Jesus encontra-se uma vez mais com a multidão e no seu conjunto um grupo de fariseus e de escribas. Não vieram para tocar Jesus, para lhe pedir uma cura, bem pelo contrário vieram para ver o que faz e como o faz. Estão ali como num tribunal e portanto cercaram Jesus colocando-o no centro do círculo do julgamento.
E sem qualquer pudor as palavras que lhe dirigem são de acusação, interpelam-no com uma questão tão banal como circunstancial “porque não seguem os teus discípulos as tradições dos antigos e comem sem lavar as mãos?”
Era uma questão de higiene mas também um preceito religioso, sobretudo um preceito religioso que como tantos outros moldava e orientava a vida do quotidiano. Não havia vida sem religião e todo o espaço humano estava banhado por essa religiosidade.
No caso do povo judeu os preceitos de pureza resultavam da Aliança estabelecida entre Deus e o povo libertado da opressão do Egipto. Mas como em todas as religiões estes preceitos, estas prescrições rituais, tinham e têm a função de ajudar o crente a guardar na memória, a fazer presente, a orientação divina e sobrenatural da sua vida e da sua história. Tudo deve orientar e encaminhar o homem para a sua relação com o divino.
Jesus ao permitir que os seus discípulos não lavassem as mãos, que não cumprissem outras prescrições rituais, não está a contestar estas prescrições, aliás dirá que não veio alterar uma única letra da lei, mas bem complementá-la e aperfeiçoá-la. Ao permitir este tipo de liberdade não está a reduzir nem a remeter o religioso e o preceituado para a esfera do privado, a constituir um certo laicismo.
Se o faz é num sentido de reacção e rejeição à prática religiosa, ao cumprimento dos preceitos e prescrições, vazia de sentido, sem alma e sem vida. É numa crítica ao ritualismo desvirtuado de sentido, que não cumpre o objectivo para que foi destinado, ou seja transportar o homem das realidades efémeras e quotidianas para a sua realidade e dimensão divina e eterna. É contra isso que ele se opõe e que aqueles fariseus e escribas não são capazes de perceber.
Estamos assim perante uma crítica face à clivagem do homem interior e do homem exterior, à falta de coerência entre aquilo que se vive escrupulosamente e o amor que se põe nessas mesmas realidades. Neste sentido não podemos deixar de recordar as palavras de São Paulo na primeira Carta aos Coríntios, que não são mais que uma outra forma de dizer o que Jesus disse aos fariseus e escribas “se não tiver amor sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine, ainda que distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor de nada me aproveita”.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarComeço a ler o texto da partilha da Meditação de hoje, intitulada “Os ritos sem alma (Mc 7,1-13)” e interrompo-a para fixar-me na ilustração do texto, na expressão plástica das mãos, na simbologia das mesmas, na diversidade de gestos em que utilizamos as mãos, desde a acção mais agressiva, à mais carinhosa. Centro-me, por fim, no texto que escreveu a partir do não cumprimento de um “preceito religioso” que serve para que Jesus fosse interprelado por fariseus e escribas, lembrando-nos que ...” Jesus ao permitir que os seus discípulos não lavassem as mãos, que não cumprissem outras prescrições rituais, não está a contestar estas prescrições, aliás dirá que não veio alterar uma única letra da lei, mas bem complementá-la e aperfeiçoá-la.”
Este episódio, como bem nos salienta, faz-nos reflectir sobre os actos, rituais que praticamos, de forma maquinal, automática, vazios de sentimento, de amor, em relação a Jesus e ao outro, ao nosso próximo.
Como afirma, a atitude de Jesus é ...”uma crítica ao ritualismo desvirtuado de sentido, que não cumpre o objectivo para que foi destinado, ou seja transportar o homem das realidades efémeras e quotidianas para a sua realidade e dimensão divina e eterna.”
Peçamos a Jesus que nos ajude no nosso processo de transformação para que a “clivagem do homem interior e do homem exterior” se esbata e que os nossos actos sejam impregnados de verdadeiros sentimentos, em que a espiritualidade esteja presente.
Obrigada por nos levar a reflectir sobre o nosso quotidiano, vivido, muitas vezes, a um ritmo, em que nos deixámos enredar, sem que haja oportunidade para uma pausa e para meditar no que fizemos e como fizemos e guardar um espaço para Jesus nos nossos corações . Bem haja, Frei José Carlos.
Um abraço fraterno
Maria José Silva