quinta-feira, 21 de julho de 2011

Àquele que tem dar-se-á e terá em abundância… (Mt 13,12)

O facto de Jesus falar em parábolas à multidão e as razões porque o faz não deixam de ser surpreendentes. Como confidencia aos discípulos, há um interesse em que não vejam nem ouçam o que de facto quer dizer e quer mostrar, como se a profecia de Isaías tivesse uma necessidade intrínseca de se cumprir. Contudo, a eles, discípulos, é dado ver e compreender. Mas será que de facto vêem e compreendem o que testemunham?
Algumas passagens dos Evangelhos, e por vezes até alguma exasperação de Jesus, mostram-nos que não foi bem assim, que os discípulos apesar do que viam e ouviam, apesar da intimidade com Jesus e das explicações em particular, não chegaram a compreender verdadeiramente qual era a missão de Jesus. Os seus interesses esbarravam na simplicidade e na humildade da pessoa e mensagem de Jesus.
Contudo, são eles os felizes, aqueles que podem ser invejados porque vêem e ouvem o que muitos quiseram ouvir e não ouviram, quiseram ver e não viram. Esta felicidade e esta disparidade com a multidão que ouve e vê mas não compreende, resultam afinal não do conhecimento, que mostraram tão pouco ter, mas da abertura à pessoa que fala, do acolhimento que manifestaram a Jesus.
E por isso as palavras de Jesus de que se dará àquele que tem e àquele que pensa que tem até isso lhe será tirado. Aquele que tem abertura à sua pessoa, que o acolhe na sua simplicidade e humildade será cumulado dos dons desse acolhimento e dessa abertura, ainda que não compreenda a verdade que está a acolher, mas na qual se integra pelo mesmo acolhimento e abertura. Pelo contrário, aquele que se recusa a acolhê-lo, que se encerra em si mesmo e nas suas concepções, na sua capacidade intelectual de conhecimento, acabará por perder aquilo que congeminou e arquitectou orgulhosamente porque sem a luz do Espírito esse conhecimento levará a um beco sem saída, a um poço sem fundo.
Neste sentido, e como os discípulos, somos convidados a acolher Jesus, a sua pessoa e a sua novidade, com aquilo que comportam de mistério e de incompreensível, de surpresa que nos abre e a um desejo maior. Podemos saber pouco, conhecer miseravelmente, podemos até ser pobres pecadores, que se reconhecem infiéis, mas a disponibilidade para a abertura dá-nos o que buscamos, a compreensão do possível e a graça do querer continuar.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada pela partilha da Meditação. Que importante interpelar-nos de forma tão directa e, deixar-nos como estímulo as palavras que passo a transcrever ...” Podemos saber pouco, conhecer miseravelmente, podemos até ser pobres pecadores, que se reconhecem infiéis, mas a disponibilidade para a abertura dá-nos o que buscamos, a compreensão do possível e a graça do querer continuar.”…
    O importante, como nos diz, é a nossa relação com Jesus, a abertura para o acolher na sua simplicidade e humildade, o amor que lhe dedicamos, ainda que, muitas vezes, não saibamos compreender a mensagem de Jesus.
    Bem-haja, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, que nos tocam de forma particular, que nos encorajam a prosseguir a Caminhada.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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