Terminadas as
parábolas sobre o Reino de Deus e as explicações do sentido das mesmas, Jesus
pergunta aos discípulos se eles tinham compreendido tudo o que lhes tinha
ensinado.
À resposta afirmativa dos
discípulos, Jesus contrapõe a imagem e a atitude do pai de família que do seu
tesouro tira coisas novas e velhas.
Imediatamente, e como
conclusão do capítulo treze do seu Evangelho, São Mateus coloca Jesus a visitar
a sua terra, a ensinar na sinagoga, facto que provoca a murmuração e a
desconfiança dos seus conterrâneos.
Aqueles homens e
mulheres, ainda que conhecedores dos milagres de Jesus, ainda que admirados da
sua palavra e da sua doutrina, até ao ponto de se interrogarem de onde lhe
vinha tanta sabedoria, não foram contudo capazes da atitude do pai de família,
não foram capazes de assumir o que era velho, o que fazia parte dos seus
conhecimentos, e o que era novo, o que desconheciam de Jesus.
Esta circunstância,
este encerramento no conhecimento que tinham, inviabilizou a realização de
milagres na terra natal de Jesus, pois falta-lhes a fé e a abertura para o
acolhimento do novo e do inusitado.
Também connosco
acontece muitas vezes o mesmo, também facilmente nos deixamos fechar naquilo
que conhecemos ou acreditamos do outro. Como em tantas outras realidades
pensamos saber tudo, acreditamos possuir todo o conhecimento e toda a verdade
sobre as coisas ou sobre o outro.
Este conhecimento à
priori, este preconceito com o que acarreta de omnisciência ilusória, fecha-nos
a porta à novidade e com ela à vida que nos surpreende. Estes preconceitos são
como que uma recusa do futuro, de uma outra possibilidade, uma negação da
esperança, como se pudéssemos impedir ou limitar o Espirito de soprar onde quer
e como quer.
A Boa Nova de Jesus, o
acolhimento de Jesus de Nazaré, é assim um convite à abertura, à
disponibilidade, ao acolhimento do outro e da novidade que encerra, a um querer
ver para além do que os olhos permitem.
Deixemos portanto o
Espirito abrir os nossos olhos e o nosso coração de modo a podermos perceber a presença
tantas vezes incompreendida de Deus no grande dom que são os outros e que é a
vida.
Que Jesus nos ensine a receber a Boa Nova com a infinita capacidade que tantas vezes o Seu dom do Espíto Santo nos permite escutar.
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarOs preconceitos relativamente ao outro são fruto das nossas inseguranças, fragilidades ou falsos complexos de superioridade e incoerências que nos levam à desconfiança, a fechar-nos, a não dialogar, a não escutar, a não colaborar/cooperar, a não sabermos, frequentemente, enriquecer-nos mutuamente, a não conseguirmos relacionar-nos emocionalmente, a não …”perceber a presença tantas vezes incompreendida de Deus no grande dom que são os outros e que é a vida”, como nos recorda. Aconteceu com Jesus e sucede-nos ao longo da vida nas mais diversas dimensões. Como escrevia Fernando Pessoa “somos da altura do que vemos e não simplesmente da nossa altura”.
Como afirma no texto da Meditação que teceu …”Estes preconceitos são como que uma recusa do futuro, de uma outra possibilidade, uma negação da esperança, como se pudéssemos impedir ou limitar o Espirito de soprar onde quer e como quer.”…
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, que nos ajudam a reflectir e a ganhar coragem para vasculhar as teias que ainda nos aprisionam, a descentrar-nos, a aperfeiçoar-nos. Bem-haja por salientar-nos que …”A Boa Nova de Jesus, o acolhimento de Jesus de Nazaré, é assim um convite à abertura, à disponibilidade, ao acolhimento do outro e da novidade que encerra, a um querer ver para além do que os olhos permitem.”
Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Boa noite e bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Bela ilustração! Permita-me que partilhe um poema para rezar.
O GOSTO DOS
CAMINHOS
RECOMEÇADOS
O que te peço, Senhor, é a graça de ser. Não te peço sapatos, peço-te caminhos. O gosto dos caminhos recomeçados, com suas surpresas e suas mudanças. Não te peço coisas para segurar, mas que as minhas mãos vazias se entusiasmem na construção da vida. Não te peço que pares o tempo na minha imagem predilecta, mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo como uma nova oportunidade. Afasta de mim as palavras que servem para evocar cansaços, desânimos, distâncias. Que eu não pense saber já tudo acerca de mim e dos outros. Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho, sei que posso ser, ser simplesmente. É isso que te peço, Senhor: a graça de ser de novo.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)