terça-feira, 21 de abril de 2009

SANTA INÊS DE MONTE PULCIANO


SANTA INÊS DE MONTE PULCIANO
NO CONVENTO DE SÃO PAULO DE ALMADA

Na igreja do antigo convento dominicano de São Paulo de Almada, hoje Seminário da Diocese de Setúbal, encontra-se um painel de azulejos que ilustra um dos episódios da vida de Santa Inês de Monte Pulciano.
Através do relato hagiográfico que nos faz frei José de Lima no Agiológio Dominico, podemos compreender o painel, e apercebermo-nos da origem de mais um dos elementos iconográficos desta santa dominicana, o fio com a pequena cruz. Eis o que nos diz o texto e que a fotografia anexa ilustra.

Numa noite da Assunção da Rainha do Céu, contemplava ela as festas e alegrias que neste triunfo fez a celestial Jerusalém, e como a Soberana Imperatriz foi coroada da Santíssima Trindade.
E foi tal o desejo que teve de se achar presente que pediu com eficácia à mesma Senhora que ou a conduzisse àquela glória ou, se não era ainda tempo, lhe mostrasse o Divino Infante, que basta para fazer Céu da mesma terra.
Quis a suprema bondade satisfazer os empenhos da sua serva, e permitiu fosse cercada de repentina luz, que excedendo a do sol servia de manto à Mãe de misericórdia, a qual aparecendo-lhe com o amado Filho nos braços encheu de tanta doçura a alma desta santa, que não podendo concentrá-la no peito caiu sem sentidos por terra.
Chegou a ela a benigníssima Rainha e tocando-lhe com a mão lhe infundiu celestial vigor e lhe mandou que se levantasse.
Obedeceu Inês e posta de joelhos diante da soberana Princesa recebeu nos braços o menino. Vendo-se com tão preciosa dádiva a pôs por jóia ao peito, apertou-o com tais extremos e recostou-o sobre o coração com tais afectos que parecia outro Simeão nas súplicas. Fazia contratos com ele que, ou livrando-a das mortais prisões lhe levasse a alma, ou se a queria viva ficasse em sua companhia.
Nestes colóquios amorosos se deteve um bom espaço, porém vendo que era forçoso entregá-lo à mãe, lhe disse: “Ora, Senhor, já que é de vosso agrado ausentar-vos e deixar-me, dai-me ao menos em sinal do vosso amor a prenda que mais vos custou nesta vida mortal, deixai-me a vossa cruz”.
Apenas proferiu estas palavras, quando por piedoso furto lhe roubou uma pequena cruz que o mesmo Menino tinha pendurada ao pescoço em um delicado fio, e depois de a retirar restituiu o fio à Mãe, que sorrindo do devoto roubo mostrou que não lhe desagradava.
Neste tempo desapareceu a celestial visita e Santa Inês caiu de novo com mortal acidente. Acharam-na as religiosas neste estado e com a cruzinha fechada na mão, a qual ainda hoje se mostra no Convento de Monte Puliciano
.”[1]

[1] LIMA, Frei Manuel de – Agiológio Dominico, Tomo II. Lisboa, Officina de António Pedrozo Galrram, 1710, 97.

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