segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vai vender o que tens… (Mc 10,21)

Vender tudo o que tinha e dar aos pobres foi a proposta de Jesus ao jovem homem que se prostrou diante dele numa manifestação de adoração e com uma ânsia profunda de alcançar a vida eterna. Vender tudo e dar aos pobres foi demasiado e assim o Evangelho diz-nos que se retirou pesaroso e desiludido pois era muito rico, tinha muitos bens.
Muitas vezes também nós nos deparamos com a mesma resposta de Jesus, com a mesma proposta, e também nós recuamos desapontados por o Senhor nos pedir tanto. Mas será que estamos a entender o que de facto Jesus nos está a propor, não significará a venda dos bens muito mais que isso mesmo, que essa materialidade?
O jovem homem que se abeira de Jesus, quando este se ia a pôr a caminho, é um homem irreprovável, um homem bom que se tem aplicado durante toda a sua vida a cumprir os mandamentos. Diante dos homens nada lhe falta para que se possa apresentar diante de Deus. Podemos dizer que cumpriu a lei.
Contudo, a questão que coloca a Jesus, ainda que fundamental, está definida de forma inapropriada e por isso o desencontro e o regresso a casa insatisfeito com a resposta. Porque de facto o fazer e o ganhar não são compatíveis com a vida eterna, que é um dom, uma oferta de Deus e portanto se nos escapa do controlo e da contabilidade.
Ao perguntar a Jesus pela forma de alcançar a vida eterna o jovem rico está a colocar ao seu alcance e sob a sua alçada essa vida eterna, como uma conquista sua e pelos seus meios. E face a este equívoco Jesus remete-o para a disposição necessária, ou seja a disponibilidade para o acolhimento e para a pobreza.
Vender tudo o que tem e dar aos pobres não se resume assim apenas a um desfazer-se dos bens e do património, mas significa incarnar uma atitude de desprendimento e pobreza que possibilite o acolhimento da salvação de Deus e dos outros que são imagem de Deus, significa uma abertura à acção libertadora de Deus nas nossas vidas.
Neste sentido, quando nos confrontamos com as mesmas palavras de Jesus de vendermos tudo o que temos, temos que nos confrontar com a nossa disponibilidade e abertura para o dom de Deus, temos que nos confrontar com a nossa insatisfação que só Deus na sua benevolência e no seu amor pode colmatar.
Que saibamos vender as nossas propriedades de egocentrismo e auto satisfação para podermos acolher o dom da graça e da vida eterna que Deus nos oferece gratuitamente.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    A Meditação que connosco partilha é profunda, esclarecedora do significado das palavras de Jesus à pergunta do jovem “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17).
    Como o Frei José Carlos nos diz a resposta de Jesus significa mais do que a “venda dos bens”. ...” Ao perguntar a Jesus pela forma de alcançar a vida eterna o jovem rico está a colocar ao seu alcance e sob a sua alçada essa vida eterna, como uma conquista sua e pelos seus meios. E face a este equívoco Jesus remete-o para a disposição necessária, ou seja a disponibilidade para o acolhimento e para a pobreza.”
    O Evangelho de hoje e o texto que o Frei José Carlos escreveu interroga-nos profundamente. Na nossa vida de cristãos quantas vezes nos auto satisfazemos com o cumprimento dos mandamentos, sem a “necessidade de ir mais além”, ainda que haja uma inquietação interior.
    Bem haja por nos recordar que …”quando nos confrontamos com as mesmas palavras de Jesus de vendermos tudo o que temos, temos que nos confrontar com a nossa disponibilidade e abertura para o dom de Deus, temos que nos confrontar com a nossa insatisfação que só Deus na sua benevolência e no seu amor pode colmatar.”
    Que o Senhor nos ajude a sair do nosso conformismo e auto satisfação e a termos um coração generoso e disponível para acolhermos as propostas de Deus.
    Obrigada pela partilha da Meditação. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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