quarta-feira, 9 de março de 2011

Livra-nos Senhor do espírito de tristeza

O segundo espírito de que pedimos a libertação na Oração de Santo Éfrem para a Quaresma é o da tristeza, a libertação desse sentido de abatimento que tantas vezes nos alcança e que não sabemos nem explicar nem qual a sua origem.
Contudo, quando nos damos conta do vazio da nossa vida, do peso do sem sentido, conseguimos perceber que essa tristeza, esse constrangimento em olhar as coisas com outros olhos, essa falta de coragem, tem uma origem, nasce e deriva desse vazio existencial.
Nos compêndios de vida espiritual esta tristeza e abatimento chama-se acédia e anda inevitavelmente associada a uma certa preguiça, a um sentimento de frustração que leva ao cruzamento dos braços, ao deixar correr até que o tempo resolva a situação.
Mas poderemos dar-nos a esse luxo? Poderemos deixar a um canto da sala essa ameaça tão constante e tão intensa, consentindo que tome no momento preciso um corpo ainda mais forte e capaz de nos lançar nas trevas mais obscuras e opacas de toda a beleza que há ao nosso redor?
Não há outra vida e certamente também não haverá outro momento para viver o que se me propicia viver aqui e agora, pelo que é necessário libertarmo-nos deste espírito, desta falta de coragem e aplicar as mãos à obra.
Ao pedirmos a Deus que nos livre do espírito de impotência, da tristeza, estamos também a pedir ao Senhor que nos conceda a coragem e a audácia de olharmos olhos nos olhos as nossas fraquezas e o nosso vazio, não para nos ficarmos a lamentar delas e da nossa incapacidade, mas para as conhecermos e reconhecermos nas suas debilidades e pontos fracos e sermos capazes de as superar, de as ultrapassar.
O tempo da Quaresma é assim um tempo de verdade e um tempo de combate, um tempo de nos aplicarmos a nos superarmos, a ser audaciosos connosco próprios. E como em todo o combate há armas, neste caso elas são o jejum, a penitência, a oração e a partilha com o outro necessitado. Elas mostram-nos os nossos limites na fraqueza e na força, espelham-nos na verdade do que somos.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como bem afirma ... “quando nos damos conta do vazio da nossa vida, do peso do sem sentido, conseguimos perceber que essa tristeza, esse constrangimento em olhar as coisas com outros olhos, essa falta de coragem, tem uma origem, nasce e deriva desse vazio existencial.”
    É necessário travar uma luta connosco próprios, um combate, como lhe chamou, que começa por uma análise introspectiva, e pela vontade de modificar a nossa forma de pensar e de estar, por transformar a nossa mente, o nosso interior, o nosso coração, com a ajuda de Deus.
    Como nos exorta, …”Ao pedirmos a Deus que nos livre do espírito de impotência, da tristeza, estamos também a pedir ao Senhor que nos conceda a coragem e a audácia de olharmos olhos nos olhos as nossas fraquezas e o nosso vazio, não para nos ficarmos a lamentar delas e da nossa incapacidade, mas para as conhecermos e reconhecermos nas suas debilidades e pontos fracos e sermos capazes de as superar, de as ultrapassar.”
    E indica-nos um caminho neste tempo de Quaresma ...” o jejum, a penitência, a oração e a partilha com o outro necessitado” para nos ultrapassarmos e testarmos os nossos limites.
    Obrigada pela partilha da Meditação e pela força que nos transmite. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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