quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Herodes respeitava João sabendo que era justo e santo (Mc 6,20)

Diz-nos o Evangelho que Herodes mandara prender João Baptista porque o profeta se manifestava contra o facto de o rei ter consigo Herodíades, mulher de seu irmão, de a ter assumido como sua mulher.
Diz-nos também o Evangelho que, apesar dessa acusação e condenação, e apesar de temer as palavras de João Baptista, Herodes gostava de ouvir o profeta, escutava-o com prazer, e tinha por ele respeito, pois sabia que era um homem justo e santo.
Podemos dizer que a história de João Baptista, apesar da prisão, não estava mal, e que se o rei tivesse sido consequente com a satisfação que tinha em o ouvir jamais teria permitido que a vida do profeta fosse o preço de um momento de prazer.
Contudo, Herodes não foi consequente com a satisfação que tinha em ouvir o profeta, e por isso encontramos nesta tragédia esse contraste flagrante entre a fidelidade e a infidelidade à verdade, entre a coragem de assumir a verdade e a cobardia de se deixar vencer por outros interesses mesquinhos.
João Baptista, homem justo e santo, homem cheio de coragem e portador de uma palavra de verdade sobre a vida dos outros, paga o alto preço da vida por causa do ódio e das manobras iníquas de Herodiades sobre Herodes, que se mostra um fraco e um cobarde face à verdade, que se esquiva a olhar de frente a verdade que o profeta lhe apresenta sobre a sua situação irregular.
Neste sentido, não podemos deixar de assumir que a verdade coloca em causa, que a verdade nos coloca em causa e portanto nos obriga a olhar de frente as realidades que ilumina. A verdade desinstala-nos das nossas garantias tantas vezes fátuas, desinstala-nos dos nossos esquemas construídos sobre si próprios.
A verdade é assim algo que nos purifica, que nos liberta e que nos faz crescer, a verdade faz-nos avançar sempre no sentido da nossa realização plena e da nossa felicidade, a verdade conduz-nos a Deus que é a Verdade.
Ao longo da história muitos homens e mulheres entregaram a vida pela verdade, sofreram pela verdade proclamada por Jesus Cristo e vivida por João Baptista, a verdade que nos diz que o homem é filho de Deus e tem como projecto de realização plena a vida de fraternidade com os outros homens, a divinização da sua condição humana através do amor e da amizade para com todos e com o seu Criador.
Que Deus nos conceda a justiça e a santidade de vida de João Baptista para proclamarmos também com coragem e sem medos a verdade que nos salva.


Ilustração: “O banquete de Herodes”, de Peter Paul Rubens, Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo.

 

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja por recordar-nos que …” A verdade é assim algo que nos purifica, que nos liberta e que nos faz crescer, a verdade faz-nos avançar sempre no sentido da nossa realização plena e da nossa felicidade, a verdade conduz-nos a Deus que é a Verdade.”…
    O excerto do Evangelho de Marcos (6, 17-29) demonstra-nos como Herodes ainda que constrangido não teve a coragem de assumir a verdade deslumbrado pela filha de Herodiades e face à promessa que lhe fizera perante os convidados, deixando-se arrastar pela cobardia e pela infidelidade. Na realidade, o pedido não é pessoal mas é uma exigência de Herodiades.
    Como nos salienta …” João Baptista, homem justo e santo, homem cheio de coragem e portador de uma palavra de verdade sobre a vida dos outros, paga o alto preço da vida por causa do ódio e das manobras iníquas de Herodiades sobre Herodes, que se mostra um fraco e um cobarde face à verdade, que se esquiva a olhar de frente a verdade que o profeta lhe apresenta sobre a sua situação irregular.”…
    No peregrinar da vida, Frei José Carlos, que difícil esforçarmo-nos por ser justos, verdadeiros, sabendo que vamos pagar uma factura elevada ao proferirmos a verdade, o que está correcto, em várias dimensões. É um combate do qual não devemos desistir, confiando que o Senhor não nos abandona.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas e importantes como reflexão, como coragem, num quotidiano cada vez mais injusto, por afirmar-nos que …” A verdade desinstala-nos das nossas garantias tantas vezes fátuas, desinstala-nos dos nossos esquemas construídos sobre si próprios.”…
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Boa noite. Bom descanso.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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  2. Obrigado por dizer que acredita que a Verdade nos desinstala dos esquemas próprios e nos purifica, nos liberta e nos faz crescer para a santidade.
    Que seja esta, sempre, a nossa certeza. Inter Pars

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