terça-feira, 8 de março de 2011

A César o que é de César e a Deus vós (Mc 12,13-17)

Era inevitável que o ataque directo feito por Jesus aos escribas e aos príncipes dos sacerdotes tivesse consequências. Eles não podiam consentir que um carpinteiro da Galileia os acusasse de assassinos dos enviados de Deus.
Contudo, como esse mesmo carpinteiro era querido pelo povo, não podiam atacar directamente, pelo menos por agora. Reuniram-se assim com os partidários de Herodes para lhe armarem uma cilada, para proporcionarem a ocasião e o motivo de uma acusação e de uma vingança.
E que melhor oportunidade para tal acusação que confrontá-lo com o tributo pago a César, com o pagamento desse imposto a que todos estavam submetidos. Se dissesse que não o deviam pagar, Jesus alinhava com o partido dos fariseus e dos príncipes, e portanto podia ser acusado pelos partidários de Herodes como sublevacionista; se dissesse que o deviam pagar, colocava-se contra o povo, e portanto podia ser acusado de colaboracionista com o opressor.
A armadilha é perversa e procura encurralar Jesus na impossibilidade de uma resposta, de uma resposta livre e independente, pois tanto a recusa como a aceitação do tributo conduzem inevitavelmente à possibilidade de uma acusação.
Conhecedor dos meandros da questão, da hipocrisia que está latente, Jesus não se deixa envolver pelos elogios feitos para disfarçar o laço estendido; e assim, face à questão colocada, solícita uma moeda, afinal o objecto fulcral da questão.
A apresentação da moeda com a esfinge de César é só por isso um sinal de falsidade, de falta de verdade, de uma duplicidade de critérios em que os acusadores são apanhados em flagrante delito. Com a representação da figura de César e a inscrição imperial a moeda representa uma outra divindade, um outro deus a que todos estavam obrigados a prestar culto.
Neste sentido, um judeu piedoso, escrupuloso com o cumprimento das suas leis não devia ser portador daquela moeda, ela representava uma idolatria. Razão pela qual nos pórticos do templo de Jerusalém havia cambistas, pois era necessário trocar este dinheiro idolátrico por dinheiro legal e admissível no templo.
Revelada a falsidade e a hipocrisia daqueles que tinham vindo ter com ele, Jesus aproveita para lhes ensinar o verdadeiro sentido da resposta a dar, ou melhor, a resposta que deveria ser dada à luz do seu próprio mistério de Filho de Deus encarnado.
Assim, a César deve ser dado o que é de César e a Deus deve ser dado o que é de Deus. Se na moeda de César está marcada a sua figura, deve-lhe ser dada, tributada, porque é dele, da sua autoridade, da sua ordem terrena e mundana; mas o homem enquanto marcado pelo cunho de Deus, esfinge à imagem e semelhança de Deus, deve ser entregue ao próprio Deus, deve ser tributado divinamente.
À luz destas palavras de Jesus há assim um discernimento que não podemos deixar de fazer no uso dos bens que Deus nos concede e sobre a nossa própria condição humana. Se os bens se podem comprar e vender, a nossa humanidade não está à venda, não é tributável senão ao mesmo Deus que nos criou. Como sabiamente nos diz São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios “tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus”.
Assim, a César o que é de César, ao mundo o que é do mundo, e a Deus nós mesmos suas imagem e semelhança, seus filhos em Cristo Jesus.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No texto da Meditação que partilha connosco recorda-nos o Evangelho do dia de hoje (Mc 12,13-17)) na qual Jesus confrontado com uma cilada “para proporcionarem a ocasião e o motivo de uma acusação e de uma vingança” responde exemplarmente “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” e como nos afirma numa das passagens do texto ...“Revelada a falsidade e a hipocrisia daqueles que tinham vindo ter com ele, Jesus aproveita para lhes ensinar o verdadeiro sentido da resposta a dar, ou melhor, a resposta que deveria ser dada à luz do seu próprio mistério de Filho de Deus encarnado. … (…)
    ...Se na moeda de César está marcada a sua figura, deve-lhe ser dada, tributada, porque é dele, da sua autoridade, da sua ordem terrena e mundana; mas o homem enquanto marcado pelo cunho de Deus, esfinge à imagem e semelhança de Deus, deve ser entregue ao próprio Deus, deve ser tributado divinamente.”…
    Bem haja por nos salientar …” Se os bens se podem comprar e vender, a nossa humanidade não está à venda, não é tributável senão ao mesmo Deus que nos criou”.
    Que na nossa caminhada, Deus nos ilumine no Caminho da Verdade que é Cristo, e que na nossa vida quotidiana, os valores que nos orientem sejam os do Evangelho.
    Obrigada Frei José Carlos pela partilha desta importante Meditação que ilustrou de forma tão bela.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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