sábado, 16 de fevereiro de 2013

Jesus viu um publicano chamado Levi. (Lc 5,27)

Já faz parte do nosso mundo e da nossa cultura economicista encontrarmos homens e mulheres que se dedicam a procurar outros homens e mulheres que correspondam aos requisitos necessários para desempenhar determinada função ou profissão.
Desde o mundo do desporto às universidades sabemos que os contactos são importantes, que há um perfil a estabelecer, um curriculum-vitae a aperfeiçoar e a enriquecer. Desde o primeiro momento temos que partir com a melhor e mais completa bagagem.
Ao passar junto de Levi, e ao chamá-lo para a sua “empresa”, a lógica de Jesus afasta-se da nossa lógica capitalista e produtiva. Sabendo o que sabemos de Levi, que era um cobrador de impostos, uma pessoa cujo curriculum-vitae deixava a desejar, porquê chamá-lo, que lugar poderia ocupar na companhia de Jesus, que missão a desempenhar?
Na nossa lógica, segundo os nossos esquemas, Levi não tinha o perfil ideal para a tarefa e a missão, e assim automaticamente seria o primeiro a ser excluído da selecção, ou nem sequer o teríamos em conta.
Contudo, à luz do programa e da missão de Jesus, Levi é a pessoa ideal, é aquela que de facto se pode colocar no papel perfilado; Levi é um pecador, é um doente, é aquele que necessita da oportunidade de Jesus. E eis que ela se lhe oferece.
Este convite de Jesus, esta “contratação”, é para nós no início da Quaresma um alento, um incentivo, pois Jesus não vem procurar os mais dotados, os perfeitos, os que estão sãos, mas vem ao encontro daqueles que estão doentes, das ovelhas perdidas, dos que necessitam que se lhes estenda a mão e se lhes ofereça uma oportunidade.
O ponto de partida não é o mais brilhante, não é o mais famoso, temos muito que aprender e talvez poucas aptidões, mas é desta situação e desta realidade que Jesus nos chama.
Ao chamar-nos para o seguirmos, Jesus lança-nos num caminho de conversão, tal como lançou Levi, num caminho que nos leva a descobrir a misericórdia de Deus e o seu amor.
Ao tacteá-lo, ao experimentar vivê-lo vamos sendo testemunhas dessa mesma misericórdia e desse mesmo amor, face aos quais nos podemos perguntar: haverá profissão, missão, mais sublime?
 
Ilustração: “O chamamento de São Mateus”, de Theodor van Loon, Museu Nacional de Varsóvia.

5 comentários:

  1. Revº Frei José,
    Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

    gostaria de ter conhecimento da referência (documento) de onde retirou o Sermão de Santo António pregado pelo Padre Mestre frei João Franco em 1721 no Porto.

    Muito agradecido,

    PAX

    Rui Machado

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    1. Boa noite Rui Machado
      O Sermão do Padre Mestre frei João Franco de que deseja saber a referência encontra-se no Tomo XI dos Sermões Vários, publicado em Lisboa, em 1741, na Oficina dos Herdeiros de António Pedroso Galram, páginas 413 a 433.

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    2. Revº Frei José,
      muito agradecido pela rápida resposta.

      Possa V. Revª ver Nosso Senhor Jesus Cristo retornar na Glória, com seus anjos.

      PAX

      Rui

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  2. Frei José Carlos,

    Ao ler este texto da Homilia do Evangelho de São Lucas,muito profundo cheio de sentido,que nos ajuda a Meditar mais profundamente,neste tempo de Quaresma.Como nos diz o Frei José Carlos,o ponto de partida não é o mais brilhante,não é o mais famoso,temos muito que aprender e talvez poucas aptidões,mas é desta situação e desta realidade que Jesus nos chama.
    Obrigada,Frei josé Carlos,pelas suas palavras partilhadas connosco,e pela beleza da ilustração,que muito gostei.desejo-lhe uma boa noite e um bom fim de semana.Que o Senhor o guarde e o abençoe.
    Um Abraço fraterno.
    AD e IR

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  3. Frei José Carlos,

    Como nos afirma, …”na nossa lógica, segundo os nossos esquemas, Levi não tinha o perfil ideal para a tarefa e a missão, e assim automaticamente seria o primeiro a ser excluído da selecção, ou nem sequer o teríamos em conta.”
    O convite feito a Levi também se dirige a alguns de nós, como nos salienta …” Este convite de Jesus, esta “contratação”, é para nós no início da Quaresma um alento, um incentivo, pois Jesus não vem procurar os mais dotados, os perfeitos, os que estão sãos, mas vem ao encontro daqueles que estão doentes, das ovelhas perdidas, dos que necessitam que se lhes estenda a mão e se lhes ofereça uma oportunidade. (…)
    (…) temos muito que aprender e talvez poucas aptidões, mas é desta situação e desta realidade que Jesus nos chama.”…
    A misericórdia de Jesus para connosco, o convite que nos faz para segui-Lo à semelhança de Levi, é simultaneamente motivo de reflexão para as mãos que se estendem para nós sem as vermos, para as vozes que nos interpelam e que não temos tempo de escutar, às várias formas de necessidade sem expressão que encontramos no trilho que vamos percorrendo no quotidiano.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, maravilhosamente ilustradas, de estímulo à conversão, ao recordar-nos que …” Ao chamar-nos para o seguirmos, Jesus lança-nos num caminho de conversão, tal como lançou Levi, num caminho que nos leva a descobrir a misericórdia de Deus e o seu amor”.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Bom descanso.
    Votos de um domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que volte a partilhar um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    levanta-te e anda


    a cada um de nós é dada esta ordem:/”levanta-te e anda”/a fé é um nascimento e um caminho a andar//

    a impotência assumida na fé/tem valor de poder que salva//

    não basta estar de acordo com a mensagem recebida/basta sim o acolhimento da passagem do anjo/que assinala
    o túmulo aberto/basta acreditar no perfume do jardim da páscoa//

    não te rendas às evidências sensíveis/nem dês realidade à morte de que foges//

    que a Palavra de vida nos acorde/desse lugar cómodo/a partir do qual julgamos saber do que falamos/a vida e a morte/
    mal definidas sempre//

    que o revelador nos inicie/no mistério da incorruptibilidade/e da alegria//


    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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