Primeiro foi a multiplicação dos pães, depois um sinal que os fariseus pediram e Jesus não deu, a seguir a passagem para a outra margem e o pão que faltava e já na outra margem a cura do cego de Betsaida. Foram vários acontecimentos, vários sinais e outros tantos ensinamentos.
Chega assim o momento de fazer a pergunta, uma sondagem do impacto e dos resultados de todo o sucedido. “Quem dizem os homens que eu sou?”. Respostas dispares que remetem para o passado e para uma expectativa um tanto ou quanto gorada, João Baptista, Elias, ou um dos outros profetas. Ecos de uma experiência distante da verdadeira realidade.
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. O Messias, respondeu Pedro, como também nós reponderemos uma vez que desde a primeira linha do Evangelho o autor nos diz que este Jesus é o Messias, o Filho de Deus e o nosso Salvador.
Contudo, parece que a resposta ainda que certa, verdadeira, tem qualquer coisa de errado. Se não, porque diz Jesus que não comentem nada a ninguém, que não contem nada a ninguém? Estará esquecido de que os tinha enviado a anunciar a Boa Nova do Reino, a curar os doentes e a expulsar os demónios? Há de facto qualquer coisa de errado na resposta de Pedro, ainda que ela seja verdadeira.
E o errado da resposta de Pedro, como o é também vezes na nossa resposta, é a fundamentação na expectativa e na espectacularidade, a fundamentação na consciência dos milagres operados, das curas realizadas, na grandeza da própria condição messiânica. “Tu és o Messias”, mas que Messias, de que Messias está Pedro a falar?
O silêncio a que Jesus remete os apóstolos é compreensível à luz do ensinamento que a seguir lhes proporciona. É verdade que ele é o Messias, mas ele como Messias deve sofrer a ignomínia da cruz, deve morrer, deve passar pelo desastre de os decepcionar nas expectativas messiânicas que transportam, porque não é o Messias que eles e todos os outros está à espera.
É assim necessário o silêncio, um silêncio que permite a partilha da intimidade, o descobrir da verdade que subjaz e que só se manifestará em toda a sua plenitude na manhã da ressurreição. Só no silêncio e no acompanhamento íntimo do processo de rejeição e morte se poderão encontrar os sinais e as referências para superar o escândalo e para descobrir o ressuscitado.
O nosso conhecimento de Jesus é claro e fundamentado, mas necessitamos do silêncio e do acompanhamento no processo da sua paixão para penetrarmos mais profundamente no mistério da sua pessoa, e podermos dizer com mais rigor a verdade da sua identidade. Ousemos contemplá-lo silenciosamente na imagem do crucificado.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarMuito grata por este maravilhoso texto,tão profundo e tão belo e cheio de sentido.Fiquei maravilhada ao ler esta beleza de partilha da Palavra de Deus.Ela nos revela toda a Sabedoria infinita de Deus,através dos seus milagres, sinais,curas realizadas,na grandeza da própria condição messiânica.
O nosso conhecimento de Jesus é claro e fundamentado,mas necessitamos do silêncio e do acompanhamentono processo da sua paixão,então podemos entrar mais profundamente no mistério da sua pessoa e contemplá-lo silenciosamente, na imagem do crucificado.
Como nos dizia no texto o Frei José Carlos.Gostei muito desta partilha da Palavra que me ajudou a minha Meditação mais profundamente.A beleza da ilustração deste belo texto, é o livro por Excelência de toda a Ciência e Sabedoria divinas. Bem haja Frei José Carlos.
Um abraço fraterno.
AD
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi, meditei e reli com emoção o texto que elaborou a partir da pergunta de Jesus, “Vós, quem dizeis que eu sou? (MC 8,29)” quando se dirige aos Apóstolos e contemplei a bela pintura com que o ilustrou. É um texto profundo, belo, bem estruturado, sobre o qual ficamos a reflectir. Sabemos e faz-nos pressentir que vamos reviver, em breve, o acontecimento mais doloroso da vida da humanidade, a paixão, a morte e a ressureição de Jesus.
Obrigada por nos explicar a razão do silêncio a que Jesus remete, entre outros, os Apóstolos. ...” É verdade que ele é o Messias, mas ele como Messias deve sofrer a ignomínia da cruz, deve morrer, deve passar pelo desastre de os decepcionar nas expectativas messiânicas que transportam, porque não é o Messias que eles e todos os outros estão à espera”. (…)
Bem haja por salientar-nos que …” O nosso conhecimento de Jesus é claro e fundamentado, mas necessitamos do silêncio e do acompanhamento no processo da sua paixão para penetrarmos mais profundamente no mistério da sua pessoa, e podermos dizer com mais rigor a verdade da sua identidade.”
Obrigada Frei José Carlos por esta maravilhosa partilha que nos reconforta, esclarece e leva ao silêncio, à reflexão sobre a verdadeira dimensão do sofrimento, morte e ressureição de Jesus, à contemplação da cruz de Cristo, símbolo da nossa libertação, e da misericórdia infinita do Senhor.
Um abraço fraterno
Maria José Silva