sexta-feira, 29 de abril de 2011

À volta das redes (Jo 21,6)

Ao manifestar-se às mulheres, na manhã da ressurreição, Jesus envia-as a anunciar não só a sua ressurreição aos discípulos, mas também que regressem à Galileia, pois ali se voltarão a encontrar. Não é assim estranho que encontremos no Evangelho de São João os discípulos, alguns discípulos na faina da pesca depois da ressurreição de Jesus. Poderíamos pensar que voltaram ao seu ambiente e aos seus afazeres como lhe foi indicado.
Contudo, a referência aos primeiros discípulos que são chamados, o número de sete que andam nessa pesca, retira-nos desse contexto imediato de regresso à vida corrente e habitual. Há algo mais nesta pesca e neste encontro com Jesus na margem do lago, como uma analepse ao momento da primeira chamada, do primeiro convite ao seguimento.
Seguimento e pesca que podem ser feitas alicerçadas apenas nas nossas forças, na nossa boa vontade e energia. Tal como Pedro também nos podemos lançar na pesca confiantes das nossas forças e da nossa experiência. Pesca que por isso ocorre durante a noite, sem essa luz que raia quando Jesus aparece na margem.
E é perante este Jesus, quase marginal à acção de Pedro, que descobrimos, tal como Pedro descobre, que necessitamos revestir-nos da roupagem da fé na presença de Jesus. Não podemos pescar nem levar a cabo a nossa missão centrados apenas nas nossas capacidades e habilitações, necessitamos da fé na presença de Jesus, no seu esforço ao nosso lado.
João, o discípulo amado, percebe essa presença, em virtude dessa intimidade que mantém com o Senhor, dessa relação que lhe permite vislumbrá-lo nas margens do lago onde somos enviados a pescar. Tantas vezes é nas nossas margens que também descobrimos a presença de Jesus, no insuspeitável da sua presença entre nós e nos irmãos.
E quando fazemos essa descoberta e nos lançamos confiantes nela, sem mecanismos de auto-suficiência ou glorificação, encontramos a possibilidade de uma rede bem cheia, uma boa colheita na messe do Senhor. Bem como essa refeição à nossa espera que o Senhor preparou para nosso fortalecimento e nossa fraternidade, um momento de descanso e encontro com Jesus e com os irmãos.
Necessitamos assim abandonar as nossas redes, os nossos esquemas de prossecução auto-suficiente, para agarrar as redes que o Senhor nos coloca nas mãos e trabalha connosco.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada, por nos salientar que ... “tal como Pedro descobre, necessitamos revestir-nos da roupagem da fé na presença de Jesus. Não podemos pescar nem levar a cabo a nossa missão centrados apenas nas nossas capacidades e habilitações, necessitamos da fé na presença de Jesus, no seu esforço ao nosso lado.”
    E como nos afirma, ...” João, o discípulo amado, percebe essa presença, em virtude dessa intimidade que mantém com o Senhor, dessa relação que lhe permite vislumbrá-lo nas margens do lago onde somos enviados a pescar.”…
    Porém, Frei José Carlos, o que sinto é que para alguns de nós, atingir o estádio de João, o discípulo amado, meta que traçámos e desejamos alcançar, pressupõe um longo processo de transformação, uma longa Caminhada. Mesmo quando existe uma verdadeira fé, é difícil atingir essa relação de intimidade com o Senhor.
    Peçamos ao Senhor que nos fortaleça na fé, e nos dê um coração receptivo ao acolhimento permanente de Jesus, para que saibamos, como nos diz …” agarrar as redes que o Senhor nos coloca nas mãos e trabalha connosco.”
    Obrigada por esta profunda partilha que nos incentiva a não desistir. Bem haja.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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