segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O vosso Mestre não paga a didracma? (Mt 17,24)

É após o segundo anúncio da paixão que, ao chegarem a Cafarnaum, os cobradores de impostos do templo se dirigem a Pedro e lhe perguntam se o Mestre não paga a didracma.
Pergunta certamente embaraçosa para Pedro, habituado a um Jesus um tanto ou quanto marginal ao templo e ao culto, conhecedor de algumas posições de Jesus bastantes criticas em relação a essa instituição da fé do povo.
Talvez por isso, e pelo sentimento de desconforto que com quase toda a certeza gerou no seu coração, é imediatamente interrogado por Jesus ao entrar em casa. Pedro carregava uma dúvida que Jesus imediatamente desfaz, uma culpa que não lhe pertencia, uma vez que aos filhos não é devido nenhum tributo, nenhum imposto.
Contudo, e como Jesus comenta a Pedro, é melhor não provocar escândalo e portanto pagarão o imposto, servindo-se para tal de uma dádiva de Deus, uma moeda encontrada na boca de um peixe. Pedro pagará com essa moeda o imposto do Mestre e o seu, pagará pelos dois aquilo que não lhes é devido.
Pagamento surpreendente pelo que representa e anuncia, pois o tributo devido ao templo é dado pelo próprio Deus, é Deus que sustenta o templo, e depois pela união que estabelece entre Jesus e Pedro, a moeda encontrada na boca do peixe une-os no tributo pago.
Sem o saber, Pedro estabelece uma aliança de vida com o Mestre, une-se ao tributo que Jesus vai pagar e que será a entrega da sua própria vida. A moeda oferecida por sorte na boca do peixe é o símbolo da vida que o próprio Jesus vai oferecer em resgate por Pedro e por todos os homens.
A moeda para pagar a didracma manifesta assim a Pedro e a cada um de nós que Jesus paga o tributo por nós e connosco, manifesta uma unidade que nos liberta mas que também nos responsabiliza.
A forma de comparticipar no pagamento que Jesus efectua de uma vez para sempre realiza-se no testemunho desse mesmo pagamento já realizado e realizado de um forma livre e eterna. É o nosso testemunho da dádiva generosa e libertadora do Filho de Deus que nos faz participantes do tributo oferecido.

 
Ilustração: “São Pedro e o milagre do peixe”, pintura do século XVII da Escola Italiana, apresentado a leilão pela Sotheby’s em Nova-York em Janeiro de 2013.

2 comentários:

  1. Por isso, é importante darmos esse testemunho para podermos verdadeiramente participar no tributo oferecido. E.C.

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  2. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu de grande espiritualidade e simbolismo leva a interrogar-nos sobre o que fazemos com a palavra de Jesus, como filhos de Deus, e consequentemente, de forma livre, responsabiliza-nos. Como nos salienta …” A moeda oferecida por sorte na boca do peixe é o símbolo da vida que o próprio Jesus vai oferecer em resgate por Pedro e por todos os homens.
    A moeda para pagar a didracma manifesta assim a Pedro e a cada um de nós que Jesus paga o tributo por nós e connosco, manifesta uma unidade que nos liberta mas que também nos responsabiliza”. …
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por questionar-nos e exortar-nos a dar …” o nosso testemunho da dádiva generosa e libertadora do Filho de Deus que nos faz participantes do tributo oferecido”.
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Continuação de uma boa semana.
    Bom descanso.
    Mui fraternalmente,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo um poema de Frei José Augusto Mourão.

    da sabedoria
    I
    Deus, dá à nossa vida o amor da sabedoria/que é o amor da vida/o amor do conhecimento do bem e do mal/

    dá à nossa vida a sabedoria dos contrários, da angústia ao riso/do caminho ao cimo/onde tu esperas,/

    Deus, que invocamos neste fim do dia,/ no lusco-fusco das imagens e da fé/

    II
    Deus, Sabedoria dos humildes,/ensina à nossa vida a arte de viver/ a justa relação com o mundo/

    Que a Sabedoria em nós se cumpra/na sociedade do homem e da mulher/com os filhos que os continuam,/
    No leito dos doentes e moribundos/ e todos os que o sofrimento experimentou

    e que a nossa fé seja vivida/como a resposta viva a um desejo,/obedecendo ao apelo de criar/o seu próprio relevo

    assim saberemos acolher o invisível/que nos olha/porque Jesus Cristo, ícone do Deus invisível,/
    imagem desfigurada-transfigurada/nos acolhe/nos cimos da vida/
    e o Espírito Criador nos molda

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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