sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Beato Angélico João de Fiésole

Estão por todo o lado, ou quase, povoam os tondos e as predelas, os frescos e os trípticos, os armários e as iluminuras. Um pouco e quase poderíamos dizer que eram uma obsessão.
Mas uma obsessão plena de beleza, carregada de luz e força, brilho e cor, e um pudor inimaginável que os vermelhos e os azuis, o ouro e o verde nos revelam nos drapejados dos vestidos e na leveza dos movimentos.
São anjos, a corte celestial, que aparece aqui e ali, anunciando à Virgem Maria a sua missão materna, recolhendo o sangue de Jesus crucificado, tocando as trombetas na sua glorificação, conduzindo as almas à cidade celeste no mais belo bailado.
De perfil, de frente, até de costas, a meio corpo ou de corpo inteiro, as asas multicolores e bem desenhadas identifica-os e fazem-nos perder a atenção tal é o pormenor e a riqueza das cores das penas. Não podemos deixar de nos interrogar onde foram inspiradas tais asas, tais penas, tal beleza.
E depois os rostos, dos anjos e dos homens, trespassados por uma luz, por uma transcendência que parece que não são deste mundo. No desenho dos olhos e dos lábios, nas madeixas do cabelo ou da barba, uma paz e uma serenidade que nos deixam também em paz e serenos. Nem mesmo na representação da morte ou da dor essa paz desaparece, apenas os carrascos a perderam ou nunca a tiveram.
Frei João de Fiésole, conhecido como o Beato Angélico, e que hoje celebramos na Ordem dos Pregadores, deixou-nos esta obra artística imensa e riquíssima onde os anjos nos atraem e as figuras humanas nos cativam; mas tão importante e rica como ela é a experiência da pregação que nos faculta. A Palavra de Deus pode ser anunciada de muitas formas, de muitos modos, e a beleza de Deus e da sua Palavra pode-se reflectir e espelhar na arte.
Diz-se que frei João de Fiésole tinha como lema que “quem faz coisas de Cristo deve estar sempre com Cristo”, o que nos deve levar a pensar na nossa presença em Cristo, ou união com Cristo, quando nos propomos fazer alguma coisa em seu nome e para sua glória.
E olhando para algumas obras que passaram pela ARCO, Feira de Arte Contemporânea de Madrid, que se realiza nestes dias e cumpre trinta anos de vida, pergunto-me se a utilização da imagem religiosa, de referências religiosas e cristãs nomeadamente, não serviram mais para projectar e exibir os seus autores do que propriamente para manifestar Cristo e qualquer coisa da sua glória.
De facto só em união com Cristo o poderemos dar a conhecer, o poderemos revelar aos outros.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Foi com grande satisfação que li o texto da Meditação de hoje no qual nos fala de forma muito bela sobre o Beato Angélico João de Fiésole e a sua obra artística e evangelizadora quando hoje a Igreja e principalmente a Ordem dos Pregadores celebra a sua memória. É um texto de grande riqueza estética, mas profundo que nos dá serenidade e paz. Permita-me que transcreva alguns excertos.
    ...” De perfil, de frente, até de costas, a meio corpo ou de corpo inteiro, as asas multicolores e bem desenhadas identifica-os e fazem-nos perder a atenção tal é o pormenor e a riqueza das cores das penas. Não podemos deixar de nos interrogar onde foram inspiradas tais asas, tais penas, tal beleza.
    E depois os rostos, dos anjos e dos homens, trespassados por uma luz, por uma transcendência que parece que não são deste mundo. No desenho dos olhos e dos lábios, nas madeixas do cabelo ou da barba, uma paz e uma serenidade que nos deixam também em paz e serenos. Nem mesmo na representação da morte ou da dor essa paz desaparece, apenas os carrascos a perderam ou nunca a tiveram.”…
    A propósito da obra artística do Beato Angélico recorda-nos que a “Palavra de Deus pode ser anunciada de muitas formas, de muitos modos, e a beleza de Deus e da sua Palavra pode-se reflectir e espelhar na arte” (…) mas …”só em união com Cristo o poderemos dar a conhecer, o poderemos revelar aos outros”.
    Peçamos a Jesus que a vida do Beato Angélico nos sirva de exemplo no campo das artes e em qualquer domínio da nossa vida profissional ou pessoal em que a utilização da imagem religiosa não deve ser utilizada como um elemento de que nos servimos para atingir benefícios pessoais, sem a intenção, como bem afirma de “manifestar Cristo e qualquer coisa da sua glória”.
    Obrigada por nos referir o lema de Frei João de Fiésole “quem faz coisas de Cristo deve estar sempre com Cristo”.
    Bem haja por esta maravilhosa partilha.
    Desejo ao Frei José Carlos um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno.
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Muito grata por esta partilha do Frei João de Fiésole mais conhecido por Beato Angélico.Deixou-nos uma obra artística e riquíssima na sua forma de apresentar os Anjos e as figuras humanas que nos cativam.Parece que toda ests beleza da Arte,toda nos fala de Deus.Portanto,como nos diz o Frei José Carlos,a Palavra de Deus pode ser anunciada de muitas formas,de muitos modos e a beleza de Deus e da sua Palavra,pode-se reflectir e espelhar na Arte.
    Foi um homem que muito meditou sobre Deus,contemplou e só depois executou com o pincel as maravilhas contempladas.O seu lema era "quem faz coisas de Cristo deve estar sempre com Cristo".É muito importante para todos esta meditação por que nos leva a pensar na nossa presença em Cristo,quando nos propomos a fazer alguma coisa em seu nome e para sua glória,como dizia-nos o texto .
    Bem haja,Frei José Carlos,por esta bela partilha que muito gostei.
    Um abraço fraterno.
    AD

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