O FRUTO DA VITÓRIA SOBRE SI
O episódio da vida de Santa Catarina de Sena que a seguir vamos relatar parecer-nos-á repugnante, escandaloso, até com uns certos laivos de erotismo ou fetichismo. Contudo, e apesar dessas possíveis leituras, não podemos deixá-lo de lado, não o podemos retirar da Legenda que o Beato Raimundo de Cápua escreveu. E não o podemos fazer porque ele se relaciona com a visão que Santa Catarina teve a seguir e que a imagem anexa ilustra.
Catarina cuidava de uma pobre doente que ninguém queria cuidar, uma doente com um cancro no peito e que apesar de todo o seu cuidado não deixava de piorar.
Um dia em que a pobre serva de Deus descobriu a úlcera para tratar dela, o odor infecto foi tão forte que o seu corpo se revoltou. O estômago ficou cheio de náuseas e o seu coração não deixou de ficar perturbado.
Esta repulsa que sentiu pela doente e a sua ferida foi ainda mais dolorosa na medida em que acontecia num momento da sua vida em que tinha já dado provas de domínio e poder sobre o seu pobre corpo. Sentiu por isso uma santa cólera contra si própria e para não perder o que tinha ganho recolheu numa bacia a água de tratar a chaga viva da doente e bebeu-a de uma só vez, dizendo: Viva Deus, viva o meu Esposo, amor da minha alma, tu saberás o que faço por tua honra!
Na noite a seguir a esta vitória, e enquanto rezava apareceu-lhe o Salvador dos homens, Jesus Cristo. Mostrando-lhe as cinco chagas recebidas pela salvação disse-lhe: Minha amada, travastes por mim grandes combates, e com a minha ajuda saístes vitoriosa. Nunca como agora me fostes tão querida e agradável, mas foi hoje que vencestes o meu coração. Não só desprezastes os prazeres sensuais, não só suportastes a opinião contrária dos homens e a sua calúnia, como vencestes a tua natureza bebendo com alegria, por amor de mim, uma bebida horrível. Assim, e porque fizestes isso acima das tuas forças e natureza, quero dar-te um licor superior a qualquer natureza.
Agarrando no pescoço de Catarina aproximou-a da sua chaga do peito e disse-lhe: Bebe minha filha esta bebida que corre do meu lado, ela inebriará a tua alma de doçura e inundará o teu corpo que tu desprezastes por mim.
Catarina colocou a sua boca sobre a chaga e bebeu da fonte da vida, com abundância e avidez, mas sem se saciar e sem satisfazer todo o seu desejo. Quando o Senhor a afastou ela estava saciada mas ao mesmo tempo ávida, porque a fonte da vida apenas sacia aumentando o desejo.
Oh inefável misericórdia do Senhor, vós sois doce para aqueles que vos amam, vós sois delicioso para aqueles que vos provam; mas quando vos dais em abundância a alguém, como deve esse alguém desejar largos momentos de intimidade e deve incorpora-vos na sua substância.
Senhor, eu e os outros que não temos a experiência, não podemos compreender; os cegos não podem julgar a beleza das cores e os surdos o charme da harmonia. Para não sermos ingratos nós contemplamos e admiramos, na medida em que podemos, as grandes graças que concedeis aos vossos santos. E ainda que eles nos ultrapassem nós damos graças à Vossa Majestade na medida das nossas forças.
O episódio da vida de Santa Catarina de Sena que a seguir vamos relatar parecer-nos-á repugnante, escandaloso, até com uns certos laivos de erotismo ou fetichismo. Contudo, e apesar dessas possíveis leituras, não podemos deixá-lo de lado, não o podemos retirar da Legenda que o Beato Raimundo de Cápua escreveu. E não o podemos fazer porque ele se relaciona com a visão que Santa Catarina teve a seguir e que a imagem anexa ilustra.
Catarina cuidava de uma pobre doente que ninguém queria cuidar, uma doente com um cancro no peito e que apesar de todo o seu cuidado não deixava de piorar.
Um dia em que a pobre serva de Deus descobriu a úlcera para tratar dela, o odor infecto foi tão forte que o seu corpo se revoltou. O estômago ficou cheio de náuseas e o seu coração não deixou de ficar perturbado.
Esta repulsa que sentiu pela doente e a sua ferida foi ainda mais dolorosa na medida em que acontecia num momento da sua vida em que tinha já dado provas de domínio e poder sobre o seu pobre corpo. Sentiu por isso uma santa cólera contra si própria e para não perder o que tinha ganho recolheu numa bacia a água de tratar a chaga viva da doente e bebeu-a de uma só vez, dizendo: Viva Deus, viva o meu Esposo, amor da minha alma, tu saberás o que faço por tua honra!
Na noite a seguir a esta vitória, e enquanto rezava apareceu-lhe o Salvador dos homens, Jesus Cristo. Mostrando-lhe as cinco chagas recebidas pela salvação disse-lhe: Minha amada, travastes por mim grandes combates, e com a minha ajuda saístes vitoriosa. Nunca como agora me fostes tão querida e agradável, mas foi hoje que vencestes o meu coração. Não só desprezastes os prazeres sensuais, não só suportastes a opinião contrária dos homens e a sua calúnia, como vencestes a tua natureza bebendo com alegria, por amor de mim, uma bebida horrível. Assim, e porque fizestes isso acima das tuas forças e natureza, quero dar-te um licor superior a qualquer natureza.
Agarrando no pescoço de Catarina aproximou-a da sua chaga do peito e disse-lhe: Bebe minha filha esta bebida que corre do meu lado, ela inebriará a tua alma de doçura e inundará o teu corpo que tu desprezastes por mim.
Catarina colocou a sua boca sobre a chaga e bebeu da fonte da vida, com abundância e avidez, mas sem se saciar e sem satisfazer todo o seu desejo. Quando o Senhor a afastou ela estava saciada mas ao mesmo tempo ávida, porque a fonte da vida apenas sacia aumentando o desejo.
Oh inefável misericórdia do Senhor, vós sois doce para aqueles que vos amam, vós sois delicioso para aqueles que vos provam; mas quando vos dais em abundância a alguém, como deve esse alguém desejar largos momentos de intimidade e deve incorpora-vos na sua substância.
Senhor, eu e os outros que não temos a experiência, não podemos compreender; os cegos não podem julgar a beleza das cores e os surdos o charme da harmonia. Para não sermos ingratos nós contemplamos e admiramos, na medida em que podemos, as grandes graças que concedeis aos vossos santos. E ainda que eles nos ultrapassem nós damos graças à Vossa Majestade na medida das nossas forças.
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