quarta-feira, 22 de abril de 2009

A COROA DE ESPINHOS DE SANTA CATARINA DE SENA


AS DUAS COROAS OFERECIDAS

Com tudo o que se dizia sobre Catarina, da calúnia que sobre ela tinha caído, é natural que se sentisse terrivelmente infeliz. O sentimento de ofensa era ainda maior na medida em que ela tinha sido educada numa casa e numa família onde as conversas frívolas e os comportamentos impuros nunca tinham sido tolerados. Os seus pais e demais irmãos sempre tinham preservado o ambiente livre de palavras obscenas, de comentários jocosos ou indecorosos. A esta educação acrescia o seu sentimento de vergonha, de insatisfação por causa dos comentários e histórias que ouvia sobre as vidas pouco honradas e castas que alguns membros da Igreja levavam. Em cada uma dessas histórias era a Igreja, o corpo do seu Esposo, que era atacado e denegrido, e isso não podia deixar Catarina indiferente.
Infeliz por tudo o que se dizia dela e de outros relativamente à pureza de vida e costumes, orou no seu intimo a Deus e com lágrimas pediu-lhe: “Meu Todo-Poderoso Senhor, meu Esposo Amado, vós sabeis quanto delicada é a reputação de uma virgem, e com que cuidados as vossas esposas a devem guardar sem mancha. É por essa razão que confiastes a São José a vossa gloriosa Mãe. Vós conheceis os esforços que faz o pai da mentira para me afastar do que me faz empreender o vosso amor; socorrei-me pois, meu Senhor e meu Deus, uma vez que vós sabeis que sou inocente, e não permitais que a antiga serpente vencida pela vossa Paixão, prevaleça contra mim”.
Estava assim em oração quando teve novamente uma visão, na qual o Salvador do mundo lhe apareceu com uma coroa de jóias na mão direita e uma coroa de espinhos na mão esquerda. Disse-lhe então: “Minha filha bem amada, fica a saber que é necessário que tu tenhas uma a seguir à outra, escolhe portanto a que preferes usar agora. Se escolheres a coroa de espinhos para esta vida, eu guardarei a preciosa para a outra vida; mas se escolheres a coroa preciosa terás de usar a de espinhos depois da morte”.
Respondeu-lhe Catarina: “Meu Senhor, desde há muito tempo que renunciei à minha vontade e prometi seguir unicamente a vossa, por isso não tenho outra escolha a fazer; mas se quereis que responda, digo-vos que nesta vida quero ser conforme à vossa Paixão e que a minha satisfação será de sofrer sempre por vós”.
Enquanto dizia isto, Catarina agarrou avidamente a coroa de espinhos e colocou-a com toda a força sobre a sua cabeça, experimentando a dor dos espinhos na carne. Mesmo depois da visão Catarina continuou a sentir vivamente as feridas provocadas pela coroa de espinhos.
Face a esta atitude disse-lhe o Senhor: “Todas as coisas estão no meu poder e se permiti que este escândalo caísse sobre ti, posso-o fazer acabar num instante. Termina a obra que começastes, não cedas ao demónio que quer impedir-te de fazer o bem. Eu vou dar-te sobre ele uma vitória tão grande que tudo o que ele teceu contra ti se virará contra ele e servirá para a tua glória”.
Face a estas palavras Catarina retomou a sua actividade, o seu serviço, cheia de coragem e vivificada pelas palavras do seu Amado Esposo.

É este acontecimento, esta visão que dá os elementos iconográficos para a identificação de Santa Catarina de Sena, pois a coroa de espinhos com que é representada tem por base esta visão e diálogo com o Deus.

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