terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jesus apela a ter cuidado (Mc 8,14-21)

A cena passa-se a bordo da barca para a qual os discípulos apenas trouxeram um pão. A referência de Jesus ao fermento dos fariseus e de Herodes provoca a discussão, a interrogação certamente sobre a culpabilidade do esquecimento. Há um mal entendido e Jesus vê-se obrigado a questionar os seus discípulos numa catadupa de perguntas.
Porque estais a discutir? Ainda não entendeis? Tendes o coração endurecido? Tendes olhos e não vedes e ouvidos e não ouvis? Não vos lembrais? E não entendeis ainda?
Jesus tinha multiplicado o pão por duas vezes e tinha alimentado as multidões. Os fariseus e os escribas tinham-lhe pedido um sinal, uma prova da sua condição messiânica. E Jesus tinha-lhes apontado os milagres, mas eles não quiseram ver, não quiseram acreditar.
Contudo, agora a situação é mais grave porque são os seus, aqueles que partilham da sua intimidade, que conhecem a sua palavra que discutem, que vacilam na fé sobre aquilo que viram e testemunharam.
A discussão sobre o milagre, ainda que fruto de um equívoco, é um desastre, é uma prova da falta de fé, porque nela se esmiúça o acontecido, se buscam provas que não são tangíveis, se perscruta o mistério que apenas se revela. A discussão desconhece o dom e a gratuidade.
É necessário por isso entender, aceitar o incompreensível, que só um coração aberto e humilde é capaz de fazer. Por isso o alerta de Jesus para o endurecimento do coração, para essa dureza que inviabiliza a permeabilidade da aceitação do gratuito.
E a necessidade de abrir bem os olhos e os ouvidos, os físicos e os espirituais, porque a revelação vai acontecendo em cada instante, o milagre está patente desde que o queiramos ver e escutar. E a memória, essa colecção de lembranças que nos traz o acontecido do passado e do presente, permitindo mirá-lo de longe e sem conflito.
Perante tudo isto é inevitável a pergunta se não somos ainda capazes de entender, se não somos capazes de nos abrir ao dom sem o questionar, humildemente e sem preconceitos.
O fermento dos fariseus e de Herodes é afinal a hipocrisia de verem o que vêem, de saberem o que sabem, de entenderem muito bem o que se lhes diz e de não o aceitarem, de não o quererem aceitar, porque aceitar significa mudar.
A chamada de atenção de Jesus é assim premente porque todos nós podemos cair nessa tentação, podemos deixar crescer esse fermento em nós. São necessários por isso ouvidos atentos, um coração humilde e uma disponibilidade total para aceitar o ilógico do milagre e do dom gratuito de Deus.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    A Meditação que connosco partilha é profunda e bela. Ao falar-nos (Evangelho segundo São Marcos 8,14-21), de um episódio quê se desenrola na barca para onde os discípulos tinham levado apenas um pão situação que gerou a discussão e a interpelação feita por Jesus, na qual os discípulos porque “vacilam na fé”, duvidam da condição messiânica de Jesus, vem lembrar-nos a necessidade de ...” entender, aceitar o incompreensível, que só um coração aberto e humilde é capaz de fazer. “
    Obrigada por nos recordar que …”a revelação vai acontecendo em cada instante, o milagre está patente desde que o queiramos ver e escutar” (…) e por nos interrogar… “se não somos ainda capazes de entender, se não somos capazes de nos abrir ao dom sem o questionar, humildemente e sem preconceitos.”
    Bem haja por nos dizer sem subterfúgios que ”aceitar significa mudar.”
    Peçamos a Jesus que nos fortifique a nossa fé, para sejamos capazes de “acreditar, o que não compreendemos”, com um ...” coração humilde e uma disponibilidade total para aceitar o ilógico do milagre e do dom gratuito de Deus.”
    Obrigada pela partilha que nos ajuda a meditar e a aperfeiçoar-nos.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

    ResponderEliminar
  2. Frei José Carlos,

    Obrigada pelo maravilhoso texto sobre o Evangelho de S.Marcos que muito gostei.Muito grata por esta partilha que nos enriquece cada vez mais a nossa Meditação diária.
    Bem haja,Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno.
    AD

    ResponderEliminar