quinta-feira, 27 de junho de 2013

A escrava que é construção sobre a areia (Mt 7,26 e Gn 16,6)

Neste dia em que na leitura do Evangelho de São Mateus Jesus nos convida a construir sobre a rocha é bom olhar para a leitura do Livro do Génesis e para a história de Sara e Agar a partir deste convite de Jesus.
Sara, incapaz de gerar um filho e herdeiro para o seu marido, oferece Agar, a sua escrava egípcia, para que o marido possa ter uma descendência e alguém a quem deixar a sua herança.
Sem ter em conta a promessa de uma descendência feita a Abraão, Sara decide tomar o futuro em suas mãos, decide assegurar pelos meios que lhe são possíveis a promessa que parecia não se cumprir.
À sua maneira, Sara constrói sobre a areia, constrói sobre a sua vontade e o seu poder, sobre as suas capacidades e forças para resolver a situação e assegurar o futuro. Sara esquece a promessa de Deus.
Também nós construímos sobre a areia, sobre a fragilidade e inconstância de areia, não só quando não escutamos a Palavra de Deus e nos esquecemos de fundar a nossa vida nela, mas também quando procuramos uma resposta, uma solução, um caminho alicerçado exclusivamente nas nossas forças e capacidades.
Ainda que a resposta, tal como a escrava Agar, esteja nas nossas mãos e façamos o que nos pareça melhor, a verdade é que se não contamos com a promessa de Deus, com o poder da sua acção, terminamos por deparar-nos com uma fuga, com a deserção daquela que pensávamos ter em nosso poder, nas nossas mãos.
Neste sentido temos que ter presente as palavras de Jesus que antecedem a metáfora da construção sobre a rocha ou sobre a areia. Tal como Jesus diz, podemos fazer muitas coisas, podemos até fazer milagres, podemos chamar Deus por Pai e Senhor, mas se não fizermos a vontade do Pai que está nos céus, tudo será uma construção na areia, uma fragilidade que qualquer contratempo, qualquer ameaça deitará por terra.
Procuremos pois estar atentos à vontade de Deus, à sua promessa de vida, colocando da nossa parte o que nos compete para a realização da promessa, mas precedendo sempre cada acção com o sentido e o juízo das palavras de Jesus: “Pai que não se faça a minha vontade mas a tua!”
 
Ilustração: “Sara conduzindo Agar a Abraão”, de Matthias Stom, Gemaldegaleria, Berlim.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao ler o Evangelho de São Mateus,Jesus convida-nos a construir sobre a rocha e também a olhar sobre a leitura do livro do Génesis,e para a história de Sara e de Agar.Saibamos nós também construir sobre a rocha firme como Agar que seguiu o convite de Jesus.Que eu na minha vida no dia a dia, esteja atenta sempre ao convite de Jesus.Com nos diz o Frei José Carlos...Procuremos pois estar atentos à vontade de Deus,à sua promessa de vida,colocando da nossa parte o que nos compete para a realização da promessa,mas precedendo sempre cada acção com o sentido e o juízo das palavras de Jesus:"Pai que não se faça a minha vontade mas a tua!" Às vezes é tão difícil.Obrigada,Frei José Carlos,pelas palavras partilhdas,tão profundas e pela maravilhosa ilustração.Votos de uma boa noite.Que o Senhor o ilumine o proteja e o abençoe.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. "Pai, que não se faça a minha vontade mas a Tua"
    Como era importante dizer isto, com convicção, cada dia e em cada circunstância!
    Mas mais do que dizer era sentir, acreditando que "nada acontece por acaso" e que Deus está sempre presente, mesmo quando adormecemos à espera de entregar a oferta. Inter Pars

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  3. Frei José Carlos,

    É muito interessante a interpretação cruzada da leitura do Livro do Génesis e do excerto do Evangelho de São Mateus (7, 21-29) que elaborou e que se complementam para levar-nos a reflectir sobre os nossos comportamentos quando nos assinala que …” Também nós construímos sobre a areia, sobre a fragilidade e inconstância de areia, não só quando não escutamos a Palavra de Deus e nos esquecemos de fundar a nossa vida nela, mas também quando procuramos uma resposta, uma solução, um caminho alicerçado exclusivamente nas nossas forças e capacidades.”…
    Com que facilidade alguns de nós actua como refere nas mais diversas situações, esquecendo-nos de que não estamos sós, que Deus não nos abandona, confiando no silêncio do Senhor hoje e no futuro, estando atentos à Sua escuta e a receber cada dia como um dom.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas e que nos desinstalam, mas nas quais precisamos meditar com frequência, por exortar-nos a…” estar atentos à vontade de Deus, à sua promessa de vida, colocando da nossa parte o que nos compete para a realização da promessa, mas precedendo sempre cada acção com o sentido e o juízo das palavras de Jesus: “Pai que não se faça a minha vontade mas a tua!””.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Boa noite e bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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