quinta-feira, 7 de abril de 2011

Se acreditásseis… (Jo 5,47)

A relação de Jesus com os seus contemporâneos, com os discípulos, com os fariseus e os escribas, afinal com o povo judeu não foi fácil, nunca foi fácil. Até mesmo com a família, pelos dados dos Evangelhos, a relação não foi fácil.
As curas em Jerusalém do cego de nascença e do paralítico que se encontrava junto à piscina geraram uma acesa polémica e assim Jesus vê-se impelido a defender a sua acção, uma vez que os seus actos subvertiam os preceitos da lei religiosa e colocavam em causa a própria instituição à sombra da qual vivia a cidade de Jerusalém, o templo.
Jesus não procura provas, justificações para os seus actos, mas apresenta aos judeus os testemunhos que confirmam e aferem da veracidade da sua pessoa e da justeza dos seus actos. Neste sentido refere-se a João Baptista que eles tinham procurado no deserto e tinha dado testemunho de Jesus, refere-se também aos seus milagres e às curas que testemunhavam do seu poder, e por fim refere-se à lei de Moisés, que eles usavam para o acusar e condenar, mas que de facto apenas dava testemunho da sua pessoa e da sua acção.
Contudo isto era tudo relativo, porque o que confirmava e afiançava a sua natureza e o seu poder, a liberdade em relação a tudo, era a sua relação com o Pai, essa intimidade que vivia e da qual tudo o que fazia dava testemunho e era sinal vivo. Portanto, qualquer reconhecimento verdadeiro da sua pessoa e da sua palavra não podia deixar de se fundamentar nesta realidade, nesta sua relação com o Pai.
Acreditar com Jesus e nas palavras de Jesus é assim confiar na sua palavra, nessa manifestação da sua relação com o Pai e que só quem aprofunda na intimidade com ele pode descobrir e partilhar. Não são os sinais exteriores, ainda que ajudem e nos possam servir de indicadores, mas é essa relação vivida íntima e fundamentalmente.
Acreditar em Jesus através desse aprofundamento implica antes de mais a percepção de se saber um outro, uma face de um outro disposta ao diálogo, e também uma grande capacidade de escuta, ou pelo menos uma forte tentativa de escutar o que nos diz a cada momento, perante cada situação da nossa vida.
Nesta caminhada quaresmal coloca-se assim o desafio da fé em Jesus Cristo, uma tentativa de resposta ao seu apelo, que alcançaremos na medida em que mergulharmos cada vez mais na sua intimidade e nos situarmos como interlocutores habilitados e reconhecidos.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao abordar o Evangelho do dia (Jo 5,47), recordando as dificuldades da relação de Jesus com o povo judeu, lembra-nos que conquanto Jesus tivesse apresentado aos judeus os testemunhos que “confirmam a veracidade da sua pessoa e a justeza dos seus actos”, ... “isto era tudo relativo, porque o que confirmava e afiançava a sua natureza e o seu poder, a liberdade em relação a tudo, era a sua relação com o Pai, essa intimidade que vivia e da qual tudo o que fazia dava testemunho e era sinal vivo.”
    E recorda-nos o que significa “Acreditar com Jesus e nas palavras de Jesus” … “confiar na sua palavra, nessa manifestação da sua relação com o Pai e que só quem aprofunda na intimidade com ele pode descobrir e partilhar. (…) … “relação vivida íntima e fundamentalmente.”
    Obrigada pelo convite e pelo desafio que nos deixa para que aproveitemos esta caminhada quaresmal para estarmos atentos, à escuta, para aprofundarmos a nossa relação, o diálogo, com Jesus Cristo, cientes que é um longo caminho a percorrer.
    Bem haja, Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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