quinta-feira, 7 de março de 2013

A glória de Deus é o homem vivo

Estou a terminar uma semana de Celebrações da Palavra no Externato Marista de Lisboa, pois a agenda com diversos compromissos para amanhã não me permitiu ir até sexta-feira nesta missão. Para a semana haverá mais.
Foi uma semana intensa, ou melhor, a terceira semana intensa neste período da Quaresma, uma vez que foram poucos os dias que não tive três Celebrações, e às quais ainda acrescia a celebração de uma ou duas Eucaristias.
Poderia dizer que estou cansado, mas apesar do corpo pedir algum repouso, sinto-me bem, sinto-me feliz, como um dos meus irmãos de comunidade disse um dia destes, “rejuvenescido”.
Participar nas Celebrações de cada turma do Externato é para mim um privilégio, uma experiência enriquecedora e alentadora, na medida em que partilho a experiência da fé com adolescentes e jovens que transportam em si um potencial enorme, que mostram naqueles pouco minutos que são capazes de muito, e de muito bom.
Para muitos deles é um momento excepcional, uma experiência que não se repetirá, umas vezes porque estão já de partida para a universidade ou outra escola, mas a maior parte das vezes porque a sua vivência e pertença eclesial é quase nula, e portanto pouco ou nada têm de experiência celebrativa da fé.
Falar de Deus, falar da Igreja, falar da vida cristã, esbarra assim inevitavelmente contra um muro de desconhecimento ou indiferença. A cultura e os valores que todos os dias lhes são incutidos pelo mundo são outros, e por vezes contrários.
Necessitamos assim de ir ao encontro do homem, da humanidade destes adolescentes e jovens, mostrar-lhes a dignidade de que estão imbuídos, mostrar-lhes que a realização plena da sua humanidade, do seu potencial humano, é uma glória para Deus.
A amizade que sentem e vivem na turma, os conflitos e o que deles aprendem, os projectos que desenvolvem em grupo, os momentos de alegria e tensão na aprendizagem e na avaliação, o respeito e a união que se alcançam ou ainda desafiam o empenho, o próprio crescimento físico e o despertar para o amor, são experiências quotidianas que conduzem à plenitude humana e portanto à glória de Deus.
A Celebração da Palavra surge assim neste percurso, em cada ano lectivo, como um momento e uma oportunidade para parar e aferir desse crescimento para a plenitude e para a glória. Cada Celebração, como realização colectiva e participação pessoal, é um momento de reconhecimento que o projecto de Jesus não abdica da dignidade humana, não despreza o homem, mas bem pelo contrário o assume com o que tem de bom e de menos bom.
Pela consciência do bem realizado, da solidariedade desenvolvida, pela amizade, pelo respeito e pela justiça para com os companheiros, professores e pais, a Celebração possibilita descobrir que qualquer atitude digna e dignificante é uma opção por Cristo, é uma escolha do projecto de vida e de amor de Deus, ainda que não explicito e declaradamente.
Se como diz Santo Ireneu de Lyon, “a glória de Deus é o homem vivo”, cada gesto, cada atitude, cada palavra destes jovens e adolescentes que transpire humanidade são verdadeiras manifestações da presença de Deus nas suas vidas e na nossa história.
Cumpre-nos pois dar graças a Deus por este dom, por esta humanidade, o que também fazemos em cada Celebração da Palavra do Externato Marista de Lisboa.
 
Ilustração: Digitalização de recordações de algumas das Celebrações desta semana.

 

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Quando leio as partilhas das “Celebrações da Palavra no Externato Marista de Lisboa” que muito nos enriquecem e gratificam, sem falar da alegria que nos transmitem por múltiplas razões, fico ao mesmo tempo, num longo silêncio e meditação, e hesito muitas vezes se devo escrever algo. Há vivências na vida de todos nós que calam tão fundo nos nossos corações que qualquer “ruído” pode quebrar essa alegria e beleza. Penso e repenso, hesito, mas pergunto-me se para além de o irmão estar alegre, ainda que cansado, “rejuvenescido”, é bom saber que há um serviço que realiza com satisfação no qual sentimos a presença de Deus e que também nos alegra.
    Estas partilhas são uma outra forma de alimento espiritual. Olhar para cada um desses jovens com humanidade, com dignidade, com carinho, com confiança e esperança, é um dom que saboreamos com satisfação. O ser humano é um todo, uno, e mesmo aqueles que no exterior da escola vivem outros apelos , alguns de sentido contrário, há sempre algo que fica que os levará a modificar os gestos, o olhar para o próximo, os preconceitos, etc. E Jesus espera por todos nós e como diz Santo Ireneu de Lyon, “a glória de Deus é o homem vivo”, afirmação com que intitulou esta partilha.
    Permita-me que respigue as seguintes passagens do texto que elaborou …” Falar de Deus, falar da Igreja, falar da vida cristã, esbarra assim inevitavelmente contra um muro de desconhecimento ou indiferença. A cultura e os valores que todos os dias lhes são incutidos pelo mundo são outros, e por vezes contrários.
    Necessitamos assim de ir ao encontro do homem, da humanidade destes adolescentes e jovens, mostrar-lhes a dignidade de que estão imbuídos, mostrar-lhes que a realização plena da sua humanidade, do seu potencial humano, é uma glória para Deus. (…)
    (…)Cada Celebração, como realização colectiva e participação pessoal, é um momento de reconhecimento que o projecto de Jesus não abdica da dignidade humana, não despreza o homem, mas bem pelo contrário o assume com o que tem de bom e de menos bom.
    Pela consciência do bem realizado, da solidariedade desenvolvida, pela amizade, pelo respeito e pela justiça para com os companheiros, professores e pais, a Celebração possibilita descobrir que qualquer atitude digna e dignificante é uma opção por Cristo, é uma escolha do projecto de vida e de amor de Deus, ainda que não explicito e declaradamente.” …
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha, profunda, bela, que nos faz reflectir e que nos reconforta. Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
    Continuação de uma boa semana quaresmal.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Li com muito interesse esta maravilhosa e bela partilha das "Celebrações da Palavra do Externato Marista de Lisboa" que nos reconforta e enriquece.As suas palavras são imprescindíveis,a partilha maravilhosamente bela e tão profunda que nos ajudam a reflectir,mais profundamente.Como nos diz o Frei José Carlos,na medida em que partilho a experiência da fé com adolescentes e jovens que transportam em si um potencial enorme,que mostram naqueles poucos minutos que são capazes de muito,e de muito bom.Cumpre-nos dar graças a Deus por este dom,por esta humanidade o que também fazemos em cada Celebração da Palavra.È uma graça de Deus,o Frei José Carlos sentir-se feliz,como um dos seus irmãos de comunidade disse um dia destes "rejuvenescido." É sempre maravilhosamente belo e gratificante, estas experiências das Celebrações com o jovens .Grata,pela bela ilustração e pela excelente partilha.Bem-haja.
    Que o Senhor o ilumine o proteja e abençoe.Votos de um bom fim de semana.Bom descanso.
    Um abraço fraterno.
    AD

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