Uma vez mais, aproveitando a oportunidade de uma festa, Jesus sobe à cidade de Jerusalém. E por coincidência, ou não, passa junto da piscina de Betsatá, onde uma multidão de doentes, coxos, paralíticos, cegos, e outros, esperam a agitação das águas para poderem alcançar uma cura. A tradição dizia que o primeiro a entrar nas águas borbulhantes ficaria curado dos seus males.
Uma vez mais Jesus vem ao encontro daqueles que padecem e neste dia em particular de um homem que jaz paralítico sem ter ninguém que o ajude a entrar na piscina em primeiro lugar para poder alcançar a cura. A compaixão de Deus vem ao encontro da possibilidade de manifestação junto da humanidade.
São João não se esquece de descrever a piscina com os seus cinco pórticos, nem de referir os anos em que o homem jaz enfermo, há trinta e oito anos. Não são meros pormenores porque no Evangelho de São João não há pormenores acidentais, há uma verdadeira intenção ao apresentar os pórticos e a idade da doença, uma vez que ajudam a enquadrar o milagre que Jesus realiza e a história da salvação que transparece.
Assim, podemos perceber que os cinco pórticos pelos quais se acede à piscina e à cura são os cinco livros da Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia, considerados com o fundamento intocável de toda a fé e a expressão da aliança de Deus. O homem doente, e que jaz à beira da piscina sem conseguir a cura, é como o povo que durante trinta e oito anos andou errante pelo deserto sem conseguir entrar na terra prometida.
A circunstância deste acontecimento proporciona assim a possibilidade de manifestar a libertação que Jesus vem operar, as novas vias de acesso à cura e à salvação. Os cinco pórticos não eram suficientes para a entrada nas águas da salvação, havia a necessidade de uma outra entrada, de uma outra ajuda, esse alguém que o doente espera para conseguir entrar nas águas borbulhantes.
Neste sentido, não podemos deixar de ter presente toda a carga simbólica da água presente no Evangelho de São João, a água que Jesus pede e oferece à Samaritana, a água que brota do lado aberto, a água das piscinas que não só purificam como curam e são símbolos da água viva onde todos somos mergulhados para alcançar a vida eterna.
Ao curar este paralítico que jaz junto à piscina Jesus manifesta-se como a superação das águas terapêuticas, é a nova possibilidade, o novo pórtico para a salvação, aquele que pode curar o homem definitivamente e superar o tempo de espera de que a antiga Aliança vivia.
À cura segue-se a ordem de carregar com a enxerga, com o catre onde jazia doente, e o regresso a casa num dia de sábado. Uma vez mais num dia de sábado, o que inevitavelmente gera a polémica e o questionamento.
Contudo, este homem que carrega a sua enxerga não está a fazer nenhuma mudança, não está a infringir nenhum preceito do descanso, bem pelo contrário nesse dia dedicado a Deus carrega com o sinal da sua vitória, da libertação de que tinha sido objecto. Aquela enxerga não é já um fardo mas um troféu, um sinal bem visível da vitória do bem sobre o mal, da vitória de Deus sobre a paralisia da humanidade incapacitada por si só de entrar nas águas da salvação.
Também a nós o Senhor nos ordena que carreguemos o nosso catre, a nossa enxerga, depois de curados pela sua graça, esse catre que é o nosso próprio corpo, a nossa própria história com as suas limitações e fragilidades. E ao carregá-lo devemos fazê-lo com esse sentido de troféu, na alegria da vitória que nos foi alcançada, porque só assim manifestaremos verdadeiramente e em toda a sua dimensão a plenitude da salvação de que somos beneficiários.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarA Meditação que partilha connosco centrada numa das passagens do Evangelho segundo São João (5,2), é um texto profundo que nos exorta, que nos salienta que não somos auto-suficientes, que precisamos do amor, da compaixão, do projecto de salvação revelado por Deus.
Como nos diz no texto ...” Ao curar este paralítico que jaz junto à piscina Jesus manifesta-se como a superação das águas terapêuticas, é a nova possibilidade, o novo pórtico para a salvação, aquele que pode curar o homem definitivamente e superar o tempo de espera de que a antiga Aliança vivia.
À cura segue-se a ordem de carregar com a enxerga, com o catre onde jazia doente, e o regresso a casa num dia de sábado.” (…)
…” Aquela enxerga não é já um fardo mas um troféu, um sinal bem visível da vitória do bem sobre o mal, da vitória de Deus sobre a paralisia da humanidade incapacitada por si só de entrar nas águas da salvação.”…
Carregando a nossa enxerga,” esse catre que é o nosso próprio corpo, a nossa própria história com as suas limitações e fragilidades”, peçamos humildemente ao Senhor a Sua graça, compaixão, para vivermos a “plenitude da salvação de que somos beneficiários”.
Obrigada Frei José Carlos pela partilha. Bem haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva