sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Carta do Vigário Provincial Padre Gaudrault na Abertura do Noviciado em Sintra

Continuando a apresentação do fundo documental da restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores, divulgamos a Carta que o Vigário Geral, o Padre frei Pio Gaudrault, enviou aos irmãos do Vicariato pela ocasião da reabertura do noviciado na casa de São Pedro em Sintra.
Podemos imaginar a alegria, a esperança e certamente também os temores que habitavam os corações do Padre Gaudrault e dos outros frades que compunham o Vicariato e se lançavam neste novo desafio. Contudo, e para que a obra pudesse chegar a bom porto, o Padre Gaudrault não escamoteia as responsabilidades pessoais e comunitárias, a oração, a exemplaridade de vida, o trabalho apostólico. A formação dos religiosos é afinal uma grande obra de colaboração.

Quinta de S. Pedro
SINTRA, l de Dezembro de 1949
Meus, Reverendos Padres e mui caros irmãos
Como já é do vosso conhecimento, teremos a grande alegria de reabrir o nosso Noviciado. Recebi do Rev.mo Padre Geral, em 26 de Novembro, todos os documentos respeitantes à erecção canónica do Convento e do Noviciado, à nomeação do primeiro Prior e do Padre Mestre e concedendo todas as dispensas que nos são necessárias nas presentes circunstâncias. O Rev.mo Padre deu-me, também, todos os poderes para a nomeação dos outros oficiais do Convento e do Noviciado.
Demos graças a Deus, meus Reverendos Padres e mui caros irmãos, por esta grande graça que Ele se digna conceder-nos. È um acontecimento importante e decisivo para a obra da nossa restauração que todos nós temos a peito. Todos e cada um, dos religiosos do Vicariato devem agradecer a Deus, a Nossa Senhora do Rosário de Fátima e ao nosso Bem-aventurado Pai S. Domingos o terem tornado possível esta erecção do Noviciado em Portugal, o primeiro Noviciado “em terra nossa” depois de 1834,ou seja depois de uma interrupção de cento e quinze anos!
Patentearemos o nosso reconhecimento a Deus, à Sua santa Mãe e ao nosso santo Fundador com uma vida religiosa mais fiel, mais intensa. A nossa vida, mais regular e vivida mais profundamente, será além de uma oração de reconhecimento, uma prece suplicante para que Deus abençoe os nossos esforços, para que o nosso Noviciado seja uma casa de formação religiosa verdadeiramente digna dos filhos de S. Domingos que possam, reerguer e continuar a obra dos antigos Padres e Irmãos da vetusta Província Lusitana.
Faremos, aqui no Noviciado, tudo o que nos for possível. Fazei, da vossa parte, nas vossas casas e onde quer que vos encontreis, o que vos incumbe. A formação de religiosos é uma grande obra de colaboração. Tudo: as vossas orações, a vossa vida, as vossas obras, os vossos exemplos, deve contribuir para nossa ajuda. Nesta obra comum cada um é responsável pelos seus irmãos.
Muito esperamos dos nossos noviços clérigos e conversos, destes filhos amimados de Deus. Serão eles os nossos primeiros noviços em Portugal, os primeiros beneficiários dessa bênção de Deus. Incumbe-lhes serem os melhores, entregarem-se totalmente à sua vida religiosa, deixarem-se formar profundamente, abrirem de par em par a sua alma às efusões da graça, impregnarem-se, na medida do possível das virtudes religiosas e do espírito de S. Domingos. Ao dar-lhes o santo hábito, pedirei ao nosso B.do Pai que infunda neles o espírito dos seus primeiros discípulos, daqueles que ele próprio vestiu com as suas vestes, em Prouille e em Santa Sabina.
É, com efeito, este o pensamento e desejo do nosso Rev.mo Padre Geral, expresso numa carta que acaba de escrever-me e de que vos quero citar uma passagem:
“Na ocasião da reabertura do Noviciado nessa antiga Província, após uma longa supressão, sinto grande alegria ao verificar como o Nosso Santo Fundador nos abençoa e quer voltar triunfante com os seus Filhos a Portugal. Permita ele que estes alicerces que agora lançais com a abertura do Noviciado sejam fundamentos sólidos para construir sobre eles a verdadeira vida dominicana e a plena restauração duma tão gloriosa Província da Ordem.”
Podemos nós desejar um incitamento mais eficaz? Que estes elevados pensamentos do Rev.mo Padre Geral nos animem e estimulem à realização dos seus desejos que o mesmo é dizer à realização da nossa vocação: “a verdadeira vida dominicana e a restauração duma tão gloriosa Província da Ordem”.
Quero aqui exprimir ao Rev.mo Padre Geral o meu mui vivo reconhecimento por tudo quanto fez, em tão pouco tempo, em favor do Vicariato de Portugal e especialmente pela reabertura do nosso Noviciado. Exprimo também a esperança de que a nossa vida e as nossas obras o recompensarão de tanta solicitude a nosso respeito.
Como Vigário do Rev.mo Padre Geral, tenho a faculdade de ordenar, como imperada, uma oração à missa. E assim, para agradecermos a Deus por nos ter abençoado, diremos a todas as missas, excepto nas festas de 1ª classe, as orações da missa votiva: Pro gratiis Deo reddendis de beneficiis acceptis, observando todavia as rubricas sobre as orações imperadas. Havereis de começar a dizer esta oração imperada a partir da recepção desta carta e continuareis a dizê-la até ao dia 1 de Fevereiro.
Continuemos ainda a merecer que os recrutamentos se tornem numerosos, afim de que dentro de alguns anos – tenhamos essa esperança – possamos dar mais um passo em frente organizando o nosso colégio de Filosofia.
Na satisfação do que já está realizado e com a esperança de novos progressos, asseguro-vos dos meus melhores sentimentos e rogo que me creiais
Vosso religiosamente dedicado em S. D.
Fr. Pio M. Gaudralt, O.P.
Vigário Geral





1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da carta que o Vigário Provincial Padre Gaudrault enviou aos irmãos do Vicariato pela ocasião da abertura do noviciado em Sintra é muito interessante nos diferentes assuntos que aborda por forma a que o “noviciado seja uma casa de formação religiosa verdadeiramente digna dos filhos de S. Domingos que possam, reerguer e continuar a obra dos antigos Padres e Irmãos da vetusta Província Lusitana”.
    É como o Frei José Carlos refere ...” A formação dos religiosos é afinal uma grande obra de colaboração.”
    Obrigada pela partilha, com a qual aprendemos sempre. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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