segunda-feira, 28 de março de 2011

Jesus passando por eles seguiu o seu caminho (Lc 4,30)

O regresso de Jesus a casa, à sua terra de Nazaré, não foi um acontecimento pacífico, satisfatório. Afinal era o regresso ao clã daquele que a todos tinha exposto, que a todos tinha envergonhado com as suas atitudes e comportamentos. Era o regresso do louco ou daquele que muitas vezes tinham considerado possuído pelo demónio.
E agora, ali no meio deles, atira-lhes à cara que nenhum profeta é bem recebido na sua terra, que qualquer profeta é um incompreendido por aqueles que lhe são mais próximos. Que é difícil à família aceitar a diferença e os caminhos que os outros seguem e não se enquadram no esperado e nas expectativas, mas não há outro processo se não aceitar e compreender, partilhar também dessa diferença arriscando o amor.
Perante a afronta, e o desafio da aceitação compreensivel da diferença, a resposta violenta, a tentativa de o precipitarem do alto do monte. Só a morte, e a morte às suas mãos, poderia limpar a mancha lançada sobre a família e o clã. Eles tinham o direito de pôr um fim àquele desvario e restabelecer a ordem ancestral entre eles.
No alto do monte Jesus liberta-se, pois ainda não chegou a sua hora e não compete àqueles homens exercer a justiça, não é ainda o tempo da morte. Ou melhor, é ele que dá a vida e não são os outros que lha tiram, não é esta multidão que o pode reter assim como não será a morte que o poderá prender.
E passando pelo meio deles Jesus segue o seu caminho, regressa ao seu grupo de discípulos e à sua missão junto do povo, retoma o caminho em direcção à cidade onde habitam aqueles que terão o poder de receber a sua vida entregue por amor.
Ao passar pelo meio deles Jesus não lhes volta as contas, como também não nos volta as costas a nós. Poderíamos ter essa tentação ao darmo-nos conta que ele passa e segue, que muitas vezes também nós o tentamos agarrar mas ele parece escapar-se nos, não se deixa prender.
Ao passar e ao seguir adiante Jesus coloca-se em caminho, faz-se caminho para aqueles homens e para nós, mostrando-nos que apesar das nossas recusas e indiferenças, do nosso não reconhecimento, ele segue em frente, não desiste e espera apenas que no seu rastro sigamos nós também, por curiosidade de comadres do soalheiro, ou então como a amada do “Cântico dos Cânticos” atraídos pelo perfume dos seus amores, enamorados da sua boca só doçura.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O Evangelho de hoje (Lc 4,30) e o texto da Meditação que connosco partilha, leva-me a reflectir na dificuldade que temos em aceitar a diferença, o que se afasta dos caminhos que idealizámos ou traçámos, ou o que nos tranquiliza, desculpabiliza, para não seguirmos o que a consciência nos pedia e/ou nos pede, ou para não comprometermo-nos no nosso quotidiano.
    Como afirma no texto ...” é difícil à família aceitar a diferença e os caminhos que os outros seguem e não se enquadram no esperado e nas expectativas, mas não há outro processo se não aceitar e compreender, partilhar também dessa diferença arriscando o amor.”…
    Apesar das dificuldades, das incompreensões, da violência, Jesus libertou-se, seguiu o seu caminho, …”regressa ao seu grupo de discípulos e à sua missão junto do povo, retoma o caminho em direcção à cidade onde habitam aqueles que terão o poder de receber a sua vida entregue por amor.”…
    É importante salintar-nos que …”Ao passar pelo meio deles Jesus não lhes volta as contas, como também não nos volta as costas a nós.”… “coloca-se em caminho, faz-se caminho para aqueles homens e para nós,”…
    Que o Senhor nos fortaleça na fé, na perseverança do caminho, da busca de Jesus, para nos momentos de dúvidas e incertezas, saibamos acreditar na Sua mensagem de amor, misericórdia e salvação.
    Obrigada pela partilha profunda que nos estimula e reconforta. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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