sábado, 23 de julho de 2011

Parecer de frei Simão de Távora ao Sermão de São Domingos de frei José de Santa Maria Madalena

Ao deixar o Parecer de frei Simão de Távora, Muito Reverendo Padre Mestre, Presentado na Sagrada Teologia, Consultor do Santo Oficio, à publicação do Sermão do Grande Patriarca São Domingos, da autoria de frei José de Santa Maria Madalena, publicado em Lisboa em 1735 e pregado na igreja do Convento de São Domingos na festa do mesmo Patriarca em 1734, faço-o pela curiosidade da história que refere do Cita Ciluzo.
É uma história, uma fábula, que já mais que uma vez me apareceu nas Celebrações da Palavra no Externato Marista de Lisboa, ainda que sem as referências clássicas que aparecem neste parecer. A sua referência em épocas tão distantes e contextos tão díspares mostra-nos como há valores que são intemporais e fundamentais para a verdadeira formação do homem enquanto homem.

Aprovação do M.R.P.M. frei Simão de Távora da Ordem dos Pregadores, Presentado na Sagrada Teologia, Consultor do Santo Oficio, &c.
Mandou-me Vossa Paternidade Muito Reverenda ler o Sermão, que pregou o Reverendo Padre Presentado frei José de Santa Maria Madalena Director da Venerável Ordem Terceira de nosso Patriarca São Domingos, na festa do mesmo Santo Patriarca, a que assistiu a Venerável Ordem Terceira de nosso Patriarca São Francisco, e me parece muito digno de se imprimir, não só por não conter coisa dissonante à nossa Santa Fé, e bons costumes, mas pela utilidade espiritual, que aos filhos de ambos estes nossos Santíssimos Patriarcas há-de resultar da lição dele: e assim como toda a sua ideia, e assunto com muita novidade, e erudição discursado é dirigido a unir em mutuo amor, e afecto recíproco estas duas Veneráveis Ordens, para lhe não faltar a maior perfeição, que no juízo de São Bernardo na mesma união consiste: Ubi unio, ibi perfectio; assim uniu o autor no seu Sermão o sentencioso dos conceitos com a sólida explicação das escrituras, o elegante do estilo com a agudeza dos pensamentos, a doutrina mais santa com as razões mais convincentes, e mais claras, que me persuado se pode tudo acabar de encarecer com aquele prodigioso sucesso, e singular documento, que refere um douto filho do grande Patriarca Santo Agostinho dera um discretíssimo Cita chamado Ciluzo a seus filhos, para viverem em perpétuo vinculo da mais estreita amizade, mandando-lhe quebrar umas poucas de lanças unidas, e atadas, o que jamais puderam conseguir, e facilmente chegaram a executar em cada uma delas separadas, e desunidas das outras, dizendo-lhes à vista desta natural experiência muito digna de se notar estas misteriosas palavras: Si concordes eritis, validi, invictique manebitis: contrà si desidiis contrahemini, imbecilles eritis, et expugnatu faciles: Conclui o historiador desta sorte: Non potuit Scytha magis scitè rem ob oculos ponere. Do mesmo modo digo eu fazendo juízo deste Sermão, que não só pela sua matéria, mas também pela sua forma não podia o autor magis scité desempenhar o assunto. Este é o meu parecer Vossa Paternidade Muito Reverenda ordenará, o que for servido. São Domingos de Lisboa, 26 de Setembro de 1734. Frei Simão de Távora.”

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada pela partilha do Parecer de Frei Simão de Távora ao Sermão de São Domingos. É um texto interessante, oportuno, com a particularidade como nos salienta da história de Ciluzo a seus filhos. Fez-me recuar algumas décadas, aos serões de inverno da minha infância quando a parábola dos sete vimes era-nos contada e explicada. Pouco mais tarde redescobria-a, magistralmente contada por Trindade Coelho.
    E nos tempos que correm, sem qualquer espécie de moralismo, o que nos salienta, é de grande importância, quando evitamos falar, transmitir valores. ...” há valores que são intemporais e fundamentais para a verdadeira formação do homem enquanto homem”.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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