sábado, 4 de abril de 2009

SOLILÓQUIOS DE SANTA CATARINA



ORAÇÕES E SOLILÓQUIOS DE SANTA CATARINA DE SENA

Quando se publicou em 1496, em Bréscia, a edição latina de “Os Diálogos” foi-lhe acrescentado como apêndice “As Orações e Solilóquios”. Desde essa data quase todas as edições do livro de Santa Catarina comportam esse apêndice.
A tradução latina das orações foi feita pelos discípulos de Santa Catarina, que não só conheciam o pensamento e método da autora, como também a língua vulgar, o dialecto toscano em que Santa Catarina originalmente tinha proferido as orações.
A maioria das orações recolhidas foi composta entre 1378 e 1379, embora se encontrem orações desde 1376 até 1380, ano da morte de Santa Catarina. A época mais fecunda de composição corresponde aos anos da redacção dos “Diálogos”, pelo que é fácil encontrar uma proximidade temática e espiritual.
Frei Bartolomé Dominici narra como habitualmente se procedia à recolha e fixação da oração, procedimento determinado pela própria Santa Catarina depois de um arrebatamento.
Recebida a Eucaristia o seu espírito elevava-se de tal modo a Deus que perdia o uso dos sentidos, e deste modo permanecia insensível durante três horas ou mais. Com frequência, também em êxtase, falando com Deus, proferia com voz clara profundas e devotas orações, as quais na sua maior parte foram transcritas palavra por palavra; algumas por mim e muitas por outros, quando ela, como se disse, as pronunciava com voz clara e distinta”.
Em 12 de Agosto de 1379, dia em que se celebrava a Oitava da Festa de São Domingos, estando em Roma, compôs a oração “A Imagem Divina”, que apresentamos.

“A IMAGEM DIVINA”
Oh alta e eterna Divindade, incompreensível e inestimável Amor!
Dizes, Pai Eterno, que o homem que se olha a si mesmo Te encontra dentro dele, uma vez que foi criado à tua imagem e semelhança. Tem memória, para se recordar de Ti e dos teus benefícios, participando desta forma no teu poder; tem entendimento, para conhecer-te e conhecer a tua vontade, participando da sabedoria do teu Filho Unigénito, Nosso Senhor Jesus Cristo; e tem a vontade, para amar-te, participando da clemência do Espírito Santo. Assim, não só criastes o homem à tua imagem e semelhança, como também há em Ti semelhança com o que ele é, e deste modo estás nele e ele em Ti.
Não te conheci em mim, Deus; nem a mim em Ti, Deus Eterno. Esta é a ignorância dos néscios que Te ofendem, porque se compreendessem não poderiam menos que amar a Deus. Esta ignorância procede da privação da luz da graça, e a privação provém do amor próprio sensitivo. Tal é a semelhança entre um e outro, que quando não se amam se apartam da sua própria natureza.[1]
[1] Cf. OBRAS DE SANTA CATALINA DE SIENA, Edição preparada por José Salvador y Conde. Madrid, BAC, 2007, 491-492.

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