terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ai de vós hipócritas! (Mt 23,23)

Todos nós temos mais ou menos uma ideia do que significa ser hipócrita. Contudo, quando olhamos para a língua grega, na qual o texto do Evangelho de São Mateus foi escrito na sua origem, percebemos que afinal ser hipócrita significava um jogo de actores, uma expressão teatral. O hipócrita era aquele que colocava uma máscara para desempenhar um papel, para dar corpo e cara a um personagem.
Diante desta realidade da cultura grega e da circunstância em que Jesus fala aos fariseus e escribas da lei percebemos a alteração do tom de voz de Jesus, a reprimenda feroz face ao que aqueles homens viviam e convidavam os outros a viver.
A crítica e acusação de Jesus tem presente e parte desse pressuposto fundamental de que fomos feitos para o face a face, para nos olharmos nos olhos uns dos outros, para contemplarmos Deus face a face. E portanto, quando colocamos uma máscara, quando assumimos o papel de hipócritas, estamos a inviabilizar a nossa própria realização, a negar a nossa própria essência natural, o objectivo último da nossa existência.
A acusação de Jesus aos hipócritas é assim um apelo premente a que deixemos as máscaras, a que apresentemos o nosso rosto, mais belo ou mais marcado pelas feridas da vida, mas que verdadeiramente diz quem somos e nos revela ao outro como imagem de Deus.
E na medida em que vivermos também face a face com Deus, sem máscaras diante de Deus, o nosso rosto poderá ser uma fonte de luz, uma fonte de paz para aqueles que se encontram connosco e nos olham, pois a nossa face espelhará a luz interior que apreendemos do face a face com Deus.

 
Ilustração: “Moisés descalçando-se diante da sarça-ardente”, de Domenico Fetti, Kunsthistorisches Museum, Viena.

3 comentários:

  1. Peço-vos uma oração pela minha irmã e tb por um amigo que partiu acerca 15 dias com 23 anos.
    Obrigado padre
    http://porterrasdoalentejo-bruno.blogspot.pt/

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    1. Bruno, teremos presente as suas intenções e necessidades na nossa oração e na celebração da Eucaristia desta tarde.
      Que o Senhor Jesus vos conforte nas vossas necessidades.
      Ele é a nossa luz e a nossa força!

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  2. Frei José Carlos,

    Li com cuidado o texto da meditação que teceu e ilustrou maravilhosamente. E desde que o li até que tenho oportunidade de escrever algumas linhas, fui reflectindo sobre as palavras de Jesus, o que Frei José Carlos escrevera, a etimologia da palavra, a face de cada um de nós e as máscaras respectivas. Sou de parecer que, na realidade, só Deus conhece a nossa verdadeira face. Só conhecemos o próprio rosto porque existem espelhos e a face não revela aos outros tudo acerca de nós, o que somos, na realidade. A idéia que os outros fazem de cada um de nós através da face que revelamos e dos nossos comportamentos, gestos, atitudes, não corresponde à totalidade do nosso ser. Para mim, esta temática ultrapassa a questão do julgamento dos outros sobre quem somos, com ou sem máscaras, é mais profunda. E fico sem resposta para a questão que coloco a mim própria, somos nós capazes de analisar-nos até às profundezas mais intímas do nosso ser, Frei José Carlos?
    Como nos salienta …” A crítica e acusação de Jesus tem presente e parte desse pressuposto fundamental de que fomos feitos para o face a face, para nos olharmos nos olhos uns dos outros, para contemplarmos Deus face a face. E portanto, quando colocamos uma máscara, quando assumimos o papel de hipócritas, estamos a inviabilizar a nossa própria realização, a negar a nossa própria essência natural, o objectivo último da nossa existência.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da meditação, profunda, que nos desafia, e dá confiança ao recordar-nos que …” na medida em que vivermos também face a face com Deus, sem máscaras diante de Deus, o nosso rosto poderá ser uma fonte de luz, uma fonte de paz para aqueles que se encontram connosco e nos olham, pois a nossa face espelhará a luz interior que apreendemos do face a face com Deus.”
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Boa noite. Bom descanso.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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