Maria Madalena é uma figura apaixonante e na manhã de Páscoa deixa-nos ainda mais apaixonados na persistência da sua espera e da sua busca. Soubéssemos e tivéssemos nós a força dela para permanecer junto ao túmulo.
Porque Maria Madalena, depois de ter avisado o discípulo amado e Pedro que o sepulcro estava vazio, e depois destes o terem confirmado, regressa ao ponto de partida, regressa ao sepulcro vazio e aí fica à espera.
Num gesto de busca e confirmação, do que tanto Pedro como o discípulo amado tinham visto, Maria Madalena debruça-se para o interior do sepulcro, imitando esse gesto intimo e amante do discípulo amado de prosternação, de adoração de uma realidade invisível.
E é nessa busca interior, nesse olhar solicitante, entre lágrimas, que Maria Madalena vislumbra dois anjos brancos, colocados um à cabeceira e outro aos pés do lugar onde o corpo de Jesus tinha sido colocado. Poderiam ser até uma visão, uma visão desses dois querubins que de um lado e de outro guardavam e veneravam a Arca da Aliança, mas a palavra que lhe dirigem denuncia a presença de alguém para além de uma visão.
Por que choras, é a pergunta dos anjos, uma pergunta que testemunha que a novidade da ressurreição chegou já aos membros da corte celeste, é já um facto assumido e festejado por todos. E portanto não vale a pena chorar nem procurar entre os mortos aquele que está vivo, aquele que é o Senhor da vida. Nem sequer há um cadáver para procurar, pelo que é entre os vivos que Maria Madalena deve procurar o seu Senhor, que deve converter o seu olhar para o encontrar.
É face a esta recomendação que Maria Madalena se vira para trás, como numa atitude de conversão, pois já não é necessário buscar no sepulcro vazio mas fora dele o Senhor que ama. E nesta conversão, nesta volta o encontro acontece.
Um encontro ainda tingido de incompreensão, pois Maria Madalena continua procurando o morto, enquanto que diante de si se lhe manifesta o Senhor vivo, que ela não reconhece, mas apenas vê como um estranho, um jardineiro que talvez soubesse do lugar para onde tinha sido levado aquele que ela buscava.
São necessárias assim as palavras de Jesus, e de modo muito particular a nomeação do interlocutor para que Maria Madalena descubra a pessoa que tem diante de si e a relação que se fundamenta nesse nome pronunciado, Maria. É um eu e um tu, uma relação que se desvela diante de Maria e a faz voltar-se novamente, ficando assim de frente para o sepulcro vazio, para essa realidade que é necessário olhar com outros olhos.
E então, onde antes Maria não tinha visto mais que um sepulcro vazio e um corpo desaparecido, percebe agora a presença do ressuscitado vitorioso, desse que é capaz de lhe dizer “Maria” em resposta à sua pergunta “onde o colocastes”. É nela que ele está presente, vivo, é nela que tem que o buscar e encontrar, naquilo que viveram juntos e lhes permite dizer Maria e Mestre.
Também os sepulcros vazios das nossas vidas esperam este olhar, este olhar que nasce de um nome e de uma relação, e então poderemos descobrir como também aí, nas nossas falhas, misérias e infidelidades, o Cristo ressuscitado se faz presente com todo o sofrimento que padeceu por nós e com a vitória da ressurreição pelo amor com que nos amou.
Neste sentido soam as palavras do Apocalipse, “eu estou à porta e bato, se alguém me abrir a porta eu entrarei e cearei com ele, e ficarei com ele e ele comigo”. Acorramos a abrir a porta.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e medito no texto que teceu e connosco partilha, profundo, repleto de sentimento e poesia, ao recordar-nos o diálogo entre Maria Madalena, os anjos e Jesus, frente ao sepulcro vazio e que ilustrou com tanta beleza. Permita-me que transcreve algumas passagens do texto que me tocam .
“E é nessa busca interior, nesse olhar solicitante, entre lágrimas, que Maria Madalena vislumbra dois anjos brancos, colocados um à cabeceira e outro aos pés do lugar onde o corpo de Jesus tinha sido colocado.”…
…”E portanto não vale a pena chorar nem procurar entre os mortos aquele que está vivo, aquele que é o Senhor da vida.(…)
É face a esta recomendação que Maria Madalena se vira para trás, como numa atitude de conversão, pois já não é necessário buscar no sepulcro vazio mas fora dele o Senhor que ama. E nesta conversão, nesta volta o encontro acontece.
Um encontro ainda tingido de incompreensão”…(…) São necessárias assim as palavras de Jesus, e de modo muito particular a nomeação do interlocutor para que Maria Madalena descubra a pessoa que tem diante de si e a relação que se fundamenta nesse nome pronunciado, Maria.”
...” É nela que ele está presente, vivo, é nela que tem que o buscar e encontrar, naquilo que viveram juntos e lhes permite dizer Maria e Mestre.”…
“Neste sentido soam as palavras do Apocalipse, “eu estou à porta e bato, se alguém me abrir a porta eu entrarei e cearei com ele, e ficarei com ele e ele comigo”. Acorramos a abrir a porta.”
Que o exemplo de Maria Madalena ajude a reforçar a nossa fidelidade ao Senhor, a procura de Cristo vivo nas nossas vidas, no serviço ao outro, para que sejamos testemunho da Sua Ressureição, da boa nova do Reino de Deus.
Obrigada por esta maravilhosa partilha. Bem haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva