Uma vez mais iniciamos
o tempo do Advento, quatro semanas de preparação para a celebração do Natal, do
nascimento do Filho de Deus entre os homens.
Neste clima de
preparação, o Evangelho deste primeiro domingo do Advento deixa-nos vários
desafios, porque afinal a fé em Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem
é um conjunto de desafios.
Desafios que no
momento em que vivemos social e economicamente se tornam mais prementes, pois
face a um mundo que parece que perdeu a esperança somos chamados por Deus a
manifestar a esperança que nos anima, a testemunhar que em conjunto podemos
construir a cidade da justiça de que fala o profeta Jeremias na primeira
leitura que escutámos.
Neste sentido, um dos
primeiros desafios que nos é deixado por Jesus é o de permanecermos de cabeça
erguida, de erguer a cabeça quando tudo e todos andam cabisbaixos e desanimados.
Este convite de Jesus
tem ainda mais relevância na medida em que é apresentado aos discípulos pouco
antes da sua paixão e morte. Para os discípulos e para cada um de nós, face aos
acontecimentos sem sentido, às tragédias e ao sofrimento, o Senhor convoca-nos
a olhar de frente, a erguer a cabeça e a permanecer na fé e na esperança.
Se olharmos para a apresentação
do Servo de Deus que é feita por Isaías no capítulo cinquenta deparamos com uma
confiança e um desafio que nos deixa perplexos, pois aquele que é entregue ao
sacrifício e à morte não vacila nem se deixa abater na sua fé e na sua
esperança e por isso pode apresentar o seu rosto como pedra àqueles que lhe
batem.
Estamos assim num
ambiente em que o medo, o facilitismo, a cobardia, o desinteresse, não têm lugar,
não podem acontecer. Pelo contrário, o testemunho audaz, a coragem, a
resistência contra o mal, a solidariedade, devem ser vividas com verdade e
radicalidade, estando conscientes que tais atitudes e tal coerência e fidelidade
correspondem verdadeiramente à imagem que Jesus um dia deixou como consigna aos
seus discípulos, “envio-os como cordeiros para o meio de lobos”.
Perante este cenário e
os seus desafios radicais sentiremos certamente um desconforto, uma vontade de
sair discretamente pela porta deixando para uns quantos radicais, para não
dizer “fanáticos”, a tentativa de vivência desses desafios.
Por causa disto e para
que pudéssemos chegar ao fim, alcançar o objectivo de nos apresentarmos diante
de Deus, Jesus deixou aos seus discípulos outros dois desafios, ou dois
instrumentos para a prossecução do desafio testemunhal radical, a vigilância e
a oração.
Jesus diz aos discípulos
que são estas duas realidades que lhes poderá dar força para poderem estar
firmes e enfrentarem todos os desafios, são como que estes dois exercícios que
fortalecerão a esperança e a fé, para os embates que inevitavelmente ocorrerão.
Este tempo do Advento
desafia-nos assim a olhar e a rever os nossos propósitos de vigilância e a
nossa oração pessoal e comunitária. Num momento de dificuldades económicas somos
convidados a vigiar as despesas que realizamos em banalidades e das quais podemos
prescindir, partilhando o valor dessas banalidades com aqueles que nada têm. Somos
convidados a vigiar a nossa gula, o nosso consumismo, o stress e as
preocupações com pormenores que não passam disso mesmo, de pormenores.
Se o fizermos, ou pelo
menos o tentarmos, certamente contribuiremos para uma sociedade mais justa,
onde a caridade e o amor serão de facto o verdadeiramente importante, porque
afinal é por esse amor que celebramos o Natal.
Mas como as nossas
limitações humanas são bastantes e a oferta publicitária é avassaladora, a
oração que praticarmos neste tempo será um complemento e uma ajuda fundamental
para esta vigilância a que Jesus nos convida. Na oração poderemos encontrar-nos
com Deus que vem ao nosso encontro, que veio e virá sempre, como uma oferta de
paz, de alegria, de felicidade.
Por outro lado, na
oração encontrar-nos-emos com os mandamentos que o Senhor nos deixou, com essas
pequenas ajudas que balizam o nosso caminhar e nos fazem encontrar com os
nossos irmãos. A oração será o momento de aferir do nosso amor e da nossa
fidelidade aos outros que são imagem de Deus.
Fortalecidos por estes
exercícios poderemos manter a cabeça erguida e poderemos apresentar-nos diante
do Senhor firmes na sua presença, uma vez que é para nos olhar nos olhos e o
olharmos face a face que Deus nos chama.
Neste sentido não
podemos deixar de recordar que Santo Ireneu de Lião recomendava que a
Eucaristia ao domingo fosse celebrada de pé uma vez que é um símbolo da
ressurreição de que todos já participamos e esperamos participar em plenitude. A
participação do povo na liturgia da Igreja Ortodoxa é desta realidade e
simbologia também uma referência.
Procuremos pois neste
tempo de Advento, que agora iniciamos, preparar o nosso coração para a vinda do
Senhor, mantendo a nossa cabeça erguida e fortalecida na esperança de que o
Senhor vem e não tardará. Ergamos os corações ao Senhor que vem!
Ilustração: “O
viajante sobre um mar de bruma”, de Caspar David Friedrich, em Hamburger
Kunsthalle.
Obrigada pelos desafios que nos oferece para podermos atingir o nosso objectivo:apresentarmo-nos diante de Deus " de cabeça erguida e olhos nos olhos". I.T.
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarO texto da Homilia do I Domingo do Advento que teceu e ilustrou de forma tão bela é profundo, convida-nos à leitura atenta. E ajuda-nos a levantar. É um texto de grande espiritualidade, de preparação para o Advento, enquadrado nos tempos complexos que vivemos e que nos dá “coragem, alegria, a permanecer na fé e na esperança” para continuarmos a enfrentar os vários desafios que se nos apresentam. Permita-me que respigue algumas passagens do texto que me tocam.
...” Estamos assim num ambiente em que o medo, o facilitismo, a cobardia, o desinteresse, não têm lugar, não podem acontecer. Pelo contrário, o testemunho audaz, a coragem, a resistência contra o mal, a solidariedade, devem ser vividas com verdade e radicalidade, estando conscientes que tais atitudes e tal coerência e fidelidade correspondem verdadeiramente à imagem que Jesus um dia deixou como consigna aos seus discípulos, “envio-os como cordeiros para o meio de lobos”. (…)
Como nos recorda …” para que pudéssemos chegar ao fim, alcançar o objectivo de nos apresentarmos diante de Deus, Jesus deixou aos seus discípulos outros dois desafios, ou dois instrumentos para a prossecução do desafio testemunhal radical, a vigilância e a oração.”… (…)
(…) Este tempo do Advento desafia-nos assim a olhar e a rever os nossos propósitos de vigilância e a nossa oração pessoal e comunitária”. (…)
(…) Na oração poderemos encontrar-nos com Deus que vem ao nosso encontro, que veio e virá sempre, como uma oferta de paz, de alegria, de felicidade.
Por outro lado, na oração encontrar-nos-emos com os mandamentos que o Senhor nos deixou, com essas pequenas ajudas que balizam o nosso caminhar e nos fazem encontrar com os nossos irmãos. A oração será o momento de aferir do nosso amor e da nossa fidelidade aos outros que são imagem de Deus.
Fortalecidos por estes exercícios poderemos manter a cabeça erguida e poderemos apresentar-nos diante do Senhor firmes na sua presença, uma vez que é para nos olhar nos olhos e o olharmos face a face que Deus nos chama.”…
Grata, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda partilha, pela oportunidade que nos proporciona ao oferecer-nos um excelente texto para reflexão, por exortar-nos a que “Procuremos pois neste tempo de Advento, que agora iniciamos, preparar o nosso coração para a vinda do Senhor, mantendo a nossa cabeça erguida e fortalecida na esperança de que o Senhor vem e não tardará.”…
Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo ler esta bela partilha da Homilia do I Domingo do Advento,tão profunda que nos ajuda a reflectir com mais profundidade,para mantermos a nossa cabeça erguida diante do Senhor e firmes na sua presença,uma vez que é para nos olhar nos olhos e no olhar face a face que Deus nos chama,como nos diz o Frei José Carlos.
Procuremos pois neste tempo do Advento,que agora iniciamos,preparar o nosso coração para a vinda do Senhor,fortalecida na esperança de que o Senhor vem e não tardará.Obrigada,Frei José Carlos,pela excelente Meditação que partilhou connosco.Bem-haja.Desejo-lhe um bom dia.Que o Senhor o ilumine e o proteja e abençõe.
Um braço fraterno.
AD