Jesus passou à outra
margem do lago com os seus discípulos, à região dos gerasenos, como nos diz São
Marcos, e ali encontrou um homem possuído por uma legião de espíritos.
O autor do texto deixa
perceber que desde o primeiro momento, desde que Jesus avista aquele homem que
sofre no corpo e nos espirito existe o propósito de o libertar, de lhe
restituir uma outra vida.
É face a este desejo
de Jesus que nos encontramos com uma expressão, com um pedido por parte do
homem e através dele por parte dos espíritos, que nos mostra o contraste entre
a expectativa face a Jesus e a acção de Jesus.
O texto diz-nos que o
homem se foi prostrar diante de Jesus logo que o viu, e que o reconheceu e confessou
como Filho do Altíssimo, e em consequência de tal confissão lhe pediu que não o
atormentasse.
Vemos assim, que a
expectativa dos espíritos era a do tormento, a da condenação ao sofrimento que
eles próprios infligiam àquele homem. A justiça divina deveria fazer-se sentir
através da força e da violência, de uma condenação, de uma morte.
Contrariando esta
expectativa e esta concepção, Jesus assume a verdadeira natureza de Deus,
assume a sua missão salvadora e nesse sentido não condena os espíritos a um fim
doloroso, mas permite-lhes que possam passar-se para os porcos.
Jesus concede a
transferência para um outro corpo, uma outra realidade que não é sinónimo de condenação,
ainda que depois os porcos se precipitem no abismo, lugar natural dos espíritos.
Jesus permite portanto o regresso dos espíritos ao seu habitat.
Esta atitude de Jesus
pode parecer-nos estranha, até contraditória da sua missão de vencer o mal, mas
insere-se no coração da missão, bem no seu sentido mais profundo, pois revela,
mesmo aos espíritos impuros e do mal, que Deus não é um Deus de condenações,
nem de extermínios, mas um Deus de misericórdia, um Deus de conversão, que
espera a oferece uma outra oportunidade a todos, até mesmo aos espíritos do
mal.
Esta bondade de Deus,
esta sua atitude, devia alimentar-nos e fortalecer-nos na nossa esperança, no
nosso desejo de conversão e de busca no sentido de fazer as coisas de uma
maneira melhor. Deus não desiste de nós, não nos condena, oferece-nos sempre
uma oportunidade, que nós podemos aproveitar ou não.
Tal como os porcos se
lançaram no precipício também nós nos podemos lançar na condenação ou na
salvação, está na nossa mão acolher a oferta misericordiosa de Deus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarComo nos recorda no texto da Meditação que teceu, ... a “ bondade de Deus, esta sua atitude, devia alimentar-nos e fortalecer-nos na nossa esperança, no nosso desejo de conversão e de busca no sentido de fazer as coisas de uma maneira melhor. Deus não desiste de nós, não nos condena, oferece-nos sempre uma oportunidade, que nós podemos aproveitar ou não.”…
Na nossa peregrinação que o Senhor nos ajude a discernir a vontade de Deus.
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por salientar-nos que ... “está na nossa mão acolher a oferta misericordiosa de Deus”.
Que o Senhor o ilumine e o cumule de todas as graças.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me que volte a partilhar um poema para rezar.
POBRES E SILENCIOSOS DIANTE DE TI
Faltam-nos, por vezes, palavras para rezar. Estamos diante de Ti, Senhor, sem saber bem, numa pobreza que dói.
Abrimos e fechamos as mãos num monólogo mudo, levantamos o nosso olhar estilhaçado, sentimo-nos perdidos naquela desmesurada distância da parábola do Filho Pródigo …
Não te peço, Senhor, que elimines de imediato esta carência. Peço que a ilumines. Que não receemos permanecer pobres e silenciosos, diante de Ti. Fazendo oração com os fragmentos, os retalhos, os soluços … Com o peso daquilo que nos esmaga. Pois é verdade que na hora do sofrimento Tu nos escutas, e na desolação não deixas de ouvir a nosssa voz.
(In, “Um Deus que Dança”, Itinerários para a oração, José Tolentino Mendonça)