domingo, 2 de junho de 2013

Homília da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

Celebramos hoje de modo solene e festivo o mistério da Eucaristia, o mistério da presença real do corpo e sangue de Jesus nas espécies eucarísticas do pão e do vinho transubstanciadas pela acção do Espirito Santo, celebramos a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
A Igreja sempre teve consciência desta presença, deste mistério, mas só no século treze e com as visões de Santa Juliana Cornillon se instituiu uma festa particular para comemorar e venerar este mistério, festa para a qual contribuiu anos mais tarde São Tomás de Aquino ao compor os textos e hinos para a celebração.
Das leituras que escutámos, a leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios coloca-nos diante do acontecimento instituidor do mistério que celebramos, a última ceia de Jesus com os apóstolos e o mandato de comemoração daquele gesto que antecipava a entrega de vida de Jesus.
Tal como diz São Paulo aos Coríntios é um gesto, é uma memória, que perpetua no tempo o sacrifício de Jesus, a sua paixão, morte e ressurreição, a sua vida entregue por amor para redenção dos homens. Mas é igualmente a memória do acolhimento por parte de Deus Pai desse dom do Filho, acolhimento expresso na ressurreição ao terceiro dia.
Ao festejarmos o Mistério do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo festejamos e entramos na lógica da presença de Deus juntos dos homens, nessa alegria que a Sabedoria manifestou quando disse que as suas delícias eram habitar com os homens, partilhar as suas vidas.
O Mistério do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo coloca-nos face à habitação de Deus, Trindade Santa, junto dos homens, face à proximidade de Deus que se deixa tocar, que se faz alimento, que se faz presença viva visível.
Neste sentido, não podemos deixar de ter presentes a primeira leitura do Livro do Génesis e a acção de Melquisedec, sacerdote e rei, e a invocação de Jesus sobre os cinco pães e os dois peixes da leitura do Evangelho de São Lucas. Se Jesus pronuncia a bênção sobre o pão para que ele possa alimentar cinco mil pessoas, Melquisedec pronuncia a bênção sobre Abraão para que Deus esteja com ele na vitória sobre os inimigos.
O corpo e o sangue de Cristo presentes nas espécies do pão e do vinho são assim também para cada um de nós uma bênção, uma fonte de fecundidade para a frutificação dos nossos dons e das nossas vidas, assim como uma protecção contra os nossos inimigos, uma força no combate contra o mal pela fidelidade ao bem de Deus.
Assim a Eucaristia, o mistério da presença do Corpo e Sangue de Cristo, não só nos alcança o mistério da nossa salvação como também nos integra nele, nos assume como parte integrante.
E esta integração processa-se de uma forma activa, de uma forma participativa, respondendo ao propósito de Jesus para com os discípulos quando lhes mandou dar de comer à multidão que os rodeava. Também nós hoje somos convidados por Jesus a dar de comer aos nossos irmãos.
Tarefa que passa pela solidariedade com aqueles que não tem nada, com a partilha do pão físico, mas também pela tarefa da bênção, de alimentar tantos homens e mulheres aos quais não falta o pão mas falta o sentido para a vida, uma orientação face a tantos escolhos e solicitações divergentes.
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e todos os gestos de veneração e adoração a que somos convidados neste dia, como as procissões ou a adoração do Santíssimo, devem conduzir-nos a essa consciência da presença de Deus, da veneração que lhe é devida, mas igualmente à veneração que é devida aos nossos irmãos e irmãs, verdadeiros templos do Espirito Santo, outras presenças vivas e reais de Deus e aos quais somos convidados a alimentar pelo próprio alimento divino que tomamos.
Nós que tudo recebemos cada vez que comemos deste Pão e bebemos deste Vinho, que recebemos a bênção de Deus nesta presença real, somos convidados a transubstanciar essa mesma presença fazendo-nos presença real junto dos outros.
Que o Espirito Santo nos transforme e transubstancie em pão vivo e de vida junto de todos os nossos irmãos e irmãs que necessitam e esperam famintos.
 
Ilustração: Vitral da Última Ceia na Capela dos Macabeus na Catedral de São Pedro em Genebra.  

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    As leituras e o excerto do Evangelho de São Lucas e a abordagem que Frei José Carlos faz do mistério da Eucaristia no texto da Homília da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo que elaborou, levou-me à reflexão sobre à realidade que vivemos em todos os Continentes sem excepção, com as especifidades do Continente europeu e da União Económica em que nos inserimos e à actualidade do diálogo de Jesus com os discípulos, ao dom de Jesus, à força do Seu amor pelo homem, da partilha, da solidariedade voluntária, não imposta, que para cúmulo, não se traduz numa solução de equilíbrio que a maior parte de nós deseja, independetemente do credo que professe. É no amor a Jesus e ao nosso próximo, no compromisso de cada um de nós com a construção de um mundo mais justo e solidário que podemos encontrar a nossa vida, dando-a e oferecendo-a a Jesus ressuscitado.
    Como nos salienta no texto …” Também nós hoje somos convidados por Jesus a dar de comer aos nossos irmãos.
    Tarefa que passa pela solidariedade com aqueles que não têm nada, com a partilha do pão físico, mas também pela tarefa da bênção, de alimentar tantos homens e mulheres aos quais não falta o pão mas falta o sentido para a vida, uma orientação face a tantos escolhos e solicitações divergentes.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homília, profunda, que nos desinstala, que nos questiona sobre os nossos comportamentos, sobre a coerência dos mesmos. Bela ilustração. Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Votos de boa semana. Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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