quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O que sai do homem é que o torna impuro (Mc 7,15)

Jesus continua a confrontar-se com as concepções cultuais e culturais do povo judeu, com o conjunto de preceitos e normas que mais que aproximarem o homem de Deus o afastavam pela dificuldade do cumprimento dos mesmos.
Assim, depois do debate com os fariseus e os escribas sobre a falta de higiene dos discípulos e portanto do incumprimento dos preceitos rituais, Jesus aproveita para instruir a multidão sobre a pureza, sobre o que de facto pode tornar o homem impuro aos olhos de Deus.
E este ensinamento era necessário porque à luz da lei e do culto a pureza era concebida como a manutenção de uma distância, como uma separação daquelas realidades ou objectos que podiam contaminar o homem e consequentemente afastá-lo de Deus, da sua santidade e benevolência. Inseriam-se neste quadro contaminador o nascimento, a morte, a doença, alguns alimentos e a sua preparação, o estrangeiro, e inevitavelmente a sexualidade. A vivência ou o simples tocar destas realidades colocavam o homem em situação de impureza e portanto de exclusão da relação com Deus e da sociedade de que fazia parte.
Jesus vai combater e ultrapassar esta concepção não só através das palavras como as deste discurso à multidão do Evangelho de São Marcos, mas sobretudo através da acção, de gestos muito concretos, como o toque nos leprosos, o convívio com os publicanos e as mulheres de má vida, a assistência a jantares e a entrada em casas de estrangeiros, tudo o que é considerado potencialmente contaminador.
No discurso à multidão, e depois em privado aos discípulos, Jesus é muito claro na formulação do princípio do impuro, do que de facto torna o homem impuro e incapaz de se aproximar de Deus, ou seja, nada do que lhe é externo o contamina mas sim o que sai do coração com intenção perversa e contrária à sua natureza.
Foi uma revolução, com dimensões universais de que não temos muita consciência, porque desta forma todos os alimentos e realidades assumiram e retomaram a bondade que Deus lhes tinha reconhecido na criação, quando Deus viu que tudo era muito bom. E o homem adquiria uma liberdade perante estas realidades e objectos que em outras religiões ainda hoje não alcançou.
Assim, e como diz São Paulo na Carta aos Romanos (14,20) tudo é puro para os puros, tudo é puro para aquele que tem um coração puro, um coração de onde não nascem intenções que desvirtuam as realidades, que as afectam e infectam na sua dignidade natural e missão divina.
Fica-nos o desafio da Bem-Aventurança da pureza de coração, porque os puros de coração verão a Deus, mas tal acontecerá na medida em que em todas as coisas virmos ou procurarmos ver o rosto e a presença de Deus.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por partilhar connosco esta passagem do Evangelho de São Marcos, “O que sai do homem é que o torna impuro (Mc 7,15)” e por nos ajudar na interpretação das palavras de Jesus à multidão sobre “a pureza, sobre o que de facto pode tornar o homem impuro aos olhos de Deus.”
    Como tão bem afirma …” o que torna o homem impuro e incapaz de se aproximar de Deus, ou seja, nada do que lhe é externo o contamina mas sim o que sai do coração com intenção perversa e contrária à sua natureza”.
    Bem haja por nos recordar …”o desafio da Bem-Aventurança da pureza de coração, porque os puros de coração verão a Deus,” mas esse estado de espírito só acontece como nos lembra, se houver um compromisso com Deus, isto é, …”na medida em que em todas as coisas virmos ou procurarmos ver o rosto e a presença de Deus.”
    Que importante que é para nós podermos contar com as palavras do Frei José Carlos que nos ajudam na nossa formação e meditação, na interpretação, de forma simples, de muitas das facetas do ser cristão.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos

    Agradeço-lhe esta preciosa partilha tão profunda de sentido para nós e como nos diz no texto dá-nos força para a nossa caminhada.A Bem-Aventurança dos puros de coração,pois é uma realidade em nossas vidas.
    Só os puros de coração verão a Deus.Simeão e a profetisa Ana,na singeleza e pureza da sua vida,mereceram ver Jesus.Muito grata por esta bela partilha que muito gostei,Frei José Carlos.Bem haja,pelas suas palavras que nos dão tanta força,para ultrapassarmos muitas dificuldades,que nos vão sendo postas no nosso caminho,Obrigada por ests maravilha de Meditação.
    Um abraço muito fraterno.
    AD

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