Os Evangelhos
mostram-nos por vezes um Jesus animado por uma grande violência, com palavras e
actos que soam estranhos face à sua misericórdia, à sua compaixão, à atenção que
mostrava para com aqueles que se encontravam com ele.
O episódio que
rapidamente nos vem à memória desta violência inusitada é o da expulsão dos
vendedores do templo, mas não é o único, porque outros momentos houve, ainda
que desta violência apenas nos tenham chegado as palavras, como as que dirigiu
aos fariseus quando os chamou de hipócritas e sepulcros cheios de ossos mortos
e podridão.
Podemos imaginar como
teriam ficado estes homens, aqueles que se consideravam dignos, os que se
achavam verdadeiramente cumpridores da lei e de todos os preceitos religiosos. Podemos
imaginar a tensão que pairava no ar face a estas acusações e à impossibilidade de
defesa face a tanta verdade e sabedoria, face à autoridade de Jesus que a
multidão apreciava e reconhecia.
Contudo, face à
violência de Jesus, não podemos deixar de ter presente que ela não é um gesto
irreflectido, que ela não é uma consequência do seu egoísmo, um acto louco de
quem já não tem outro poder de argumentação, mas pelo contrário uma
manifestação de um amor e de um cuidado pelas realidades divinas que Jesus não
suporta ver mal tratadas, despojadas da sua dignidade e portanto o comovem até
ao ponto dessa violência.
A violência de Jesus
parte dessa impossibilidade de aceitar que o coração do homem se mascare, se
feche na mentira, que o espaço do diálogo com Deus se transforme num palco de
teatro. A violência de Jesus deriva dessa incompatibilidade com o tráfico que
tantas vezes tentamos estabelecer com Deus, dessa infelicidade que tantas vezes
construímos por não enfrentarmos a verdade de nós próprios.
Percebemos assim que a
acusação de Jesus face aos fariseus seja de que eles estão interiormente cheios
de hipocrisia e maldade. Ainda que as suas vidas e acções sejam perfeitas e
boas aos olhos dos outros homens, no interior do coração estão infectadas pela
mentira e pela falsidade, é face a Deus que eles se mascaram e fingem.
Estas palavras de
Jesus são para nós hoje uma profunda interpelação, porque nos situam face à
nossa relação com Deus, às mascaras que também perante Deus colocamos, não nos
confrontando com a verdade das nossas vidas que Deus ilumina e esclarece. Não se
trata já das mascaras que colocamos face aos outros, mas das que colocamos face
a Deus e de que necessitamos despojar-nos.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarJesus revelou-se ao longo da vida pública como um homem sem máscaras e, consequentemente com autoridade para pôr em causa toda a forma de hipocrisia dos que a disfarçavam exterior e/ou interiormente indepentemente dos grupos donde provinha. Jesus é a Verdade.
Como nos salienta, …” A violência de Jesus parte dessa impossibilidade de aceitar que o coração do homem se mascare, se feche na mentira, que o espaço do diálogo com Deus se transforme num palco de teatro. A violência de Jesus deriva dessa incompatibilidade com o tráfico que tantas vezes tentamos estabelecer com Deus, dessa infelicidade que tantas vezes construímos por não enfrentarmos a verdade de nós próprios.”…
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, maravilhosamente ilustradas, que nos interpelam, por exortar-nos a despojar-nos das mascaras de cada um de nós perante Deus, por recordar-nos que …” Estas palavras de Jesus são para nós hoje uma profunda interpelação, porque nos situam face à nossa relação com Deus, às mascaras que também perante Deus colocamos, não nos confrontando com a verdade das nossas vidas que Deus ilumina e esclarece.”…
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Votos de uma boa noite. Bom descanso.
Um abraço fraterno e amigo,
Maria José Silva