quarta-feira, 27 de março de 2013

Era noite. (Jo 13,30)

É São João que no seu Evangelho nos diz que quando Judas abandonou a última ceia era noite. Podemos pensar num pormenor temporal, numa indicação que se complementa com os dados dos outros Evangelhos, pois por eles sabemos que Jesus celebrou a ceia ao final da tarde. Seria normal que face ao ritmo prolongado e tranquilo da ceia Judas tivesse saído já de noite.
Contudo, a verdade é que estamos diante de algo mais significativo e importante que um pormenor de tempo, uma descrição horária. A noite de que fala São João é afinal a imagem, a metáfora para apresentar o estado de espirito em que todos se encontravam.
Por um lado temos os discípulos, desconcertados com o gesto surpreendente de Jesus lhes querer lavar os pés, e com o anúncio de um traidor entre o grupo dos íntimos, daqueles que tinham partilhado a mesma mesa. Era a noite da incerteza, da desconfiança, da dor de se encontrarem com um traidor no seio do grupo.
Temos também a noite de Judas, a noite da liberdade de entregar o Mestre, da recusa da última oferta de Jesus, e a noite de Pedro que na sua prontidão em acompanhar e defender Jesus se vê confrontado com o anúncio de três negações.
E por fim temos a noite de Jesus, a noite daquele que desce até às profundezas das trevas do homem, às trevas de uma liberdade que causa a própria destruição. É a noite da solidão, da traição e do abandono, é a noite do desespero face à recusa do homem em acolher o dom que lhe é oferecido.
Mas eis que nesta noite, nestas trevas brilha uma luz, uma centelha que faz despertar a esperança. A misericórdia de Deus é capaz de superar a falta do homem, o abandono e a traição.


Ilustração: "Última Ceia", de Nikolai Ge, Museus Russos.

 

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    “Era noite” ( Jo 13,30). O texto da Meditação que teceu ao analisar as várias formas de noite que estão presentes nos dias da Paixão de Jesus e que vão para além da noite astronómica, é também das noites de cada um de nós que nos fala. E sempre que nos afastamos da Luz é a noite que vem …
    Como nos afirma …” A noite de que fala São João é afinal a imagem, a metáfora para apresentar o estado de espirito em que todos se encontravam. (…)
    (…) E por fim temos a noite de Jesus, a noite daquele que desce até às profundezas das trevas do homem, às trevas de uma liberdade que causa a própria destruição.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pela coragem e pela esperança que nos transmitem ao recordar-nos …” Mas eis que nesta noite, nestas trevas brilha uma luz, uma centelha que faz despertar a esperança. A misericórdia de Deus é capaz de superar a falta do homem, o abandono e a traição.” Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. É com essa Misericórdia que temos que contar sobretudo se é noite, dentro de nós. I.T

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