quinta-feira, 2 de abril de 2009

FESTA DOS ESTIGMAS DE SANTA CATARINA


FESTA DOS ESTIGMAS DE SANTA CATARINA DE SENA
1 DE ABRIL

No antigo calendário litúrgico da Ordem dos Pregadores, o primeiro dia de Abril era dedicado à Festas das Chagas de Santa Catarina de Sena.
Como diz Frei José da Natividade no “Agiológio Dominico” podia consagrar-se todo o mês de Abril a Santa Catarina de Sena, porque se o mês começa com a festa da impressão dos estigmas, ele termina com a festa da sua memória e acções. Nós aqui vamos dedicar-lhe este mês de Abril, começando por apresentar um texto do século XVIII sobre o acontecimento que deu origem à festa.

“Corria o ano do Senhor de 1370, e estando a nossa Santa em 18 de Agosto a ponto de comungar, abismada no profundo caos do seu conhecimento próprio, levada dos afectos que lhe fomentou a consideração com que a Divina Bondade, mediante aquele sacramento de Amor se inclina a entrar na tosca habitação de um peito humano, disse com extraordinário fervor: Não mereço, não mereço, meu Deus e Senhor, que Vós entreis em uma casa tão indigna, como é o meu coração; e ouviu que o Senhor lhe respondia: Se te falta merecimento para Eu entrar em ti, sou Eu digno de que tu entres em Mim.
Acabou de comungar abrasando-se em ânsias e afectos; e então experimentou uma transformação maravilhosíssima de amor, parecendo-lhe que as duas almas, a do seu Senhor e a sua, entravam reciprocamente uma na outra, ao modo com que a esponja entra na água, e a água na esponja.
Tornou para sua casa com muito custo, porque não se atrevia a sair daquele lugar, que era o especioso centro para onde propendiam todas as sua inclinações; e vendo que em um dia de tantos favores tinham bom cabimento as suas petições, com que de contínuo instava a sua Divina Majestade pelo bem espiritual, e temporal do seu próximo, dirigiu agora as suas rogativas a beneficio principalmente de seu Confessor (que a este tempo era o Padre Frei Tomás de Sena) suplicando ao Pai das misericórdias que se dignasse de o fazer um seu grande servo, inflamando-o nas invencíveis chamas do seu Amor, e admitindo-o ao felicíssimo grémio dos seus escolhidos.
Estava o mesmo Padre àquele tempo na igreja bem descuidado, quando se sentiu de repente comovido de uns toques do Espírito Santo, os mais fortes e extraordinários que se podem imaginar. Parecia-lhe ao bom religioso que lhe tinha caído aquela bênção de David, que pedia a Deus que lhe introduzisse novamente outro coração, e outro espírito para o amar com inocência e rectidão; e pasmava de ver esta repentina metamorfose não sabendo a que causa a referisse.
Mas pouco tempo durou esta confusão, porque brevemente soube o motivo da boca da nossa grande Santa: O ansioso desejo (lhe disse ela) que eu tenho do maior aproveitamento de Vossa Paternidade me empenhou a instar a meu Adorado Esposo para que se dignasse de lhe dar a Vossa Paternidade aquelas sólidas virtudes por onde se chega ao logro da sua maior amizade, fazendo-o assim digno de ser escrito no livro da Vida. Dignou-se o mesmo Senhor, pela sua infinita Bondade condescender com os meus desejos, prometendo-me que Vossa Paternidade alcançaria a felicidade da salvação, e para que eu sempre conservasse a memória deste alto benefício me penetrou, em penhor da sua Palavra, com um dos seus cravos a minha mão direita, deixando-me no meio dela impressa (ainda que invisível) uma das suas sacratíssimas Chagas, cuja dor é impossível de explicar.
Com este favor principiou o Divino Amante a preveni-la para os excessos de amor, com que passados mais de quatro anos, a enobreceu com a Impressão de todas as suas cinco gloriosas Chagas; porque era muito próprio que uma esposa tão benemérita fosse em tudo semelhante ao seu protótipo”
[1].
[1] NATIVIDADE, Frei José da – Agiologio Dominico, Tomo Sexto. Lisboa, Na Officina de Manoel Soares, 1750.

Sem comentários:

Enviar um comentário