domingo, 26 de abril de 2009

HOMILIA DO III DOMINGO DO TEMPO PASCAL

Meus irmãos

O Evangelho deste terceiro domingo da Páscoa começa com a referência ao episódio de Emaús, como os discípulos, que se afastavam de Jerusalém, foram capazes de reconhecer Jesus ao partir do pão. Sabemos pelo Evangelho, que imediatamente regressaram a Jerusalém para contar o sucedido aos outros Apóstolos.
Podemos imaginar a surpresa, e até alguma decepção, quando ao chegar e ao contar o que lhes tinha sucedido se deram conta que não tinham sido os únicos privilegiados com a manifestação de Jesus ressuscitado, também a Pedro o Senhor tinha aparecido.
É no momento em que partilham esta alegria dos encontros, da narração do inimaginável, do inaudito e inacreditável que Jesus se faz presente no meio deles. Como lhes tinha prometido, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome eu estarei no meio deles, Jesus manifesta-se-lhes como presente e vivo entre eles.
É um momento de grande alegria, mas também de temor e estupefacção. Alegria por o voltarem a ver, por o terem presente; temor porque ainda não compreendiam toda a dimensão da realidade que se lhes apresentava diante dos olhos, afinal o que era aquilo que eles viam. O facto de terem as portas fechadas e Jesus aparecer no meio deles aumentava ainda mais este temor e o sentimento de estupefacção, pois só os fantasmas têm essa capacidade de atravessar paredes e portas fechadas.
Esta aparição, bem como todas as outras que os Evangelhos nos relatam, face a este clima de temor e incredulidade, manifesta a necessidade que os discípulos tinham de uma formação, de um aprender, do que de facto se estava a passar, quem de facto era aquele que se lhes aparecia e apresentava. As aparições de Jesus durante o tempo pascal, até à Ascensão, com a oferta do seu corpo para tocar, com a comida de que se serve e toma com eles, manifestam essa formação na nova presença real entre os discípulos. Não era já o Jesus que eles tinham conhecido, mas não tinha deixado de ser o Jesus que de facto eles tinham conhecido e acompanhado, pelo qual tinham deixado as suas vidas rotineiras de pescadores e cambistas.
Esta formação que os discípulos tiveram também nós temos necessidade dela, também nós temos necessidade de aprender e apreender que Jesus não é um fantasma, não é uma figura história revolucionária com dois mil anos de seguidores, não, ele não é isso, Jesus é alguém que está e se faz de facto presente entre nós quando nos reunimos para contar e cantar as maravilhas que Deus operou Nele e através Dele em nós.
Contudo, esta presença de Jesus entre nós pode ser bloqueada, pode ser obstaculizada quando não guardamos os seus mandamentos, como nos diz São João. E frequentemente esquecemo-nos que Jesus nos deixou apenas um mandamento, o do amor, e que na sua perspectiva é uma carga leve e um jugo suave. Como é possível então que tenhamos tanta dificuldade em viver o mandamento do amor de Jesus? Como é possível bloquearmos tanto a presença de Jesus entre nós?
Uma das razões para que isso aconteça, porque isso acontece, prende-se com a nossa fragilidade humana, com as nossas limitações, mas também com a nossa falta de fé, que leva a que não sejamos capazes de ter a atitude de São Pedro, como escutámos na leitura dos Actos dos Apóstolos.
Pedro é um dos discípulos que reconhece Jesus como Messias, mas é também o discípulo que o trai, que o nega no momento em que mais era necessário a Jesus ter a ajuda de algum dos seus. Pedro é o discípulo a quem Jesus vai perguntar se O ama, e vai perguntar insistentemente. Depois destas experiências profundamente humanas, das limitações humanas, Pedro vai estar pronto para testemunhar Jesus e para dar a vida por ele.
No discurso dos Actos dos Apóstolos deste domingo Pedro manifesta-se como um grande orador, como um perfeito anunciador de Jesus Cristo, mas também como um homem com uma grande experiência humana da presença de Jesus na sua vida e na vida dos homens. Por essa razão é capaz de reconhecer e mostrar que o crime que os judeus de Jerusalém cometeram foi por ignorância, foi por desconhecimento e falta da experiência pessoal e relacional com esse mesmo Jesus. Eles tinham ouvido falar dele, não o tinham acompanhado, não tinham experimentado a liberdade do seu mandamento do amor.
E é com base neste mandamento do amor que Pedro convida e apela ao arrependimento e à conversão. O discurso que faz não é de culpabilização, de condenação, bem pelo contrário, fundado no mandamento do amor é um convite a uma nova possibilidade de relação, desta feita não já com o homem Jesus, mas com o Cristo ressuscitado.
Também nós, cada um de nós, pela sua experiência pessoal e eclesial de Jesus deveria poder fazer o discurso de Pedro, deveria poder testemunhar como Pedro, mas mais, deveria poder ter uma relação de liberdade com os outros, uma relação que não se funda no preconceito, na condenação, na culpabilização, mas uma relação de fraternidade e compaixão como Pedro foi capaz de ter.
Para isso, para que tal seja possível, temos que ter presente não só o mandamento do amor que nos foi preceituado, a experiência pessoal de relação com Jesus, mas também as palavras da Carta de São João. Nós temos um advogado junto de Deus a interceder por nós. Se alguém pecar deve ter presente esta oferta e benevolência de Deus, porque Deus sabe do que somos feitos, sabe quais são as nossas limitações e fragilidade.
Isto não valida no entanto que possamos fazer tudo o que nos apetece e nos condena ao pecado. Não é isso que nos é dito, o que nos é dito é que temos junto de Deus alguém que nos conhece e sabe das nossas limitações e condição, mas só podemos usufruir e gozar da sua intercessão, da sua experiência da condição humana limitada e frágil, na medida em que o conhecermos e para tal guardarmos os seus mandamentos.
Como ao grupo dos discípulos, encerrados em casa com medo, surpreendidos pelo que cada um estava a experimentar da ressurreição de Jesus, também Jesus se faz presente entre nós. Certamente não o vemos porque ainda não guardamos verdadeiramente o mandamento do amor, porque ainda não somos capazes, das nossas limitações e frustrações, de retirar o poder para o fazer presente e anunciar.
Que neste tempo pascal aprendamos a fazer Jesus presença viva e força anunciadora do seu amor.

1 comentário:

  1. Frei, muito prazer. Dizendo aqui que fiz uma referência a texto de seu blog no meu, que irá ao ar no dia 29/06, dia de São Pedro no Brasil. Ficarei honrado com a sua visita e, se possível, com a divulgação de meu blog junto ao seu. Forte abraço, obrigado por estar na blogosfera com tão bons textos e obrigado por colaborar indireta ou diretamente com minhas postagens e meu pensamento. Vide, caso queira: www.radioclassica.blogspot.com

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