Se ontem apresentávamos o texto do prospecto vocacional dominicano para o Seminário Apostólico de Aldeia Nova, é justo que apresentemos as normas de admissão que também o constituíam. As duas partes formam um todo e mostram como para além da paixão, do entusiasmo, existiam a responsabilidade e o cuidado, uma grande dose de verdade e consciência face às circunstâncias.
Hoje o Seminário já não existe e as normas de admissão são bastante diferentes, uma vez que a totalidade das vocações é já de idade adulta. Contudo continuamos animados do mesmo espírito, da mesma paixão pela Palavra e pela pregação, e do mesmo rigor na admissão de candidatos. A Palavra de Deus e a vida dos vocacionados é demasiado importante para nos darmos ao luxo do desperdício e dos equívocos.
NORMAS PARA A ADMISSÃO DOS ALUNOS NO SEMINÁRIO APOSTÓLICO DOMINICANO
I – Natureza e fim do Seminário Apostólico
1 – O Seminário Apostólico ou Escola Apostólica é o Seminário menor da Ordem de S. Domingos onde os alunos recebem a sua formação de preparatórios e estudam a sua vocação religiosa.
2 – A vocação dominicana difere essencialmente da vocação para um Seminário diocesano. Pois o candidato deve vir animado do desejo de praticar aquilo que mais tarde há-de constituir a essência da sua vida religiosa, i. é, os três votos de pobreza, castidade e obediência:
3 – A vida religiosa, a que se destinam os candidatos da nossa Escola Apostólica, é uma vida de renúncia e sacrifício: Trabalhar só para Deus e do modo que Deus determinar pelos superiores. Os candidatos não podem, portanto, entrar para a Escola Apostólica com o fim de se dedicarem exclusivamente a tal ou tal género de actividade.
4 – O fim especial da Ordem dominicana é trabalhar ao serviço de Deus e da Santa Igreja sobretudo no ministério da pregação do ensino quer no Continente quer nas Missões.
II –O nosso critério na escolha dos alunos
5 – Para realizar este fim é necessária uma vocação especial, e nem todos os alunos que se apresentam possuem as qualidades requeridas: temos pois que operar entre eles uma selecção rigorosa.
6 – Para que as consequências desta selecção não melindrem aqueles que nos pedem admissão de algum aluno, julgamos conveniente lembrar o critério que o grande Pontífice Pio XI indicava aos superiores eclesiásticos:
“Assim como os superiores devem com toda a dedicação cultivar e fortalecer a vocação divina, assim também devem com não menor zelo afastar a tempo de um caminho que não é o seu, os jovens que, vejam desprovidos das qualidades necessárias e que prevejam serem inaptos para exercerem digna e honrosamente o ministério sacerdotal… e isto sem nenhuma consideração humana, sem essa falsa misericórdia que seria verdadeiramente crueldade não só para com a Igreja a quem dariam um ministro incapaz ou indigno, mas até para com o próprio jovem, que ficaria exposto a tornar-se uma pedra de escândalo para si e para os outros com perigo da sua salvação”.
7 – Se este rigor é necessário na escolha dos simples candidatos ao Seminário, quando mais necessário não será para aqueles que aspiram a uma vida mais perfeita, como é a vida religiosa.
III – Instruções aos Párocos e a quaisquer outras pessoas que desejam encaminhar jovens para o nosso Seminário.
8 – Não admitimos jovens com menos de 10 anos completos ou a completar brevemente, nem com mais de 14 a não ser que tenham já algum curso secundário ou reúnam qualidades que segundo o juízo do pároco, justifiquem excepção.
9 – Não admitimos filhos ilegítimos.
10 – Não admitimos jovens com doenças hereditárias ou qualquer tara, ou sejam necessários aos pais ou avós.
11 – Não admitimos jovens que não venham movidos do desejo sincero de se consagrar a Deus na vida sacerdotal e religiosa dominicana.
12 – Só procederemos à admissão de qualquer jovem depois do pároco ou outro sacerdote, idóneo para o efeito, nos ter enviado uma declaração em que se nos informe convenientemente sobre os seguintes pontos: a honestidade, reputação moral e social da família – consentimento em que seu filho seja sacerdote para ser todo de Deus e não por fins meramente terrenos, saúde, taras ou doenças contagiosas que haja na família (por exemplo: tuberculose, loucuras, epilepsia, histeria, imbecilidade, tendências para a imoralidade, furto, etc. – se os pais vivem ou já morreram e se de doença grave – facilidades em ajudarem nas despesas durante os primeiros 5 anos – sinais de vocação, piedade, índole, e demais aptidões do candidato, quer morais, quer intelectuais, quer físicas.
IV – Condições de admissão
13 – A Escola Apostólica é absolutamente pobre e não pode suportar o encargo das despesas totais dos alunos.
14 – Considerando que a maioria dos alunos não perseveram e que, portanto, a admissão gratuita seria um pesadíssimo encargo inútil para a Ordem, além de abrir a porta a graves abusos, e atendendo a que os pais compreensivos reconhecem ser moralmente um dever colaborar connosco materialmente, conforme as suas possibilidades, na formação dos seus filhos a quem Deus haja concedido a graça da vocação, estabelecemos as seguintes normas:
a) A pensão é constituída pela mensalidade de 200$00 paga por trimestre e sendo possível no princípio do mesmo.
b) A pensão será paga por si ou por outra pessoa que fique como benfeitora.
c) Quem não puder pagar toda a mensalidade deve entender-se com o Director da Escola por intermédio do pároco ou outro sacerdote idóneo para este efeito.
d) No princípio de cada ano cada aluno pagará 150$00 para a lavadeira, tratamentos médicos ordinários, propina e matrícula.
e) Além disso correm por conta dos próprios as despesas referentes a livros, objectos escolares e quaisquer outros extraordinários.
Observações – Não devem os pais admirar-se de exigirmos uma pensão dos alunos: somos absolutamente pobres, vivemos de esmolas; além disso a grande maioria dos alunos, depois de alguns anos de formação na nossa Escola, voltam para o seio das suas famílias constituindo para estas um benefício de que não somos recompensados. E se nós pedimos a todos os fiéis as suas esmolas para a formação dos nossos alunos, essas esmolas são um dever de justiça para os pais dos alunos que podem dá-las. Nós gastamos a média de 4.000$00 anuais com cada aluno, por isso os Rev.mos Párocos e os Pais devem indicar-nos a maior mensalidade que podem pagar. Neste ponto ninguém deve pedir favores nem nós os podemos fazer, porque seria roubar o lugar a outros mais pobrezinhos e talvez melhores. O pagamento das diferentes propinas só é exigido enquanto os alunos não resolvem definitivamente a sua entrada na Ordem pela Tomada de Hábito.
V – Exame de Admissão
15 – Qualquer candidato que pretende ser admitido no 1º ano tem de ser submetido a um exame de admissão prévio, em dia e lugar designados pelo Director depois de recebido o requerimento de admissão. O exame versará sobre as matérias da 4ª classe e do programa da Comunhão Solene.
16 – Quando o candidato já tiver frequentado algum curso secundário poderá ser submetido a provas sobre as matérias estudadas, se o Director o julgar conveniente.
VI – Documentos (a enviar para o Director do Seminário)
17 – Os jovens que pretenderem ser admitidos na nossa Escola Apostólica ou Seminário Apostólico devem enviar ao Rev.mo Padre Director um requerimento assinado por si próprios e concebido nos seguintes termos: Rev.mo Senhor Padre Director do Seminário Apostólico Dominicano: Eu, abaixo assinado, filho legitimo de... e de..., natural da freguesia de..., concelho de..., diocese de…, sentindo desejo de abraçar a vida sacerdotal e religiosa na Ordem de S. Domingos, e tendo já o exame de segundo grau e as demais condições requeridas, peço a V. Rev.ª se digne admitir-me como aluno desse Seminário. (Data e assinatura)
18 – Junto com o requerimento deve vir a declaração do Pároco, informando como fica indicado no nº 12.
19 – Se o requerimento for deferido o aluno receberá aviso do dia e lugar em que deve comparecer para o exame indicado nestas normas. Deverá então trazer consigo:
1º Certidão de Baptismo e do Crisma (se já o tiver recebido).
2º Certificado do exame de segundo grau ou de outros exames de ensino secundário.
3º Uma declaração do Pai, Mãe ou tutor, reconhecida pelo Rev.mo Pároco ou por notário e concebida nos seguintes termos: Eu, abaixo-assinado, declaro que não oponho obstáculos a que meu filho (nome)..., entre na Escola Apostólica Dominicana e nela siga a vocação sacerdotal e religiosa da Ordem de S. Domingos. Comprometo-me também a pagar a mensalidade que lhe for indicada e a recebê-lo de novo se por qualquer motivo ele não quiser ou não puder seguir. (Data e assinatura reconhecida)
20 – Se o aluno for aprovado no exame receberá o documento da sua admissão com a indicação do dia em que deve entrar e do nº que lhe for designado e com o qual poderá marcar o seu enxoval.
VII – Enxoval
21 – Os candidatos deverão trazer o seguinte enxoval: 4 camisas, 4 camisolas, 4 ceroulas, ou cuecas, 8 pares de meias, 10 lenços, 4 guardanapos, 4 toalhas de rosto, 4 lençóis, 4 travesseiros, 4 travesseiras, 2 ou 3 cobertores, 1 coberta branca, 2 fatos (um bom, outro para uso ordinário), 1 boina preta, 2 gravatas, 1 par de botas ou sapatos bons, 1 par de botas ou sapatos fortes, 1 escova de fato, calçado e dentes, 1 copo, 2 pentes (um grande e um pequeno), 1 bolsa pequena para estes objectos, 1 ou 2 bolsas grandes para a roupa que servirão também para a roupa suja. Quem quiser pode trazer mais peças de roupa que as indicadas nesta lista. 22 – Os alunos deverão possuir 2 blusas ou guarda-pós pretos que podem trazer de casa ou ser feitos no Seminário, O fato para uso diário pode ser de cotim escuro. Fica ao critério da família de cada aluno a roupa exterior de agasalho.
NOTA IMPORTANTE
Rogamos a todas as pessoas, religiosos, Irmãs ou Irmãos Terceiros que encaminhem jovens para o nosso Seminário, como já é costume, procurem que toda a documentação referente à admissão chegue à Secretaria do Seminário por intermédio dos Reverendos Párocos dos candidatos.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por haver completado o texto do prospecto vocacional dominicano para o Seminário Apostólico de Aldeia Nova com as normas para a admissão dos alunos. Li com interesse as normas mas o “critério na escolha dos alunos”, lembrando o critério do Pontífice Pio XI fez-me reflectir pelo rigor ainda que possamos pressupor que seria natural haver desistências.
Obrigada pela partilha que considero interessante. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva