O Natal aproxima-se a
passos largos e uma semana apenas nos separa da comemoração do nascimento do
Filho de Deus entre os homens.
Como uma espécie de
pórtico do que vamos celebrar e viver, a Liturgia da Palavra deste primeiro dia
da semana preparatória apresenta-nos a genealogia com que São Mateus dá início
ao seu Evangelho.
Uma sucessão de nomes
e filiações entrecortadas por gerações e acontecimentos trágicos, como o pecado
de David quando desejou a mulher de Urias e a deportação para a Babilónia, pela
inserção de quatro nomes de mulheres históricas que colocam a realidade da
estrangeira na sucessão patriarcal.
Nesta genealogia não
podemos contudo deixar de passar em branco as duas figuras masculinas que
iniciam e terminam a linhagem, Abraão e José, esposo de Maria. Quarenta e duas
gerações os separam, mas unem-se no mesmo mistério face aos filhos que têm.
Abraão concebe um
filho que lhe foi prometido por Deus, um filho único e muito amado, mas que
terá que apresentar ao Senhor para ser sacrificado. Liberto da morte, Isaac é o
continuador da geração, mas situa-se já em outra órbita, em outro plano. Depois
do momento do sacrifício Isaac já não é mais um filho de Abraão, mas uma
propriedade de Deus entregue a Abraão. A paternidade é assim divina, é uma
oferta de Deus.
José, esposo de Maria,
vai encontrar-se com a mesma radicalidade da paternidade, e assim, não tendo
concebido nenhum filho, vê-se convidado a aceitar o Filho de Deus, o dom que
Deus lhe faz de uma geração de que não é nem pode ser progenitor.
A genealogia que São Mateus
elabora, entre muitas outras realidades ligadas à história da salvação, está
objectivamente constituída no sentido de mostrar que é Deus que age, que é Deus
que é Pai e aos homens cabe aceitar essa paternidade, a oferta de vida que Deus
faz.
Ao prepararmos o Natal,
a celebração do nascimento do Filho de Deus, somos através desta genealogia
convidados a reconhecer o dom de Deus, a reconhecer a necessidade da abdicação
da nossa “paternidade”, do nosso espirito de propriedade, para podermos acolher
o Filho que o Pai nos entrega em cuidado.
Ilustração: “O sacrifício
de Isaac”, de David Teniers o Jovem, Kunsthistorisches Museum.
"Abdicar do nosso espírito de propriedade" que não se traduz em "pobreza" apenas nem sobretudo mas em "libertação". Será? I.T.
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarA genealogia de Jesus Cristo com que São Mateus dá início ao seu Evangelho recorda-nos a Sua dimensão humana e histórica da qual fazemos parte, que dá sentido à nossa vida.
Como nos salienta …” Ao prepararmos o Natal, a celebração do nascimento do Filho de Deus, somos através desta genealogia convidados a reconhecer o dom de Deus, a reconhecer a necessidade da abdicação da nossa “paternidade”, do nosso espirito de propriedade, para podermos acolher o Filho que o Pai nos entrega em cuidado.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda Meditação, que nos ajuda a preparar-nos espiritualmente para acolhermos …“a oferta de vida que Deus faz”… .
Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva