Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, construiu-lhe um lagar e edificou nela uma torre. Mimou-a, ou deixou-a um mimo, e quando tudo estava pronto, quando podia tirar dela todos os frutos e recuperar todo o investimento, entregou-a a alguns servidores para que tomassem conta dela. Ele necessitava ausentar-se.
Quando mais tarde o dono da vinha envia outros servos para receberem o que lhe era devido, os frutos da vinha deixada ao cuidado dos servidores, eis que estes se revoltam e se recusam a dar o que era devido.
Contudo, mais grave que esta recusa são os crimes que praticam com cada um dos servos enviados para receber os frutos devidos da vinha. Se uns são maltratados, outros são expulsos, e outros ainda são assassinados. Estes servidores não reconhecem nos outros servos aqueles que são iguais a eles, afinal outros tantos irmãos que servem o mesmo senhor como eles deviam servir.
Os servidores da vinham praticam assim, conjuntamente, um crime fratricida e uma apropriação de um bem que não lhes pertence, reivindicando-se donos de uma propriedade e com uma autonomia que não lhes pertence nem lhes é devida.
E numa escalada de violência, de desejo incontrolável de posse e senhorio, cometem com o filho do dono da vinha o maior crime, pois não só o matam, como mataram os servos, mas jogam-no fora dos muros da vinha, ou seja não têm qualquer pudor em expor o seu corpo à voragem das bestas selvagens.
Podemos ter uma ideia desta violência e da gravidade desta atitude quando pensamos na necessidade de um corpo para o luto. Se ainda hoje esta é uma questão fundamental, não só em termos psicológicos como espirituais, como não seria no tempo de Jesus!
E assim a resposta do dono da vinha não se faz esperar e assume a mesma carga de violência que os servidores usaram para com o filho. Também eles serão expulsos da vinha e a propriedade que tanto cobiçavam será dada a outros, a herança a que almejavam sem qualquer direito será entregue livremente a outros servidores colocados na vinha.
Os escribas e os príncipes dos sacerdotes perceberam que Jesus estava a falar deles e dele, e da história de violência do povo eleito para com os enviados de Deus. Para nós, a quem foi ofertada a vinha, porque o Filho do dono da vinha foi lançado fora pelos antigos servidores, coloca-se a questão de saber como estamos a administrar a herança que o Senhor nos legou, bem como a fraternidade que podemos e devemos construir entre servidores e a relação filial que o Senhor nos convida a viver na medida de co-herdeiros com o Filho.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNo texto da Meditação que partilha connosco recorda-nos uma das passagens do Evangelho segundo S.Marcos (12,1-12) na qual Jesus servindo-se de parábolas dirige-se aos escribas e aos príncipes dos sacerdotes, e como afirma estes ...” perceberam que Jesus estava a falar deles e dele, e da história de violência do povo eleito para com os enviados de Deus”.
Porém, o Frei José Carlos vai mais além, e lembra-nos a necessidade de interrogar-nos sobre que género de servidores da vinha que nos foi dada por Deus somos nós, ao dizer-nos que … “Para nós, a quem foi ofertada a vinha, porque o Filho do dono da vinha foi lançado fora pelos antigos servidores, coloca-se a questão de saber como estamos a administrar a herança que o Senhor nos legou, bem como a fraternidade que podemos e devemos construir entre servidores e a relação filial que o Senhor nos convida a viver na medida de co-herdeiros com o Filho.”
Bem haja Frei José Carlos por levar-nos a um auto-exame de consciência que nos ajuda a não descurar o caminho do aperfeiçoamente, da busca do Bem e da Verdade como seguidores consequentes das propostas de Deus na nossa vida.
Obrigada por esta profunda e importante partilha.
Um abraço fraterno
Maria José Silva