segunda-feira, 5 de setembro de 2011

É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal? (Lc 6,9)

O Evangelho de São Lucas apresenta-nos mais um milagre de Jesus ao sábado, mais um desses acontecimentos em que Jesus entra em confronto com os escribas e fariseus por causa do sábado. Neste caso trata-se da cura de um homem que tinha a mão direita paralisada.
Conhecendo os pensamentos dos escribas e fariseus e sabendo da expectativa que albergavam relativamente à possibilidade de transgressão por sua parte, Jesus antes de proceder à cura confronta aqueles homens com a verdade do sábado, com o sentido verdadeiro e último do dia dedicado ao Senhor e ao descanso. Afinal o sábado existe para o bem do homem, para a sua salvação, ou para o mal e a sua morte?
Hipocritamente os fariseus e os escribas não respondem a Jesus, mas o seu mutismo patenteia a resposta óbvia, pois o sábado existia para a salvação do homem, para o encontro do homem consigo mesmo enquanto criatura divina e com o seu criador.
Neste sentido, a pergunta de Jesus e o cumprimento escrupuloso de alguns preceitos religiosos não pode deixar de nos questionar, não pode deixar de nos colocar nessa tensão entre o que se faz e porque se faz e nessa relatividade de tudo face ao valor fundamental do outro e do amor que lhe é devido pela criação divina.
Como exemplo desta necessidade de relatividade apontamos aquilo que todos os manuais de vida espiritual recomendam quando falam de um programa de vida diária, da necessidade de estabelecer uma ordem e um conjunto de prioridades e actividades para que o tempo não seja desperdiçado e seja vivido como um dom de Deus e para a nossa santificação e serviço do Reino.
Assim, se é necessário que haja um programa bem definido, actividades bem estabelecidas e organizadas, se não se deve faltar aos compromissos, tudo adquire uma outra dimensão e obrigatoriedade face à necessidade dos irmãos, face ao preceito da caridade. Os preceitos, os rituais, os exercícios de piedade, até algumas obrigações de estado passam a ser relativas face à necessidade dos irmãos, à necessidade de uma palavra, de um conforto, de uma ajuda.
O sábado, e como o sábado todos os preceitos, todos os deveres, devem ser orientados pelo amor; como nos diz São João, se não somos capazes de amar os nossos irmãos que vemos como vamos poder amar a Deus que não vemos. Se não somos capazes de amar o outro que nos pede ajuda como vamos poder expressar o amor a Deus através de um conjunto de gestos ou momentos que pretendem ser expressão de amor?Peçamos portanto ao Senhor que nos ilumine o coração para sabermos relativizar o que deve ser relativizado, e nunca nos deixarmos escravizar pelos preceitos, para dessa forma respondermos às solicitações dos irmãos.



1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O Evangelho do dia de hoje e o texto da Meditação que partilha connosco leva-nos a reflectir em situações com que nos defrontamos com relativa frequência e que nos colocam em tensão e implicam decisões: o cumprimento escrupuloso e ou relativo de alguns preceitos religiosos ou a atenção e/ou serviço que precisamos dedicar ao nosso irmão. O entendimento dos Ensinamentos de Jesus, o reconhecimento no nosso semelhante do rosto de Jesus ajudam-nos a estabelecer a escolha.
    Como nos salienta, ... “a pergunta de Jesus e o cumprimento escrupuloso de alguns preceitos religiosos não pode deixar de nos questionar, não pode deixar de nos colocar nessa tensão entre o que se faz e porque se faz e nessa relatividade de tudo face ao valor fundamental do outro e do amor que lhe é devido pela criação divina. (…)
    Que importante recordar-nos que …”O sábado, e como o sábado todos os preceitos, todos os deveres, devem ser orientados pelo amor;…” Se não somos capazes de amar o outro que nos pede ajuda como vamos poder expressar o amor a Deus através de um conjunto de gestos ou momentos que pretendem ser expressão de amor?”…
    E como recentemente nos lembrava e exortava …“Tudo isto no entanto só tem sentido se, como nos diz Jesus, não o deixarmos de ter como ponto de referência, como aquele a quem seguimos.”
    Peçamos ao Senhor juntamente com o Frei José Carlos …”que nos ilumine o coração para sabermos relativizar o que deve ser relativizado, e nunca nos deixarmos escravizar pelos preceitos, para dessa forma respondermos às solicitações dos irmãos.”
    Obrigada pela partilha da Meditação de um tema que foi e será sempre pertinente, difícil para alguns de nós, religiosos ou leigos. Bem-haja por nos questionar e nos fazer reflectir sobre as escolhas a fazer.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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