Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, mudam-se as campanhas publicitárias e de divulgação, mas as necessidades são as mesmas, ou até bem mais prementes hoje que naqueles anos sessenta, em que os seminários ainda se enchiam de jovens e crianças cheios de sonhos e aspirações sacerdotais e religiosas.
É dessa época o material de divulgação do Seminário Apostólico Dominicano que hoje apresentamos como mais um documento histórico da Província. Para os mais novos é um documento raro e desconhecido, não conheço mais nenhum exemplar para além daquele de que me sirvo, mas para os mais velhos é certamente uma boa recordação, um regressar a um amor primeiro.
Transcrevo o texto para mais fácil leitura e para que, ainda que passados mais de quarentas anos e o texto possua já uma certa “patine”, possa fazer sonhar alguém, possa despertar algum desejo secreto ou desconhecido.
Que serei eu?
Que serei eu no dia de amanhã?
Perguntaste a ti mesmo, certamente, muitas vezes, caro jovem. Que serei eu?...
E respondeste: Serei advogado, engenheiro, médico, professor, comerciante, militar, mecânico, lavrador, trabalhador do campo, operário, motorista ou futebolista...
Mas pensaste que podes ser muito mais que isso?
Tu podes ser sacerdote – Podes ser religioso. Dominicano. Missionário. Apóstolo. Pregador.
Quando perguntares a ti mesmo: «que serei eu no dia de amanha?» podes dizer: Posso ser dominicano. Eu serei dominicano. Serei dominicano. O meu grande sonho: Ser Frade Pregador. Ser sacerdote!
Sublime dignidade. Serás outro Cristo. Terás em tuas mãos o próprio Deus a Quem oferecerás o pão e o vinho consagrado e transformado por tuas próprias palavras no Corpo e no Sangue de Jesus para O receberes e dares aos outros para a vida eterna.
Pede a tua admissão no Seminário dos Padres Dominicanos. Vem para dizeres como outros jovens: QUERO SER DOMINICANO!
Sou jovem e, como jovem, sinto arder na minha alma a chama dum ideal sublime e belo – o ideal de vir a ser um dia sacerdote e religioso dominicano. Ser sacerdote é ser na terra outro Cristo – Salvador e Redentor dos homens, luz no meio do mundo como Jesus. Ser religioso é viver na terra o ideal sublime da perfeição evangélica que Jesus aconselhou ao jovem rico quando lhe disse: se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e depois vem e segue-me. É viver no mundo em perfeito holocausto de louvor e homenagem à glória de Deus, totalmente consagrado ao Seu Serviço, renunciar a tudo e a nós mesmos, é ser até à morte uma hóstia viva pelos votos de pobreza, obediência e castidade. Cristo foi na terra o Religioso por excelência que tributou ao Pai o louvor de uma glória perfeita. Depois de Jesus ninguém como Maria viveu tão perfeitamente consagrado a Deus.
Quero ser religioso para assim imitar a Cristo e à Virgem. Ser dominicano é reproduzir na terra as virtudes de Domingos de Gusmão e assimilar o espírito da sua Ordem. É tornar-se imagem perfeita do próprio Jesus, como Domingos, é ser filho predilecto da Virgem do Rosário, é ser arauto do Verbo de Deus, é ser um Querubim na contemplação do Deus três vezes santo, é ser Apóstolo que, como Domingos de Gusmão, se enche de Deus, Verdade e Amor infinitos, é irradiar e infundir nas almas a Luz da Verdade divina e o fogo do Amor divino. Eu quero «ser sacerdote e religioso dominicano, para, como S. Domingos, salvar muitas almas.
Por, este ideal deixei a casa de meus pais, a minha aldeia e entrei no Seminário Apostólico Dominicano. Vem que serás dominicano. Serás do número dos Filhos de S. Domingos de Gusmão de cujos feitos se escreveu o seguinte: «Todas as praias conservam os vestígios do seu sangue; todos os ventos o eco da sua voz. O índio, perseguido como animal selvagem, encontra um asilo debaixo do seu escapulário branco; o preto leva na fronte o sinal de um beijo amoroso; o chinês, o japonês, o timorense, separados do resto da terra mais por seus costumes que pelas distâncias, sentaram-se a escutar esses estrangeiros admiráveis… O Ganges contemplou-os a comunicar aos párias a sabedoria divina; as ruínas de Babilónia emprestaram-lhe uma pedra para repousar uns momentos e pensar, enquanto nos dias antigos enxugavam a sua fronte. Que desertos ou que bosques lhes são desconhecidos? Que línguas não falaram? Que chaga corporal ou espiritual não curaram? Verdadeiramente em toda a terra soou a sua voz e até aos confins do mundo chegou a sua palavra de Apóstolos e Missionários.
VEM E VIVERÁS… Sob a protecção de Maria
A vocação dominicana nasce, aperfeiçoa-se e confirma-se sob a protecção de Maria, Rainha do Rosário. A Ordem Dominicana foi, desde o princípio, objecto de uma protecção muito especial da Santíssima Virgem. Assim o creram os primeiros religiosos que foram testemunhas dos favores singulares da Mãe do Céu, e a história mostra por mais de uma vez que essa crença era fundada. Os primeiros religiosos chamavam à Santíssima Virgem Fundadora, Protectora, Abadessa, Advogada da Ordem. A Ela atribuem a própria fundação da Ordem; e de certo, foi nas longas horas de oração, na capelinha de Nossa Senhora de Prouille, durante os dez anos de apostolado contra os Albigenses, que S. Domingos concebeu a ideia de uma Ordem de apóstolos cuja arma favorita havia de ser o Rosário de Maria. O próprio escapulário, parte principal do hábito dominicano, foi mostrado pela Virgem ao Beato Reginaldo.
“Domingos, o meu filho bem amado, foi uma luz que dei ao mundo por intermédio de Maria. Por intermédio de Maria, disse, e porquê? Porque foi Maria que lhe deu o hábito. A Ela, a minha bondade, confiou este encargo”. (O Eterno Pai a Santa Catarina de Sena) A história primitiva da Ordem (Vida dos Irmãos, III, 25) conta os diversos, testemunhos de carinho da Santíssima Virgem para com os religiosos que Ela chamava da sua Ordem. Algumas vezes de noite, enquanto os irmãos repousavam, Nossa Senhora percorria os dormitórios acompanhada por outros santos e abençoava os religiosos aspergindo-os com água benta.
Caro jovem, que desejas ser dominicano, vens para o nosso Seminário Apostólico e entrega a tua vocação a Maria. Sob a sua protecção serás fiel e tornar-te-ás Apóstolo de Cristo, como Domingos de Gusmão.
Dirigi o vosso pedido de admissão para a seguinte direcção
Padre Director do Seminário Apostólico Dominicano
ALDEIA NOVA – OLIVAL NORTE 4
ALDEIA NOVA – OLIVAL NORTE 4
Frei José Carlos,
ResponderEliminarFoi com curiosidade e grande satisfação que li a “Campanha Vocacional Dominicana dos anos 60”. É um documento intemporal, profundo, belo. Que importante seria divulgá-lo nos dias de hoje, com pequenos retoques! Talvez hoje haja mais vocações nos meios urbanos do que nas aldeias ... O cariz mundial que é dado à acção dos dominicanos é muito interessante e importante ...” Serás do número dos Filhos de S. Domingos de Gusmão de cujos feitos se escreveu o seguinte: «Todas as praias conservam os vestígios do seu sangue; todos os ventos o eco da sua voz. O índio, perseguido como animal selvagem, encontra um asilo debaixo do seu escapulário branco; o preto leva na fronte o sinal de um beijo amoroso; o chinês, o japonês, o timorense, separados do resto da terra mais por seus costumes que pelas distâncias, sentaram-se a escutar esses estrangeiros admiráveis… O Ganges contemplou-os a comunicar aos párias a sabedoria divina; as ruínas de Babilónia emprestaram-lhe uma pedra para repousar uns momentos e pensar, enquanto nos dias antigos enxugavam a sua fronte. Que desertos ou que bosques lhes são desconhecidos? Que línguas não falaram? Que chaga corporal ou espiritual não curaram? Verdadeiramente em toda a terra soou a sua voz e até aos confins do mundo chegou a sua palavra de Apóstolos e Missionários.”
Bem-haja por tudo e por esta maravilhosa partilha. Que o Senhor o abençõe.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva