domingo, 2 de dezembro de 2012

Homília I Domingo do Advento

Uma vez mais iniciamos o tempo do Advento, quatro semanas de preparação para a celebração do Natal, do nascimento do Filho de Deus entre os homens.
Neste clima de preparação, o Evangelho deste primeiro domingo do Advento deixa-nos vários desafios, porque afinal a fé em Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem é um conjunto de desafios.
Desafios que no momento em que vivemos social e economicamente se tornam mais prementes, pois face a um mundo que parece que perdeu a esperança somos chamados por Deus a manifestar a esperança que nos anima, a testemunhar que em conjunto podemos construir a cidade da justiça de que fala o profeta Jeremias na primeira leitura que escutámos.
Neste sentido, um dos primeiros desafios que nos é deixado por Jesus é o de permanecermos de cabeça erguida, de erguer a cabeça quando tudo e todos andam cabisbaixos e desanimados.
Este convite de Jesus tem ainda mais relevância na medida em que é apresentado aos discípulos pouco antes da sua paixão e morte. Para os discípulos e para cada um de nós, face aos acontecimentos sem sentido, às tragédias e ao sofrimento, o Senhor convoca-nos a olhar de frente, a erguer a cabeça e a permanecer na fé e na esperança.
Se olharmos para a apresentação do Servo de Deus que é feita por Isaías no capítulo cinquenta deparamos com uma confiança e um desafio que nos deixa perplexos, pois aquele que é entregue ao sacrifício e à morte não vacila nem se deixa abater na sua fé e na sua esperança e por isso pode apresentar o seu rosto como pedra àqueles que lhe batem.  
Estamos assim num ambiente em que o medo, o facilitismo, a cobardia, o desinteresse, não têm lugar, não podem acontecer. Pelo contrário, o testemunho audaz, a coragem, a resistência contra o mal, a solidariedade, devem ser vividas com verdade e radicalidade, estando conscientes que tais atitudes e tal coerência e fidelidade correspondem verdadeiramente à imagem que Jesus um dia deixou como consigna aos seus discípulos, “envio-os como cordeiros para o meio de lobos”.
Perante este cenário e os seus desafios radicais sentiremos certamente um desconforto, uma vontade de sair discretamente pela porta deixando para uns quantos radicais, para não dizer “fanáticos”, a tentativa de vivência desses desafios.
Por causa disto e para que pudéssemos chegar ao fim, alcançar o objectivo de nos apresentarmos diante de Deus, Jesus deixou aos seus discípulos outros dois desafios, ou dois instrumentos para a prossecução do desafio testemunhal radical, a vigilância e a oração.
Jesus diz aos discípulos que são estas duas realidades que lhes poderá dar força para poderem estar firmes e enfrentarem todos os desafios, são como que estes dois exercícios que fortalecerão a esperança e a fé, para os embates que inevitavelmente ocorrerão.
Este tempo do Advento desafia-nos assim a olhar e a rever os nossos propósitos de vigilância e a nossa oração pessoal e comunitária. Num momento de dificuldades económicas somos convidados a vigiar as despesas que realizamos em banalidades e das quais podemos prescindir, partilhando o valor dessas banalidades com aqueles que nada têm. Somos convidados a vigiar a nossa gula, o nosso consumismo, o stress e as preocupações com pormenores que não passam disso mesmo, de pormenores.
Se o fizermos, ou pelo menos o tentarmos, certamente contribuiremos para uma sociedade mais justa, onde a caridade e o amor serão de facto o verdadeiramente importante, porque afinal é por esse amor que celebramos o Natal.
Mas como as nossas limitações humanas são bastantes e a oferta publicitária é avassaladora, a oração que praticarmos neste tempo será um complemento e uma ajuda fundamental para esta vigilância a que Jesus nos convida. Na oração poderemos encontrar-nos com Deus que vem ao nosso encontro, que veio e virá sempre, como uma oferta de paz, de alegria, de felicidade.
Por outro lado, na oração encontrar-nos-emos com os mandamentos que o Senhor nos deixou, com essas pequenas ajudas que balizam o nosso caminhar e nos fazem encontrar com os nossos irmãos. A oração será o momento de aferir do nosso amor e da nossa fidelidade aos outros que são imagem de Deus.
Fortalecidos por estes exercícios poderemos manter a cabeça erguida e poderemos apresentar-nos diante do Senhor firmes na sua presença, uma vez que é para nos olhar nos olhos e o olharmos face a face que Deus nos chama.
Neste sentido não podemos deixar de recordar que Santo Ireneu de Lião recomendava que a Eucaristia ao domingo fosse celebrada de pé uma vez que é um símbolo da ressurreição de que todos já participamos e esperamos participar em plenitude. A participação do povo na liturgia da Igreja Ortodoxa é desta realidade e simbologia também uma referência.
Procuremos pois neste tempo de Advento, que agora iniciamos, preparar o nosso coração para a vinda do Senhor, mantendo a nossa cabeça erguida e fortalecida na esperança de que o Senhor vem e não tardará. Ergamos os corações ao Senhor que vem!
 
Ilustração: “O viajante sobre um mar de bruma”, de Caspar David Friedrich, em Hamburger Kunsthalle.  

3 comentários:

  1. Obrigada pelos desafios que nos oferece para podermos atingir o nosso objectivo:apresentarmo-nos diante de Deus " de cabeça erguida e olhos nos olhos". I.T.

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  2. Frei José Carlos,

    O texto da Homilia do I Domingo do Advento que teceu e ilustrou de forma tão bela é profundo, convida-nos à leitura atenta. E ajuda-nos a levantar. É um texto de grande espiritualidade, de preparação para o Advento, enquadrado nos tempos complexos que vivemos e que nos dá “coragem, alegria, a permanecer na fé e na esperança” para continuarmos a enfrentar os vários desafios que se nos apresentam. Permita-me que respigue algumas passagens do texto que me tocam.
    ...” Estamos assim num ambiente em que o medo, o facilitismo, a cobardia, o desinteresse, não têm lugar, não podem acontecer. Pelo contrário, o testemunho audaz, a coragem, a resistência contra o mal, a solidariedade, devem ser vividas com verdade e radicalidade, estando conscientes que tais atitudes e tal coerência e fidelidade correspondem verdadeiramente à imagem que Jesus um dia deixou como consigna aos seus discípulos, “envio-os como cordeiros para o meio de lobos”. (…)
    Como nos recorda …” para que pudéssemos chegar ao fim, alcançar o objectivo de nos apresentarmos diante de Deus, Jesus deixou aos seus discípulos outros dois desafios, ou dois instrumentos para a prossecução do desafio testemunhal radical, a vigilância e a oração.”… (…)
    (…) Este tempo do Advento desafia-nos assim a olhar e a rever os nossos propósitos de vigilância e a nossa oração pessoal e comunitária”. (…)
    (…) Na oração poderemos encontrar-nos com Deus que vem ao nosso encontro, que veio e virá sempre, como uma oferta de paz, de alegria, de felicidade.
    Por outro lado, na oração encontrar-nos-emos com os mandamentos que o Senhor nos deixou, com essas pequenas ajudas que balizam o nosso caminhar e nos fazem encontrar com os nossos irmãos. A oração será o momento de aferir do nosso amor e da nossa fidelidade aos outros que são imagem de Deus.
    Fortalecidos por estes exercícios poderemos manter a cabeça erguida e poderemos apresentar-nos diante do Senhor firmes na sua presença, uma vez que é para nos olhar nos olhos e o olharmos face a face que Deus nos chama.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda partilha, pela oportunidade que nos proporciona ao oferecer-nos um excelente texto para reflexão, por exortar-nos a que “Procuremos pois neste tempo de Advento, que agora iniciamos, preparar o nosso coração para a vinda do Senhor, mantendo a nossa cabeça erguida e fortalecida na esperança de que o Senhor vem e não tardará.”…
    Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  3. Frei José Carlos,

    Ao ler esta bela partilha da Homilia do I Domingo do Advento,tão profunda que nos ajuda a reflectir com mais profundidade,para mantermos a nossa cabeça erguida diante do Senhor e firmes na sua presença,uma vez que é para nos olhar nos olhos e no olhar face a face que Deus nos chama,como nos diz o Frei José Carlos.
    Procuremos pois neste tempo do Advento,que agora iniciamos,preparar o nosso coração para a vinda do Senhor,fortalecida na esperança de que o Senhor vem e não tardará.Obrigada,Frei José Carlos,pela excelente Meditação que partilhou connosco.Bem-haja.Desejo-lhe um bom dia.Que o Senhor o ilumine e o proteja e abençõe.
    Um braço fraterno.
    AD

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