Todo o homem na sua
vida e na sua história se confronta com estas três questões: quem sou, de onde
venho, e para onde vou. As respostas que cada homem e mulher procura dar a
essas questões determinam a resposta que cada um dá também à pergunta que
coloca o homem rico da parábola que Jesus contou: que hei-de fazer?
Inegavelmente, saber
quem somos, de onde vimos, e para onde vamos, determina e orienta o que
fazemos, como o fazemos e porque o fazemos. As leituras deste domingo da Liturgia
da Palavra oferecem-nos alguns pontos de reflexão neste sentido das respostas a
encontrar e a dar.
A leitura da Carta de
São Paulo aos Colossenses oferece-nos uma resposta para a questão de quem
somos, uma vez que nos diz que estamos mortos, despojados do homem velho, e a
nossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Pelo baptismo, e hoje
temos a alegria de poder celebrar o baptismo da Laura, do Rodrigo e da Barbara
durante esta celebração, despojamo-nos do homem velho, do homem centrado apenas
em si, do homem com uma vida limitada apenas à sua condição biológica finita.
Pelo baptismo
assumimos a vida nova da graça, a vida que Deus nos oferece em Jesus, uma vida
verdadeiramente escondida porque é divina, mas que nos marca e diferencia de
toda a outra espécie de vida. Uma vida invisível aos nossos olhos, mas uma vida
eterna e para a eternidade.
Saber quem sou, que
sou um ser divino, um filho de Deus, que não estou limitado exclusivamente ao
ciclo natural de nascer e morrer, de ser retirado do pó da terra e voltar ao pó
da terra, oferece-me uma outra perspectiva e resposta para as perguntas de
saber de onde venho e para onde vou.
À luz da fé na
filiação divina, da vida divina que germina em cada um de nós, não sou apenas
mais um elemento da espécie, um animal sujeito a experimentar a vida nas suas
condições até ao limite da sobrevivência. A vida divina que habita em mim
apela-me a vivê-la em plenitude, a encontrar sentido em tudo o que faço e com
que me deparo, a encontrar uma resposta pessoal, única e irrepetível para a
questão, que hei-de fazer.
A leitura do Livro de
Coelet que escutámos apresentava-nos uma perspectiva desencantada da vida, uma
perspectiva infeliz e depressiva, pois tudo é vaidade, a vida é uma construção
cujo futuro se desconhece e cujos frutos podem não ser saboreados. Há uma
desilusão com a vida e com os desafios que naturalmente encerra.
Face a tantas
injustiças e violências como vemos todos os dias, à situação precária da
economia, podemos dizer que esta perspectiva e esta concepção da vida são a
perspectiva e a concepção de muitos dos nossos irmãos. Muitos homens e mulheres
se interrogam sobre a validade e utilidade daquilo que fazem ou fizeram. Afinal
para quê tantos sacrifícios?
Por outro lado, e
neste mesmo contexto social e cultural, encontramos também alguns homens e
mulheres que vivem como o homem rico da parábola que Jesus contou, homens e mulheres
empreendedores, que deitam abaixo os seus celeiros para construir outros
maiores. Contudo, e infelizmente, muitos destes homens tomam esta atitude e
movem-se neste empreendedorismo por motivos fúteis, por mera vaidade, por
egoísmo.
Como mero exemplo,
podemos perguntar de que serve a um jogador galáctico ter mais um carro de luxo
na garagem de uma das suas muitas casas de luxo? Ou a um grande milionário
pagar uns milhões para desfrutar de uma viagem ao espaço?
Os desiludidos da vida
como Coelet e os empreendedores da parábola de Jesus encontram-se em pontos
opostos face à vida, mas sofrem ambos do mesmo mal, ou seja, vivem sem perceber
que a vida é um dom, é uma oferta, e que nas suas mais diversas realidades
necessita da partilha e da comunhão, que a vida acontece verdadeiramente quando
se vive em rede e solidariedade, em partilha.
A parábola que
escutámos a Jesus não condena a riqueza, nem as nossas aspirações a uma vida
boa, a um bem-estar. Na perspectiva bíblica a riqueza é uma bênção, e por essa
razão não é condenável, mas ser abençoado implica uma atitude de partilha,
acarreta uma exigência de administração em favor dos outros.
Afinal, o que condenou
o homem rico da parábola não foi a fortuna que tinha nem a produção
excendentária mas o seu egoísmo, o facto de ter pensado apenas em si próprio.
Assim sendo, a
resposta à pergunta o que hei-de fazer, tendo assumido as respostas às perguntas
quem sou, de onde venho e para onde vou, não pode deixar de ser senão
partilhar, partilhar o que sou e o que tenho com aqueles que me rodeiam,
manifestando em cada momento a vida nova que é Cristo vivendo em mim.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarGrata pela partilha da Homília do XVIII Domingo do Tempo Comum que teceu, profunda, maravilhosamente ilustrada, por levar-nos a re-equacionar as resposta às questões …”quem sou, de onde venho, e para onde vou”…”por salientar-nos que …” que a vida é um dom, é uma oferta, e que nas suas mais diversas realidades necessita da partilha e da comunhão, que a vida acontece verdadeiramente quando se vive em rede e solidariedade, em partilha” (…), por recordar-nos que …” a resposta à pergunta o que hei-de fazer, tendo assumido as respostas às perguntas quem sou, de onde venho e para onde vou, não pode deixar de ser senão partilhar, partilhar o que sou e o que tenho com aqueles que me rodeiam, manifestando em cada momento a vida nova que é Cristo vivendo em mim”.
Que o Senhor o ilumine, o guarde, o abençoe e proteja.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Mria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi e reli esta maravilhosa Homilia do XVIII Domingo do Tempo Comum,bela e profunda que propôs para a reflexão,e magnificamente ilustrada.Saibamos nós em cada momento da nossa vida, manisfestar aos nossos irmãos a vida nova que é Cristo vivendo em nós.Obrigada,Frei José Carlos,pela partilha excelente das suas palavras, e vou pedir-lhe que hoje reze por mim que vou viajar para Portugal.Votos de uma boa semana.Que o Senhor o ilumine o abençoe e o proteja.Bem-haja.Um bom dia com paz e alegria.
Um abraço fraterno.
AD