Aproximando-se os dias da sua passagem para o Pai, Jesus assume corajosamente o caminho para Jerusalém, para o fim trágico que o espera. E não querendo perder tempo assume atravessar a região da Samaria.
Não podemos estranhar que os samaritanos não o tivessem recebido, que se tivessem recusado a dar-lhe acolhimento, ainda que fosse um mestre, alguém certamente até conhecido de alguns deles.
O facto de Jesus se dirigir a Jerusalém acarreta por si só incompatibilidades e razões para essa recusa, pois Jesus não só se dirige à capital dos irmãos inimigos, como se dirige ao templo, a esse lugar concorrente com o santuário que os samaritanos também tinham no monte Garizim. Que necessidade havia de subir a Jerusalém para o culto se também ali se podia prestar culto ao mesmo Deus?
É perante esta recusa que Tiago e João perguntam a Jesus se deseja que enviem fogo sobre aquela povoação, se deseja uma vingança face à afronta sofrida por parte daqueles samaritanos. Tiago e João trazem à memória esse mesmo fogo que um dia o profeta Elias tinha feito descer do céu sobre os solados do rei Acazias (2 Rs 1,10-14).
Este pedido de Tiago e João, corroborado certamente pelos outros discípulos, mostra como estão profundamente imbuídos de um desejo de poder, como se encontram profundamente imersos numa concepção humana do Reino de que Jesus fala, como se deixam vencer pelos sentimentos mais baixos e distantes daquilo que o Mestre ensina.
Tiago e João, bem como os outros discípulos, mostram por esta reacção como se encontram ainda bem longe da compreensão dos ensinamentos de Jesus, como há ainda uma caminhada a fazer para que possam olhar de frente o outro como um irmão e não como um inimigo a abater.
Face a tal proposta, Jesus não só seguiu em frente, procurando outra povoação que os acolhesse, como repreendeu fortemente os dois discípulos pelo desejado. Não era isso que ele desejava, e se em algum momento tinha dito que desejava que o fogo do céu se espalhasse pela terra e de uma forma violenta, não era neste sentido de castigo ou vingança. Esse fogo divino era o Espírito Santo e desejava que se espalhasse violentamente no sentido de força de conversão, de capacidade de alteração de vida e princípios, de motor de implantação do mandamento do amor.
Também nós em muitas situações, face a muitas realidades que nos abalam as certezas, as convicções, que nos questionam, pensamos e aspiramos a uma força que nos elimine da frente o que nos provoca e questiona. Face a algumas afrontas desejamos a vingança. Removemo-nos nos nossos sentimentos mais baixos e mesquinhos, no nosso orgulho ferido, esquecendo-nos que nada aí encontraremos que nos ajude a dar um passo em frente, a fazer a verdadeira alteração, a encontrar a resposta.
Necessitamos por isso de pedir ao Senhor que nos envie o fogo do céu, não sobre os outros, mas sobre nós próprios, para que nos possamos encontrar com essa força que nos altera e nos converte, que pode implementar em nós o verdadeiro exercício do mandamento do amor.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarÀ semelhança de Tiago e João alguns de nós ...” estamos longe, ainda bem longe da compreensão dos ensinamentos de Jesus, como há ainda uma caminhada a fazer para que possamos olhar de frente o outro como um irmão e não como um inimigo a abater”…
Como nos diz no texto da Meditação que partilha connosco …” Também nós em muitas situações, face a muitas realidades que nos abalam as certezas, as convicções, que nos questionam, pensamos e aspiramos a uma força que nos elimine da frente o que nos provoca e questiona.(…)
Como nos exorta, peçamos ao Senhor “que nos envie o fogo do céu, não sobre os outros, mas sobre nós próprios, para que nos possamos encontrar com essa força que nos altera e nos converte, que pode implementar em nós o verdadeiro exercício do mandamento do amor.”
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha que nos faz reflectir sobre os nossos pensamentos e desejos para não nos deixarmos vencer pelos sentimentos menos nobres e que nos afastam dos ensinamentos de Jesus. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
Belo texto, me falou em um momento de amargura. Orei pela intenção de conversão. E per. sua vida, meu bom Frei José Carlos.
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