A história de Isabel e
Zacarias que o Evangelho de São Lucas hoje nos apresenta é uma história bem
conhecida da tradição bíblica, pois encontramos vários casais que sofreram de
esterilidade e foram visitados e abençoados por Deus nesse seu sofrimento pela
graça de um filho, de um descendente.
Temos a história de
Abraão e Sara, de Isaac e Rebeca, de Jacob e Raquel, os membros das primeiras
gerações da linhagem da promessa de Deus, como se fosse absolutamente necessário
vincar o dom de Deus, a paternidade divina e a absoluta pobreza do homem que
nem sequer é capaz de ter uma descendência sem a acção de Deus.
A história de Zacarias
e Isabel é no entanto marcada por um acontecimento paradoxal, uma circunstância
que uma vez mais mostra a disparidade do poder do homem e da acção de Deus,
pois o pai daquele que é a voz que clama no deserto é impossibilitado de falar,
Zacarias é silenciado pelo anjo que lhe anuncia o nascimento de um descendente.
Este paradoxo é no entanto
a metáfora de uma profecia, de uma realidade humana e divina que Zacarias
experimenta de modo total na sua própria carne, ou seja, a palavra necessita do
silêncio para nascer, a Palavra de Deus gera-se no silêncio.
Experimentamos assim
desta forma e pelo mutismo de Zacarias que a Palavra de Deus, que a sua força,
o seu poder, a sua densidade se encontra nos antípodas do barulho, da discussão
e da algazarra. A Palavra de Deus gera-se no silêncio, nasce no silêncio.
E esta realidade, esta
circunstância é de tal modo importante e significativa que ao aproximar-se o
Natal nos confrontamos com a Incarnação do Verbo de Deus, somos colocados
diante do nascimento do Menino, de um “infans”, que em latim tanto significa
menino como aquele que não fala.
Na carne que Deus
assume da nossa humanidade revela-se assim a sua Palavra, mas revela-se através
de um silêncio infantil, prenhe de vitalidade, que é necessário escutar, ver,
habitar, amar, para que se faça audível e se ouça.
Do silêncio de
Zacarias nascerá a voz que clama no deserto, do silêncio de Deus feito menino
nascerá a nossa salvação, do nosso silêncio na contemplação destes mistérios
nascerá a voz de Deus em nós. Procuremos pois silenciar-nos para escutar o amor
que nos canta.
Ilustração: “Virgem
Maria com o Menino Jesus e São João”, de Gerhard Wilhelm von Reutern, Museu
Estatal Russo, São Petersburgo.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarReflicto nas palavras profundas e belas do texto que teceu e partilha e que ilustrou com tanta beleza. Ao falar-nos da história de Zacarias e Isabel recorda-nos que ...” A Palavra de Deus gera-se no silêncio, nasce no silêncio.”(…)
(...) Na carne que Deus assume da nossa humanidade revela-se assim a sua Palavra, mas revela-se através de um silêncio infantil, prenhe de vitalidade, que é necessário escutar, ver, habitar, amar, para que se faça audível e se ouça.
Do silêncio de Zacarias nascerá a voz que clama no deserto, do silêncio de Deus feito menino nascerá a nossa salvação, do nosso silêncio na contemplação destes mistérios nascerá a voz de Deus em nós.”…
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por exortar-nos a ...” silenciar-nos para escutar o amor que nos canta.”
Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja.
Continuação de boa semana, com paz, alegria, confiança, silêncio e esperança.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva