha do texto da Meditação que ilustrou de forma tão expressiva, ciente que a parábola (Lc 16,31) que Jesus conta aos fariseus do rico e do pobre tem um significado mais amplo. Porém, como nos afirma ...” é aqui, e agora que quase tudo se joga”… (…) e …” é pela palavra que nos chega a revelação, é também pela palavra que nos é transmitida a boa nova da ressurreição de Jesus, é o Verbo do Pai que se fez um de nós no homem Jesus, e portanto, se não dermos crédito à palavra tudo o mais não nos pode modificar na nossa relação com Deus.”
Que importante salientar-nos e continuo a citá-lo que …” Deus não prescinde de nós, nem da nossa liberdade e responsabilidade, e vem ao nosso encontro em cada momento em que nos dispomos a escutá-lo, a abrir-nos à sua palavra. E se por alguma circunstância se revela de uma forma mais intensa, particular, é porque estamos mais atentos e porque a nossa vida se aproxima e conforma cada vez mais com os seus ensinamentos, e porque habita em nós um desejo mais intenso dele mesmo e do seu amor.”…
Saibamos estar vigilantes e ouvir a Deus, “sabendo frutificar a oportunidade que Deus nos dá”, vivendo o nosso quotidiano com um sentido de justiça, amor e solidariedade para com o nosso próximo.
Bem haja Frei José Carlos.
Um abraço fraterno
Maria José Silva