Foi no dia cinco de Abril de 1419 que faleceu na cidade de Vannes, em França, o grande pregador dominicano frei Vicente Ferrer. Natural de Valência, Espanha, onde nasceu em 1350, entrou no convento da Ordem dos Pregadores com dezassete anos e depois de terminada a formação dedicou-se ao ensino da filosofia e da teologia no seu convento.
Coube-lhe viver num momento crítico da história da Igreja como foi o do Cisma de Avinhão. Por isso o encontramos envolvido entre 1380 e 1390 não só em missões diplomáticas de D. João I, rei de Aragão, como junto do Cardeal Legado de Pedro de Luna.
Ainda que envolvido nestas questões politicas nunca deixou de exercer a sua principal missão, a da pregação, e por isso o encontramos nestas viagens a pregar nos mosteiros, nas igrejas, junto dos bispos, nos descampados e nas praças das cidades.
A partir de 1393 dedica-se exclusivamente a este ministério e missão, percorrendo como “legado a latere de Cristo” quase todas as regiões da Europa ocidental, numa peregrinação incansável pelos caminhos europeus a favor da unidade e da paz da Igreja, da conversão aos valores do Evangelho.
Em 1454, um ano antes da sua canonização pelo Papa Calisto III, foram iniciados em Vannes, Toulouse e Avinhão na França, e em Nápoles na Itália os processos de averiguação de testemunhas para a sua canonização. É um desses testemunhos, o de D. Berengário Alberti, Bacharel em Decretos e Cónego da igreja de Toulouse, que transcrevemos, mostrando o poder da palavra de São Vicente e a o seu impacto junto daqueles que o puderam conhecer.
“Interrogado sobre os frutos da pregação do Mestre Vicente, feita com caridade, disse que lhe tinha ouvido muitos sermões, quase todos os que tinha feito publicamente em Toulouse, com tanta excelência, benignidade e doçura, que todos, fossem de que nação ou língua fossem, de ambos os sexos, e tanto pequenos como adultos, o escutavam com grande silêncio e atenção, e entendiam perfeitamente ainda que falasse no seu idioma vulgar catalão.
E era muito eficaz, as suas palavras suaves e muito salutares, os seus mandatos e ordens se cumpriam. Todos voluntariamente e livres acudiam aos seus sermões. A sua pregação era frutuosíssima, a passos veloz e incendiada de todo o fervor de devoção. Tanto e de tal maneira que todos asseguravam que as suas palavras eram totalmente divinas e nunca tinham sido ouvidas por homens vivos nem pensadas pelos muito letrados, que também as não podiam contradizer.
Ninguém podia dizer ‘eu não obedecerei às suas recomendações’, porque a sua palavra era tão eficaz e a sua pregação tão penetrante e cheia de caridade e devoção que ninguém podia resistir. Todo o povo pensava que era um anjo enviado por Deus, que falava ao seu povo expondo e declarando os mistérios e o escondido, o não pensado e inaudito da Escritura Santa ou mundana, civil ou canónica.” [1]
[1] Processo de Canonización de San Vicente Ferrer, Tradução de Sebastían Fuster Perelló op, Valência, Ajuntament de Valência, 2007, 95.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por partilhar connosco um texto tão interessante sobre São Vicente Ferrer, no dia em que a Igreja e particularmente, a Ordem dos Pregadores celebra a sua Memória.
O testemunho de D. Berengário Alberti recolhido aquando do processo de averiguação de testemunhas para a sua canonização é um relato maravilhoso, que nos entusiasma, que nos leva a reflectir sobre o conteúdo dos mesmos, que nos deixa antever o espírito de abertura de São Vicente e que nos mostra como afirma ...” o poder da palavra de São Vicente e o seu impacto junto daqueles que o puderam conhecer.” Permita-me que transcreva as últimas linhas do testemunho em apreço, com que terminha o texto …” Todo o povo pensava que era um anjo enviado por Deus, que falava ao seu povo expondo e declarando os mistérios e o escondido, o não pensado e inaudito da Escritura Santa ou mundana, civil ou canónica.””
Do pouco que conheço, Frei José Carlos, da Ordem dos Pregadores, considerando que todos os irmãos na sua diversidade são necessários e importantes para a riqueza da Ordem e para nosso bem, é inegável que houve, há e haverá irmãos que se destacam pelo poder da palavra e do seu impacto junto daqueles que a vida lhes proporcionou a oportunidade de conhecê-los, escutá-los, lê-los.
Bem haja, Frei José Carlos.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por esta bela partilha,deste nosso santo dominicano,que leio com muito intesse e tenho gosto de saber algo de mais sobre os nossos santos,a pregação,o seu testemunho de vida ajuda-nos na nossa caminhada para o Pai.
Bem haja,Frei José Carlos,esta ilustração é bela,gostei muito.
Um abraço fraterno.
AD